por Angel Duarte

Entre os casos de violações de direitos socioambientais e humanos denunciados no Tribunal dos Povos contra o Ecogenocídio — realizado no Ministério Público Federal (MPF) no dia 13, durante a COP30 — está o da ativista ambiental e liderança do povo mapuche Julia Chuñil Catricura, de 72 anos.

Até seu desaparecimento, em 8 de novembro de 2024, ela vivia em uma cabana em meio à floresta, em região tropical montanhosa, como ato de resistência e manutenção de vínculos ancestrais. O sumiço ocorreu quando saiu em busca de animais perdidos na mata. Até então, Julia atuava como presidente da comunidade mapuche de Putreguel, na comuna de Máfil, região de Los Ríos, ao sul do Chile.

Sob sua liderança, em 2015, a comunidade ampliou seu território ao retomar terras ancestrais. E até desaparecer, ela mantinha atuação firme na defesa da floresta nativa e das terras originárias. Seu filho, Pablo San Martin Chuñil, relatou ao tribunal que a mãe vinha sendo alvo de ameaças e perseguições devido ao enfrentamento de grupos interessados na exploração da área.

Ele conta que, além de sofrer com o desaparecimento da mãe — ainda sem desfecho — familiares chegaram inclusive a ser tratados como suspeitos. Pablo afirma que a polícia já teria o nome do responsável, mantido sob sigilo para não atrapalhar as investigações. Interceptações telefônicas teriam identificado uma fala dele dando a entender que Julia teria sido queimada viva.

A divulgação dessa informação aprofundou ainda mais a angústia dos familiares, que seguem sem respostas. “Já sofremos a imensa dor de nos perguntar o que aconteceu com ela; imagine o quanto não estamos sofrendo depois disso”, lamentou Pablo.

Sem respostas das autoridades, o caso permanece um doloroso enigma. Como forma de manter a busca visível, Pablo participou do Tribunal dos Povos, cujo júri é composto por representantes de movimentos sociais, povos tradicionais e defensores dos direitos humanos.

Ele também encampou uma verdadeira cruzada por apoio internacional. Organizações indígenas, feministas, ambientais e de direitos humanos no Chile cobram o presidente Gabriel Boric, que afirmou que as buscas continuam. A Corporação para a Promoção e Defesa dos Direitos do Povo (Codepu) e o Instituto Nacional de Direitos Humanos seguem pressionando por diligências. Em janeiro deste ano, houve manifestação em frente ao Palácio de La Moneda exigindo rigor nas apurações. E, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, ativistas chilenas voltaram a questionar: “Onde está Julia Chuñil?”