Destruição dos territórios anda junto da violência contra as mulheres
Célia Xakriabá alerta que a violência segue o mesmo padrão de dominação. E, que sem justiça de gênero, não tem justiça climática
Pati Lima Félix, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30
“Na Marcha Mundial das Mulheres, na Cúpula dos Povos — ou seja, na COP por trás da COP —, ouvi a deputada federal por Minas Gerais, Célia Xakriabá e chorei.”
Em seu pronunciamento, disse que a violência contra os corpos das mulheres está alinhada à violência que devasta a Amazônia. Ambos os fenômenos nascem da mesma matriz: o antropocentrismo dominador que organiza o mundo como hierarquia, não como relação.
Nesse modelo, alguns corpos são vistos como superiores — masculinos, brancos, urbanos — e tudo o que se afasta disso vira território de exploração: mulheres, povos originários, rios e florestas.
Não é coincidência que os territórios mais desmatados sejam também os com altos índices de violência contra as mulheres. Também não é por acaso que as regiões de maior presença de atividades de mineração e agroindústria também registram muitos casos de feminicídio. Trata-se do mesmo regime de poder operando em escalas diferentes.
Quando Célia diz “quem mata a mulher, mata a natureza, mata a humanidade”, descreve um mecanismo de dominação que começa no corpo e se estende ao território.
Um sistema que transforma tudo em recurso: o corpo como alvo de exploração sexual e o território, como alvo de exploração econômica.
Em ato idealizado como parte da Marcha, as mulheres entregaram uma carta à Comissão Interamericana de Direitos Humanos denunciando a situação.
Se as leis ambientais são flexibilizadas para ampliar a exploração, da mesma forma, a legislação de proteção das mulheres também é tratada como algo a ser ignorado.
As mulheres em luta pela defesa de direitos, afirmam com o documento também, que não existe justiça climática sem justiça de gênero, sem justiça social.
No fim, o que Célia fez ali foi lembrar o óbvio: não há futuro possível para a humanidade enquanto mulheres e florestas continuam sendo tratadas como objetos disponíveis para uso e exploração. E por isso eu chorei — chorei porque lembrei de minha mãe e de tantas outras mulheres.