COP 30: Quando só a grama é verde
A gente sabe como as mudanças climáticas afetam o esporte: chuva, enchentes, raios, calor. Mas como o futebol afeta o meio ambiente?
por Paula Cunha
Muitos de nós sabemos como as mudanças climáticas afetam o esporte: chuva, enchentes, raios, calor. Mas como o futebol afeta o meio ambiente? A principal causa das mudanças climáticas são as emissões de carbono resultantes de atividade humana, principalmente pela queima de combustíveis fósseis (fontes de energia não renovável, como carvão mineral, petróleo e gás natural), que são usados para abastecer indústrias, carros e usinas de energia elétrica. Tá, mas como o futebol é emissor de carbono? O esporte mais popular do Brasil tem papel relevante nas emissões de carbono e depende de boas condições climáticas para que possa acontecer. Lembra da decisão em Belém da Supercopa Rei, entre Flamengo e Botafogo, em fevereiro deste ano? O Flamengo vencia por 1 a 0 quando a partida teve que ser interrompida com 15 minutos de jogo por causa de um temporal que alagou o gramado. O jogo foi retomado mais de uma hora depois. E a Copa do Mundo de Clubes que aconteceu nesse ano nos Estados Unidos? Vários jogos foram paralisados por conta de alertas climáticos e as pessoas tinham que se abrigar em áreas cobertas por causa do risco de raios.
Segundo o Greensavers, ‘’as emissões de poluentes da indústria global do futebol equivalem a quase 150 milhões de barris de petróleo.’’ As principais fontes de poluição no esporte vêm das viagens, aéreas e rodoviárias, dos jogadores, equipes e até torcedores, para jogos nacionais e internacionais. Se for um vôo particular, um ‘’jatinho’’, a pegada de carbono é pior. Queima-se muito combustível nesse processo e quanto mais dióxido de carbono for produzido, mais calor será retido na atmosfera da terra e, assim, maior será o aquecimento global. Já pensou em ‘’Quem não gostaria de ter uma presidente que compra um avião e paga todas as despesas para o clube viajar?’’
A construção de novos estádios e centros de treinamento também consome grandes quantidades de recursos e energia, além dos gastos nos dias de jogos. A manutenção desses estádios requer muita energia (para iluminação, aquecimento, arrefecimento). Grandes volumes de água são usados para a irrigação e conservação dos gramados. Os jogos de futebol geram enormes quantidades de lixo com resíduos sólidos especialmente de materiais plásticos de uso único como as garrafinhas de água mineral além e embalagens de alimentos. Você sabe qual é a principal matéria-prima do plástico? O petróleo. Soma-se ainda a produção enlouquecida de materiais esportivos para comercialização: bolas e camisas muitas vezes são feitas de materiais sintéticos produzidos em fábricas, aumentando os danos ao ecossistema. Mais tarde, muitos desses produtos, como os vários modelos de uniformes criados, são descartados e acabam em aterros sanitários e no oceano.
Campeonatos de grande porte, como a Copa do Mundo de 2026 e a Copa do Mundo de Futebol Feminino, que vai ser realizada no Brasil, em 2027, são elementos agressores aceleradíssimos ao envolverem todos os poluentes em quantidades elevadas e em curto espaço de tempo. Repara como a situação fica mais complexa quando você se depara com o patrocínio de grandes empresas ou governos produtores de petróleo e combustíveis fósseis entre os maiores clubes da Europa.
O Brasil é o país do futebol e sede da COP 30,mas ainda mostra pouca disposição para lidar com os efeitos ambientais causados pelo esporte. Apesar de algumas agendas sobre o assunto, não haviam painéis organizados pelo poder público para que medidas fossem debatidas e o tema futebol e o meio ambiente aparece pouco nas programações. O futebol é o maior esporte do mundo: o mais praticado, mais assistido e que mais gera dinheiro e acontece bem em cima de um tapete verde, o gramado. Para continuar, e poder sobreviver, ele precisa ficar mais verde.