Yasmin Henrique, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30

Enquanto a COP30 reúne líderes mundiais para debater soluções para o enfrentamento à crise climática, um fenômeno silencioso vem transformando o mercado de trabalho global: a expansão dos empregos verdes. Mudanças climáticas, desmatamento, escassez de recursos naturais e a crescente conscientização sobre sustentabilidade, têm gerado uma demanda cada vez maior por profissionais capazes de conciliar desenvolvimento econômico com conservação ambiental.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), empregos verdes são aqueles que contribuem para proteger ou restaurar o meio ambiente, promovendo trabalho decente e crescimento econômico. 

Diferentemente do que se imagina, essas carreiras não se restringem a ONGs ou áreas florestais. Abrangem setores como indústria, construção civil, educação, agronegócio, logística, gestão pública e tecnologia.

O mercado reflete esse movimento. De acordo com a pesquisa Global Green Skills Report 2024, do LinkedIn, a participação de vagas relacionadas à sustentabilidade passou de 7,3% em 2023, para 7,7% em 2024, e entre 2015 e 2022 houve um aumento de 38,5% na presença de talentos verdes. Profissionais desse segmento têm taxa de contratação 54,6% superior à média, evidenciando a atratividade do setor.

Pesquisas do Fórum Econômico Mundial indicam que 47% das empresas planejam intensificar esforços para reduzir emissões de carbono, enquanto 41% esperam mudanças organizacionais significativas impulsionadas pela sustentabilidade. 

Já, um estudo da Korn Ferry, revela que 60% da geração millennials se sente inspirada por empresas com políticas ambientais, e 54% considerariam mudar de carreira para atuar em áreas verdes, mostrando como a sustentabilidade se tornou um fator estratégico na atração e retenção de talentos.

Motivações e benefícios

O crescimento das profissões verdes é impulsionado por fatores diversos. Exigências ambientais, como legislações nacionais, acordos internacionais e regulamentações globais, pressionam empresas a adotarem práticas sustentáveis. 

A economia circular e o mercado de carbono também demandam profissionais para gestão de resíduos, energias renováveis, reflorestamento e compensação ambiental.

Além disso, empresas que seguem padrões ESG ganham competitividade e atraem crédito, enquanto consumidores conscientes valorizam organizações comprometidas com o meio ambiente. Startups e empresas de tecnologia impulsionam ainda mais a necessidade de especialistas em soluções sustentáveis.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) ressalta que empregos verdes trazem benefícios, como o aumento da eficiência no uso de energia e matérias-primas, redução de emissões de gases de efeito estufa, minimização de resíduos e poluição, proteção de ecossistemas e contribuição para a adaptação às mudanças climáticas.

Formação e empregos verdes por setor

Não existe um perfil único para atuar em carreiras verdes, pois cada função exige especialização no setor correspondente. Para se preparar, é recomendável cursar áreas como:

  • Agricultura
  • Arquitetura Sustentável
  • Engenharia Ambiental
  • Ciências Ambientais
  • Energias Renováveis
  • Botânica e Silvicultura
  • Biologia Marinha
  • Direito Ambiental
  • Horticultura
  • Zoologia

Além da formação acadêmica, é fundamental desenvolver competências complementares, como:

  • Conhecimento em legislação ambiental
  • Domínio de tecnologias sustentáveis
  • Compreensão de cadeias produtivas
  • Habilidade em desenvolver projetos inovadores

A escolha da carreira deve alinhar valores pessoais à missão de gerar impacto positivo, considerando o setor de interesse — seja campo, planejamento ou tecnologia — e o tipo de atuação desejada, prática ou estratégica. Exemplos de empregos verdes por setor:

  • Energia renovável: Engenheiro de energia solar, engenheiro de energia eólica, geofísico ambiental, engenheiro mecânico especializado em renováveis
  • Proteção ambiental: Cientista ambiental, advogado ambiental, zoólogo, cientista da conservação
  • Reciclagem e gestão de resíduos: Coletor de resíduos, coordenador de reciclagem, trabalhador de materiais perigosos
  • Transporte sustentável: Gestor de transportes, engenheiro de transportes, planejador de transporte
  • Tecnologia: Engenheiro de software ambiental, analista de dados verdes, especialista em TI verde, web designer para soluções sustentáveis
  • Administração governamental e regulatória: Árbitro ou mediador ambiental, auditor energético, planejador urbano, especialista regulatório
  • Negócios e administração: Consultor ESG, gestor ambiental, operador de usina elétrica, inspetor de construção sustentável
  • Educação e comunicação ambiental: Educador ambiental, especialista em comunicação para sustentabilidade, instrutor de cursos de capacitação verde

Transição e desafios

A transição para uma economia sustentável é urgente, mas complexa, e traz tanto oportunidades quanto desafios significativos. O estudo Green Skills Outlook, realizado pela Iberdrola em parceria com The Economist Impact, aponta que a rápida transformação depende da disponibilidade de profissionais capacitados em competências verdes — uma demanda que ainda não está sendo atendida. 

Segundo a pesquisa, a responsabilidade de liderar essa mudança recai majoritariamente sobre o setor privado, que precisa alinhar estratégias de inovação e sustentabilidade à gestão de talentos.Ao mesmo tempo, a mudança do modelo econômico afeta diretamente empregos tradicionais. Segundo a OIT, até 2030, 6 milhões de postos de trabalho podem ser perdidos em setores como petróleo, carvão e mineração, evidenciando a necessidade de políticas de transição justa e mecanismos de proteção social.