O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) participará com uma delegação de 1,3 mil pessoas, ao lado de movimentos populares e organizações sociais do Brasil e de diversos países, que se encontrarão na Cúpula dos Povos, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, entre os dias 12 e 16 de novembro. O evento, autônomo e independente, ocorre em paralelo à programação da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

O principal objetivo da COP é reunir lideranças e chefes de Estado para definir medidas que limitem o aumento da temperatura do planeta a 1,5°C até o final deste século, dando continuidade ao que foi negociado nas conferências anteriores. Também chamada Conferência das Partes, a COP30 acontecerá oficialmente entre os dias 10 e 21 de novembro e deve reunir cerca de 50 mil pessoas em Belém.

Antes da programação oficial, ocorre a Cúpula de Chefes de Estado da COP30, entre os dias 6 e 7 de novembro, com a participação confirmada de 143 delegações dos 198 países signatários dos tratados internacionais sobre o clima. Nesse encontro, os líderes devem sinalizar compromissos políticos para a gestão global da questão ambiental e climática.

Em paralelo, a Cúpula dos Povos será organizada de forma autônoma por movimentos e organizações populares. O objetivo é pressionar e convencer o governo brasileiro a liderar a proposição de metas mais ambiciosas para a redução da temperatura global, indo além das soluções consideradas falhas e insuficientes, propostas por líderes e corporações nas instâncias oficiais da COP.

A expectativa é reunir cerca de 15 mil pessoas durante os cinco dias de evento, incluindo lideranças de coletivos de mulheres, indígenas, camponeses, quilombolas, negros, juventudes, LGBTQIAPN+, ambientalistas, sindicalistas e defensores dos direitos humanos. O propósito é incidir na pauta ambiental a partir da base social, onde as soluções já estão sendo construídas.

Desde 2023, o coletivo organizador da Cúpula mantém uma agenda de incidência que resultou na adesão de cerca de 1.100 entidades, incluindo mais de 100 organizações internacionais. A edição em Belém contará com uma programação intensa, que inclui plenárias, uma marcha global pelas ruas da capital paraense — simultânea a outras mobilizações pelo mundo —, caravanas políticas, espaço das infâncias, barqueata entre comunidades locais, banquetaço, apresentações culturais e uma feira popular.

“Os causadores da crise são incapazes de criar as soluções”

Embora entidades e movimentos populares também integrem parte dos debates da programação oficial da COP30, há divergências profundas entre as perspectivas das organizações populares e as dos líderes de países tomadores de decisão. Segundo esses movimentos, governos aliados a grandes corporações têm se omitido ou apresentado respostas ineficazes diante da crise climática que ameaça o planeta.

Nesse contexto, Ayala Ferreira, da direção nacional do MST, reforça a necessidade de denunciar as falsas soluções do chamado capitalismo verde e apontar caminhos concretos a partir dos povos e territórios. Para ela, não há condições de que os líderes da COP30 proponham saídas reais para o meio ambiente e a população, uma vez que as grandes corporações — em conluio com esses governos — são as principais responsáveis pela atual crise.

“Temos reforçado que a solução vem dos territórios, daqueles que lidam com o campo, as florestas e as águas a partir dos seus modos de vida. Por isso, para além de termos credenciais para atuar nos espaços oficiais da COP30, construímos a Cúpula dos Povos como um espaço plural de escuta e proposições, apontando para soluções verdadeiras, necessárias e urgentes frente à crise climática — como a Reforma Agrária Popular e as amplas iniciativas de reflorestamento, recuperação de nascentes e produção de alimentos saudáveis”, destaca a dirigente.

Assim, os movimentos sociais esperam que a pressão da sociedade organizada marque um novo patamar de participação popular e motive o governo brasileiro a adotar medidas mais ousadas. O Brasil, país-sede e atual presidente da COP30, tem papel crucial na liderança de propostas mais eficazes e comprometidas com a natureza, especialmente por abrigar uma das maiores biodiversidades do planeta.