Por Lucía Ixchiú / Fotos: Cobertura Colaborativa Yaku Mama

Partimos do porto de Tabatinga rio adentro para embarcar em uma jornada de cinema flutuante. Desde Iquitos, e vários meses antes, a equipe do coletivo Muyuna, grupo de artistas, cineastas e gestores culturais que apostam no cinema como ferramenta de defesa do território, manifestou seu desejo de compartilhar seu trabalho e saberes através do cinema comunitário.

O dia começou com um chamado para participar de um círculo da palavra, onde movimentamos o corpo, dançamos e recebemos as primeiras instruções do que seria o início de um processo inédito para muitos dos jovens indígenas presentes, que pela primeira vez participavam de uma oficina de cinema.

Um trabalho de narrativas nos permitiu unir as vozes no início de um processo coletivo, comunitário e flutuante. O processo durou 4 dos 5 dias em que navegamos pelo rio Marañón, tendo a exuberante selva como cenário. Foram sessões de trabalho, diálogo e aprendizado para toda a flotilha, que participou de diferentes formas.

O cinema, as câmeras e toda a criatividade tomaram conta do terraço da embarcação, onde três grupos pensavam, escreviam e filmavam seus filmes com o apoio tecnológico da Muyuna. Neste barco, os sonhos fizeram parte de toda a viagem.

As filmagens e as primeiras edições aconteceram durante o trajeto de Tabatinga a Manaus, onde nasceu a ideia de realizar um festival de cinema da criação audiovisual da flotilha — o que tornou a viagem ainda mais estimulante: contar e narrar nossas próprias histórias a partir da diversidade, de diferentes idiomas e biomas que acompanham a Yakumama.

Realizar sonhos: para algumas das pessoas participantes, além de ser a primeira vez que saíam do país, também foi a primeira vez que seguraram uma câmera, uma claquete e equipamentos de som. Sonhar com fazer cinema não apenas para contar nossas histórias, mas também para transformar esse espaço em uma forma de defender o território.