Por Luiz Vieira

Saberes ancestrais, o levante indígena, a proteção das florestas e das nascentes, a importância de preservar as tradições, entender o mundo ao redor — esses são alguns temas presentes nas obras de Kara’i Tukumbó e na sua missão como ativista e escritor. Em novembro, ele lançará sua nova obra voltada ao público infantojuvenil: “As Aventuras de Kara’i Tukumbó – O Espírito das Águas”.  E é olhando com mais atenção para esse público específico que o autor busca construir um mundo sem estereótipos.

O diálogo com esse público é algo de muita importância, porque nessa faixa etária, ainda as opiniões estão sendo formadas; estão mais receptivos ao novo, a absorção se torna maior, e assim levamos o conhecimento livre de interferências estereotipadas”, conta Kara’i Tukumbó.

Mais do que escritor, Kara’i Tukumbó é ativista e artesão, que leva seu conhecimento para as escolas aproximando crianças e jovens das tradições e saberes ancestrais indígenas. Seu trabalho já foi reconhecido em espaços importantes, como o Museu das Culturas Indígenas, o Teatro Flávio Império, a Faculdade Rudolf Steiner e o Salão de Arte Moderna da APBA, onde recebeu menção honrosa.

Atuante também no artesanato, participou do Revelando São Paulo, uma das maiores mostras de cultura tradicional do país. No audiovisual, integra o elenco do filme Abequar, com lançamento em 1º de novembro de 2025, que aborda o choque cultural de um indígena em São Paulo.

Atualmente, Kara’i Tukumbó também lidera um projeto de construção de uma aldeia em Itapevi da Serra, como extensão da aldeia de Boracéia, fortalecendo a presença Guarani em um território de nome indígena, mas sem iniciativas ligadas à sua origem.

Com clareza, paixão e compromisso, Kara’i Tukumbó se destaca entre as novas vozes indígenas pelo olhar voltado à educação, à infância e ao resgate da memória e da essência cultural de seu povo. Inspirado por líderes como Cacique Raoni e Timoteo Popygua, acredita que a verdadeira resistência está em manter viva a língua, as tradições e os saberes ancestrais.

Além de escritor, Tukumbó também é ator e integra o elenco do filme “Abequar”, que será lançado ainda neste segundo semestre do ano e conta a história de uma criança indígena que se vê perdida numa grande metrópole, sempre em busca do caminho de casa — uma rapsódia que dialoga também com o mito de Macunaíma.

Com vocês, Kara’i Tukumbó:

1 – Como a literatura pode ser uma importante aliada na luta pelos direitos da população indígena? 

É através da escrita — onde relatamos nossa vivência, nossos saberes, nossa forma de caminhar nesse universo — que conseguimos transmitir e derrubar estereótipos sobre nossa caminhada. A literatura se torna uma grande aliada nesse processo.

2 – Por que você gosta de dialogar especialmente com o público infantojuvenil?

O diálogo com esse público é algo de muita importância, porque nessa faixa etária, as opiniões ainda estão sendo formadas; estão mais receptivos ao novo, a absorção se torna maior, e assim levamos o conhecimento, livre de interferências estereotipadas.

3 – Como preservar a cultura indígena em um mundo cada vez mais globalizado e hiperconectado?

É realmente um trabalho de formiguinha, mas, através das palestras e o contato direto com os jovens, conseguimos, aos poucos, derrubar alguns conceitos errôneos.

4 – Você acredita que a pauta indígena avançou no Brasil? 

Nesse momento, a pauta indígena está tendo uma abertura maior. Mais e mais pessoas querem conhecer a história contada por quem realmente tem propriedade pra falar, e, com isso percebemos um avanço significativo em nossas pautas.

5 – Qual legado você quer deixar com suas obras? 

Fazer com que os jovens conheçam nossas lutas e os nossos anseios é a grande meta a ser atingida. Ter a compreensão de como vivemos, de nossa cultura, tradições e crenças é o grande alvo.