
Do Louvre ao Rio, exposição “Nós Queer Existimos” celebra a resistência queer e crioula da Ilha da Reunião
Exposição do casal de fotógrafos Raya Martigny e Édouard Richard ocupa o centro cultural carioca a partir de 9 de outubro com imagens da população LGBTQIAPN+ da Ilha da Reunião. Evento integra a Temporada Brasil-França 2025
Após passagem por Paris, dentro da programação de verão do Museu do Louvre, e pela própria Ilha da Reunião, Kwir Nou Éxist: Nós Queer Existimos chega ao Brasil para temporada gratuita de um mês no Futuros – Arte e Tecnologia. Com a presença do casal de fotógrafos Raya Martigny e Édouard Richard, a exposição abre dia 9 de outubro. A visitação é até 9 de novembro, sempre de quarta a domingo, entre 11h e 20h.
Nós Queer Existimos reúne cerca de 80 imagens que retratam a comunidade queer e crioula da ilha francesa e nasce de um desejo de celebração e pertencimento. A palavra Kwir, inclusive, que significa queer na língua crioula (que ainda se fala na ilha, além do francês), foi incorporada recentemente ao vocabulário crioulo, junto à realização da primeira parada LGBTQIAPN+ do lugar.

A fotógrafa Raya Martigny tinha apenas 16 anos quando seguiu um roteiro muito parecido com o de milhões de pessoas LGBTQIAPN+ no mundo: deixou suas origens, na Ilha da Reunião (antiga colônia que ainda faz parte do território francês), para se entender e viver em Paris sua liberdade de existir distante do preconceito e do moralismo familiar. Nesses processos de autoconhecimento, Raya afirmou seu gênero, conheceu o fotógrafo e documentarista Édouard Richard e estreitou uma relação que transbordou do afeto para a arte.
Oito anos depois, Raya, que também é modelo e atriz, voltou com Édouard para Ilha da Reunião, encontrou uma comunidade crioula queer muito mais autoafirmativa e empoderada – tendo sua primeira Parada do Orgulho realizada apenas recentemente, em 2021. Diante daquele material vivo, de uma juventude queer que brotava aos seus olhos, Raya e Édouard fizeram da existência queer uma afirmação visual e artística que resultou na exposição Kwir Nou Éxist: Nós Queer Existimos.
“Como jovem queer, decidi sair de casa aos 16. Não via ninguém como eu ao meu redor, ninguém em quem pudesse me espelhar. Queria conhecer o mundo, me conhecer. E, na época, não havia espaço para isso lá. Quero mostrar a essa juventude que ela tem valor. Que não é preciso necessariamente partir para se construir. O importante é ter escolha — de ficar ou ir — mas com consciência, com confiança. Esse projeto nasceu desse desejo. Juntes, eu e meu parceiro e fotógrafo, Édouard, construímos um trabalho de memória e celebração através da fotografia e de arquivos, desde os anos 1980 até hoje”, conta Raya.

Para o fotógrafo e documentarista Édouard, a mostra é um espaço de afirmação, mas também para que as pessoas tenham oportunidade de discutir o colonialismo, a exploração de mão de obra escravista africana e seus efeitos dentro de um território que geograficamente faz parte da África Oriental e ainda pertence à Europa. “Não é um trabalho de fotojornalismo. É um trabalho artístico que também conta uma história importante”, afirma.
A vinda ao Brasil é uma parceria entre a francesa Elyane Prod, de Alban Sénault, e a Debê Produções, do produtor e cineasta carioca Marcio Debellian. Depois do Rio de Janeiro, a exposição segue para São Paulo entre 13 e 23 de novembro, no Museu da Imagem e do Som, o MIS, dentro da programação do festival MixBrasil. O evento integra o calendário oficial do Ano Cultural Brasil-França 2025, com República Francesa, Institut Français e Instituto Guimarães Rosa, e tem patrocínio de Jean-Paul Gaultier & Requeer e Petrobras, em uma realização do Governo Federal do Brasil/Lei de Incentivo à Cultura.
“O Futuros – Arte e Tecnologia mais uma vez abre suas portas para pensar o presente e imaginar o amanhã. A exposição atravessa tempos e histórias, explorando colonialismo, escravidão, migração e diversidade — temas que também aqui no Brasil, fundamentaram a construção de nossas sociedades. Uma exposição que afirma: nós existimos, resistimos e transformamos o mundo”, destaca a gerente executiva de Programas, Projetos e Comunicação do Instituto Futuros, Carla Uller.

Sobre o Futuros – Arte e Tecnologia
Inaugurado há 20 anos, o centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia é um espaço de exibição, criação e inovação artística. Com uma programação gratuita voltada a todos os públicos, o espaço promove e recebe exposições, apresentações artísticas, espetáculos teatrais, entre outros eventos que convidam o público a refletir sobre temas que norteiam sua linha curatorial, como meio ambiente, ancestralidade, diversidade, educação e tecnologia. O Futuros abriga galerias de arte, um teatro multiuso e o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades, que mantém um acervo de mais de 130 mil peças históricas sobre as comunicações no Brasil e atividades interativas sobre o impacto das tecnologias nas relações humanas.
O centro cultural tem gestão do Instituto Futuros. Desde agosto de 2025, o Futuros – Arte e Tecnologia recebe o projeto Upload, realizado pela Zucca Produções, e correalizado pelo Futuros – Arte e Tecnologia e pelo Coletivo 2050, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro – Lei do ISS, com patrocínio da Serede, Oi, Eletromidia, Rastro,Tahto e Prefeitura do Rio de Janeiro/SMC.