O Equador entrou nesta segunda-feira no décimo quinto dia de paralisação nacional indefinida convocada pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), em rejeição à eliminação do subsídio ao diesel, decretada pelo governo no último 12 de setembro. Após 14 dias de protestos, o país sul-americano registra bloqueios de estradas em cinco províncias, majoritariamente na região da serra, assim como mobilizações de rua protagonizadas por comunidades indígenas e grupos sociais.

A isso se soma a ameaça do presidente da Conaie, Marlon Vargas, que no sábado advertiu que as manifestações poderiam ser radicalizadas, inclusive com a possibilidade de tomar a capital do país, Quito, caso suas demandas não sejam atendidas. “Se o governo não nos ouvir, estaremos convencidos de tomar Quito (…) já não podemos continuar aguentando, já não podemos seguir suportando”, declarou Vargas durante uma reunião com representantes de comunidades, no cantão (município) de Alausí, na província de Chimborazo (centro).

Os indígenas equatorianos apresentaram uma lista de demandas, como a redução do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) de 15% para 12% e a revogação do Decreto 126, por meio do qual o presidente Daniel Noboa eliminou o subsídio ao diesel, o que fez o preço do combustível disparar de 1,80 para 2,80 dólares por galão. A medida do governo desencadeou uma forte oposição por parte de transportadores, indígenas, sindicatos e outros setores sociais do Equador, segundo um relatório da agência de notícias Xinhua.

Organizações de povos indígenas de Quito anunciaram no sábado sua adesão à paralisação com uma marcha na capital equatoriana programada para o próximo 12 de outubro.

Após esses anúncios do movimento indígena, o presidente Noboa decretou na noite de sábado o “estado de exceção” por “grave comoção interna” em 10 províncias do país, com o objetivo de enfrentar a radicalização dos protestos, que, segundo o governo, tornaram-se violentos.

A medida vigorará por 60 dias nas províncias centrais de Pichincha, onde fica Quito, além de Cotopaxi, Tungurahua, Chimborazo, Bolívar e Cañar, assim como Azuay (sul) e as amazônicas Orellana, Sucumbíos e Pastaza. A essas províncias se soma Imbabura, epicentro da paralisação, além de Carchi, localizadas na serra norte, onde a medida já estava em vigor desde 16 de setembro passado.

O mandatário equatoriano, que mantém a postura firme de não negociar e não recuar na eliminação do subsídio ao diesel, ordenou no decreto a suspensão da liberdade de reunião durante as 24 horas do dia.

Também proibiu concentrações em espaços públicos que possam resultar em impactos aos serviços essenciais ou à segurança cidadã, além de ordenar a mobilização de todas as entidades da Função Executiva, das Forças Armadas e da Polícia Nacional para que coordenem ações necessárias com o objetivo de manter a ordem e prevenir acontecimentos de violência. As ações visam proteger a vida e a integridade física da cidadania, assim como o direito à livre circulação e o desenvolvimento de atividades econômicas.

De acordo com o governo, os protestos decorrentes da paralisação foram caracterizados por agressões e sequestros de membros das forças públicas, assim como atentados a bens públicos e privados, e retenções de veículos de carga pesada, o que afeta a população.

Além disso, foi gerada uma paralisação de determinados serviços públicos, o que impediu o normal desenvolvimento das atividades econômicas.

Até o momento, pelo menos 102 pessoas foram detidas no contexto dos protestos.