Por Lohuama Alves

Belo Horizonte se torna, mais uma vez, palco de debates fundamentais para o futuro do audiovisual latino-americano. Durante o 19ª Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (CineBH), o seminário internacional promoveu o debate “Filmar com o Território”, dentro da mostra Horizontes Latinos, reunindo cineastas e produtores de diferentes países para refletir sobre os desafios de realizar cinema em diálogo direto com os espaços culturais, sociais e geográficos onde as narrativas são construídas.

A discussão girou em torno de uma questão central: como filmar a partir dos territórios sem reduzi-los a meros cenários, mas reconhecendo-os como parte viva da criação cinematográfica? Questões como dinâmicas de produção, caminhos de viabilização financeira e circulação das obras em festivais internacionais também foram debatidas.

Participaram do encontro o diretor peruano J. D. Fernández Molero (Punku), a produtora Lady Vinces (Huaquero), o brasileiro Leandro Alves (Movimento Perpétuo) e a roteirista mexicana Rosalinda Dionicio (Chicharras). A mediação foi conduzida por Mariana Queen Nwabasili, curadora da programação latino-americana da Mostra CineBH.

O debate destacou ainda as diferenças entre produzir em parceria criativa com as comunidades locais e representar os territórios por olhares externos, apontando os riscos e responsabilidades éticas de quem escolhe filmar em contextos diversos.

Para a roteirista mexicana Rosalinda Dionicio, de Chicharras, os desafios e aprendizados de gravar com a comunidade foram a base do filme. “Chicharras mostra uma comunidade de Oaxaca que resiste a projetos de infraestrutura que ameaçam a autonomia local. O processo de filmagem foi com os próprios moradores e aprendemos muito com isso”, disse.

Já o diretor Leandro Alves, de Movimento Perpétuo, único filme brasileiro na mostra, destacou o processo de criação do primeiro longa realizado em Arapiraca, cidade do interior alagoano. “Movimento Perpétuo foi se adaptando de acordo com as nossas possibilidades. Fazer cinema em Arapiraca ainda é um desafio, principalmente por se tratar de um filme híbrido, com alguns toques de ficção. O filme é sobre lembranças que se entrelaçam, sobre encontros tecidos em um lugar onde a natureza acolhe e guarda. É também sobre fazer cinema no interior, tratando de temas universais com a força singular do nosso território. Um filme sobre o movimento das pessoas e da vida, encontros que revelam sentidos, refletidos nas histórias que passam pelo sítio de Seu Edvaldo, um lugar mágico que pulsa no centro da narrativa”, concluiu.

Mais do que exibir filmes, a CineBH reafirma-se como espaço de pensamento crítico sobre o cinema contemporâneo, suas linguagens e modos de produção. Ao colocar o território no centro da conversa, o festival amplia a reflexão sobre como o audiovisual pode construir pontes entre culturas e fortalecer identidades locais em diálogo com o mundo.