
Camilla Monteiro prepara primeiro álbum da carreira e mira o pagode com discurso
Filha de bambas, jovem traz o samba de berço em disco autoral com parceiros de peso.
No ano em que o pagode se tornou o gênero mais escutado do país, alguns artistas miram suas carreiras estrategicamente nesse movimento. Mas não é o caso da carioca Camilla Monteiro, que cresceu ouvindo samba e pagode dentro de casa. Trilhando o caminho natural da arte herdado dos pais, a jovem de 24 anos acaba de lançar o single “Não Tô Nessa” e prepara um álbum de pagode com discurso e identidade — tudo que a cena precisa.
Filha de Iracema Monteiro e Wanderley Monteiro, a história da família se entrelaça com a história do samba carioca. A mãe é cantora profissional desde 1999; o pai compõe desde os 20 anos de idade. Ambos despontaram na tradicional roda Candongueiro, em Niterói. Iracema participou do The Voice+, da TV Globo, em 2021. Wanderley, recentemente, foi convidado a integrar a Velha Guarda da Portela, escola em que é o atual recordista de disputas de sambas-enredo. Camilla é a caçula dessa casa regada a samba. Seu irmão, Alaan — também músico e compositor reconhecido da nova geração — assina a produção musical de seu álbum de estreia, ao lado de Gabriel de Aquino.
“Coisa muito íntima: eu lembro de, no banho, minha mãe e minha irmã cantarem ‘ensaboa, mulata, ensaboa’. Essa é a primeira música de que tenho memória afetiva. Minha irmã mais velha é médica, mas canta também. Foi ela quem me puxou mais pro pagode. Lá em casa era só samba, mas ela ouvia muito Sorriso Maroto, Exaltasamba, Revelação. Por isso eu canto samba e pagode: por influência dela”, lembra Camilla.
Camilla ainda não acredita que esteja lançando um álbum antes da mãe, sua maior referência: “Minha mãe é muito respeitada em todos os lugares por onde passa, está no samba há muitos anos. É muito doido pensar que estou lançando um trabalho antes dela, que me abriu todas as portas. Isso mostra como a mulher não tem o mesmo espaço que os homens. Parece sempre que a gente tem que estar provando alguma coisa para alguém, o tempo todo.”

A jovem confessa que tentou fugir de sua sina durante um tempo. Gravava vídeos para as redes sociais cantando vários estilos, inclusive samba. Mas o gênero foi ganhando cada vez mais espaço em sua timeline, até que só restou ele:
“As primeiras músicas que lancei não são samba. Experimentei outros lugares antes. Não sei se houve uma virada de chave, acho que só foi acontecendo. Desde 2015, gravo vídeos cantando. E chegou um momento em que eu só gravava sambas, deixando outros estilos de lado. Acho que o marco foi quando fiz um pout-pourri em homenagem ao seu Wilson Moreira. Eu, novinha, cantando isso no violão. Acho que, nesse momento, percebi que gostava disso, que não tinha mais jeito.”
Nessa casa de bamba, assumir o pagode também não foi tarefa fácil. Mas a peleja foi apenas interna. Wanderley só “brigou” por não ter um samba seu no primeiro álbum da filha:
“Ele ficava me perguntando: ‘Não vai ter uma música minha?’ Aí mandei uma letra minha pra ele e disse: ‘Faz aí um refrão, faz alguma coisa’. Agora tenho uma parceria com meu pai. Bizarro” (risos).