Por Vivi Pistache

22 de julho de 2025. Dia de eclipse no meu peito. Acordei tão feliz com o aniversário do meu pai, que me fez acreditar que todo homem era um ser iluminado, até eu sair pela porta e conhecer outras faces sombrias do masculino. Meu pai é mineiro, humilde, de negritude reluzente, aposentou trabalhando no funda da Mina do Morro Velho, homônima da crônica sobre o legado da escravidão cantada por Milton Nascimento. Um pastor da Assembléia de Deus, orgulhoso de ser torneiro mecânico formado pelo Senai, assim como o presidente Lula, seu voto desde 89. Sempre interessado em política, foi meu pai quem me ensinou como se calcula coeficiente eleitoral quando eu fui votar pela primeira vez. Apesar de ser ‘piricult’ demais para continuar evangélica, respeito com carinho e convicção o pentecostalismo que meu pai encarna. Sorte a minha de ser filha do pastor Eli Antonio, ou simplesmente Pupinho, meu porto seguro e amigo que acompanhou de perto a minha vida na UFMG,  USP, AIC e agora no cinema. 

Há dois anos ele veio de Nova Lima/MG, nossa terra natal, para prestigiar a 34a. edição do Kinoforum, o Festival Internacional de Curtas Metragens em São Paulo e conheceu de perto a Zita Carvalhosa, uma entidade na luta pelo curta-metragem brasileiro. O cinema nacional, ainda de luto pela ida de Jean Claude Bernardet, vice-presidente de honra da Kinoforum, lamenta também a passagem da nossa Zita Carvalhosa. Uma mulher dedicada ao cinema,  que ao longo da vida traduziu de modo singular a união entre paixão e pragmatismo, intuição afinada com racionalidade. Visionária, Zita soube arriscar e não ter medo de recalcular a rota quando encontrava novidades à sua frente. Mesmo sendo farol e bússola, era uma aprendiz perene, apesar de intensa, era puro coração. Generosa, abriu caminhos para incontáveis talentos nos muitos ofícios do cinema por gerações. Portanto, serei eternamente grata a ela por ter me adotado na Família Kinoforum e ter me confiado a missão de ser, atualmente, responsável pela programação da Mostra Brasileira do maior festival de curtas metragens da América Latina. Ainda fico embasbacada quando lembro das férias de fim de ano de 2023 quando estava em Minas com minha família e recebi o telefonema da Zita, me convidando com seu jeito franco e acolhedor para compor a equipe, dizendo que já queria acertar algumas coisas antes de sua ida para o Festival de Curtas de Clermont Ferrand. 

Zita se vai, mas deixa o Festival Kinoforum nas mãos de profissionais que herdaram sua paixão e competência. No comitê que constroi cotidianamente a lida seja na sede da produtora no Largo do Arouche, ou no Xangô ou na Sofrência, bares de deliberações importantíssimas estão: Vânia Silva, mulher negra, periférica, produtora executiva,  que há vinte anos é braço direito da Zita. Marcio Miranda Perez, o mais competente e humilde programador de curtas metragens internacionais e nacionais que conheço. Uma das poucas pessoas que consegue ser um talento tão gigante quanto discreto nessa fogueira de vaidades que borbulha no nosso cinema. Fabiana Amorim, que além de abrir e fechar nosso caixa, é uma fonte inesgotável de bons bastidores, como uma despretensiosa guardiã de parte da memória do cinema brasileiro.  Nathalya Macchia, nossa Zitinha versão Millenium igualmente ligada no 220. A ‘Carreta Furacão’ vinda de Londrina para catalisar a produção do festival sob a direção do Bruno Gehring. Denise Jancar, nosso olho de Tandera na ponte com o mercado, Katita Ciclone, que comanda as pistas das festas, Chris Saghaard, programador da Mostra Infanto-Juvenil e que juntamente com a nossa Baby Emmy tocam as Oficinas Kinoforum, um projeto xodozin da Zita. Anne Fryszman, a programadora francesa mais poliglota e charmosa dos festivais de curtas pelo país. Beth Sá Freire, diretora honorável, grande conselheira, (dizem por aí que é a  lendária Bete Balanço do Cazuza). Bruna Medina, a bruxinha vegana mais pauleira da produção. A veterana Lizandra Magon, responsável pelas publicações impressas. Matheus Pires, Bruno Dias, Heitor Beluco e Alice, a Geração Z responsável pela comunicação digital. (Mais adiante ao final desse texto está a ficha técnica completa da equipe que está construindo o Festival que acontece daqui um mês, entre os dias 21 a 31 de agosto de 2025.)

Assim, nesta data, apesar dos olhos inchados de chorar, eu celebro as ladeiras e curvas da vida que me trouxeram a esta encruzilhada na qual a periferia negra e evangélica saúda a fina e destemida flor do nosso curta metragem. Que o Brasil seja um celeiro de pastores como meu pai e produtoras de cinema como a Zita Carvalhosa. 

Foto: Kinoforum

Equipe Interna do 36º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo e Oficinas Kinoforum em 2025

Idealizadora – Zita Carvalhosa

Coordenação Geral – Vânia Silva e Marcio Miranda Perez

Comitê de Organização – Anne Fryzman (Mostra Internacional, Mostra Limite e Programas Especiais); Christian Saghaard (Mostra Infanto-Juvenil e Oficinas Kinoforum); Denise Jancar (Curta e Mercado); Marcio Miranda Perez (Mostra Latino-americana, ; Emily Lima (Oficinas Kinoforum); Nathalya Macchia (Programas Brasileiros); Viviane Pistache (Programas Brasileiros, Mostra Limite e Programas Especiais)

Mestre de Cerimônia – Didi Couto

Consultoria – Patrick Leblanc

Coordenação de produção – Bruno Gehring

Coordenação de comunicação – Heitor Beluco

Coordenação de conteúdo – Lizandra Magon de Almeida

Coordenação de cópias – Luis Guilherme (LG) / Vinícius Leite

Técnico audiovisual – Yan Maran

Produção geral – Júnior Oliveira

Produção executiva – Marina Bigardi

Produção Comercial – Kátia Ciccone

Assistente de produção – Bruna Medina

Financeiro / administrativo – Fabiana Amorim

Designer – Matheus Pires / Leste_br

Registro audiovisual – Pedro Caldeira

Coordenação de monitoria – 2Hs Entretenimento

Equipe de apoio – Gilberto Moreira Alves

Estagiária – Alice Brites

Fotógrafos – Marcos Finotti

Oficinas Kinoforum – Christian Saghaard, Emilly Lima Matos de Andrade, Fabi Amorim

Colaboradores Oficinas Kinoforum 2025:  Anderson Godoi, Beatriz Nominato, Beemo Wave, Bianca Lordelo, Bruna Medina, Caio Soares, Daniel Fagundes, Denise Jancar, Dennys Queiroz, Eder Augusto, Fabio Montanari, Fabi Sampaio, Fernanda Senatori, Gabriela Maria, Gal Buitoni, Gautier Lee, Gio Vernilo, Giu Nascimento, Guilherme da Costa, Juliano Angelin, Jús Saraiva, Lucas Silva (Muquito), Maria Carolina Mesquita, Matheus Pires, Noel Carvalho, Samuel Melo, Rafael Bonesi, Sandra Godoi, Tales Manfrinato, Viviane Pistache

Cartaz e Vinheta – Dilan Gama / Leste_br

Comunicação Digital – Gabriela Laguna / Ida Feldman

Assessoria de imprensa – ATTi Comunicação e Ideias

Legendagem – Casarini Produções

Acessibilidade – Temporal Produtora

Banco de dados – Irya Solutions

Webisites – Webocore / Daniel de Almeida

Captação de recursos – Daniele Torres

Vivi Pistache é pesquisadora, roteirista, curadora e, de vez em quando, crítica de cinema. Ou Vedete de Revista de Teatro dos Anos 30, assim definida por Jean Claude Bernardet.