
Longa com atriz surda vence prêmio de Melhor Filme no Festival Rio LGBTQIA+
“Nem Toda História de Amor Acaba em Morte” promove acessibilidade com inovação estética e protagonismo inédito no cinema brasileiro
Por Patrícia B. Zupo
“Nem Toda História de Amor Acaba em Morte”, novo longa do diretor curitibano Bruno Costa, segue acumulando reconhecimento em festivais nacionais. No último dia 9, a produção venceu o Prêmio de Melhor Longa-Metragem Nacional pelo Júri Popular no Festival Rio LGBTQIA+. Este é o terceiro troféu conquistado pelo filme, que teve sua estreia mundial no CINE-PE Festival Audiovisual (realizado entre 9 e 15 de junho), onde levou dois prêmios: Melhor Ator para Octávio Camargo (Júri Oficial) e Melhor Filme na Mostra de Longas-Metragens (Júri Popular).
A produção marca um feito inédito: pela primeira vez, uma atriz surda protagoniza um longa-metragem no cinema brasileiro. Gabriela Grigolom interpreta Lola, mãe da pequena Maya (vivida por sua filha na vida real, Sophia Grigolom). Maya é uma criança CODA — sigla em inglês para Children of Deaf Adults (“filhos de pais surdos”) — e aluna da professora Sol (Chiris Gomes), que enfrenta um casamento em ruínas com Miguel (Octávio Camargo). Mesmo após decidirem se separar, o casal continua sob o mesmo teto até reorganizarem suas vidas. Nesse processo, Sol e Lola se aproximam, e a amizade entre as duas mulheres se transforma. Sol, que teve um irmão surdo, é a única que consegue se comunicar com Lola, que luta para manter sua companhia de teatro ativa.
Mesclando drama e comédia, o longa aborda questões como divórcio, machismo estrutural e homofobia, rompendo estereótipos da teledramaturgia brasileira sobre pessoas com deficiência. No Brasil, a legislação exige a inclusão de LIBRAS nas produções financiadas por editais, mas nem sempre essa tradução é exibida adequadamente nas salas de cinema. O longa de Bruno Costa vai além da acessibilidade formal: promove representatividade real.
“Nosso filme é para todos, mas principalmente é um filme feito com e para a comunidade surda”, destaca o diretor. Um dos diferenciais da obra é o uso de intérpretes de LIBRAS com características físicas semelhantes às dos personagens (idade, gênero, tom de pele, figurino), que aparecem integrados à mise-en-scène, e não apenas posicionados em um canto da tela. A proposta alia linguagem e estética, criando uma experiência inovadora tanto para o público surdo quanto para o ouvinte. “É uma questão de respeito com o público surdo”, reforça Bruno.
Para garantir um set acessível e sensível às demandas da comunidade surda, a produção contou com consultoria de Jonatas Medeiros, intérprete de LIBRAS, assistente de direção e um dos fundadores da Fluindo Libras — coletivo de tradutores ouvintes e surdos voltado para a inclusão na cena cultural, como a Mostra Surda do Festival de Teatro de Curitiba. Ao todo, mais de 30 figurantes e sete atores surdos participaram do filme, contracenando com Gabriela Grigolom.
“Nem Toda História de Amor Acaba em Morte” é um lançamento da Beija Flor Filmes, produtora que tem se destacado por dar voz a narrativas culturalmente marginalizadas, com foco na comunidade LGBTQIA+ e em grupos sub-representados. Entre seus títulos anteriores estão “Casa Izabel”, “Alice Júnior” e “Alice Júnior – Férias de Verão” (Netflix).

Próximas exibições:
- 18/07 – 14h – Maceió (AL) – Arte Caleidoscópio
- 27/07 – 15h – Goiânia (GO) – DIGO – Festival da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás
- 01 a 09/08 – Rondônia (RO) – CINE RO – Rondônia Film Festival
- 17/09 – Belo Horizonte (MG) – Festival Acessa BH