Por Lilianna Bernartt

De 26 de junho a 2 de julho de 2025, ocorre a 12ª edição da 8½ Festa do Cinema Italiano, importante janela de exibição do cinema contemporâneo da Itália. Neste ano, um dos destaques da programação é o protagonismo feminino: Maria Sole Tognazzi, Maura Delpero, Micaela Ramazzotti e Margherita Vicario integram a seleção e compõem um panorama da diversidade dos olhares femininos no cinema italiano atual.

Num país historicamente marcado por diretores homens e por personagens femininas, em sua maioria, subordinadas ao olhar masculino, essas cineastas propõem um reposicionamento desse olhar.

Maria Sole Tognazzi, filha do lendário Ugo Tognazzi, possui uma carreira consolidada que se destaca por seu olhar sensível sobre o universo dos afetos. Em seu novo filme, Dieci Minuti (2024), ela segue explorando camadas da intimidade feminina por meio da adaptação do best-seller de Chiara Gamberale, em que uma mulher em crise é desafiada a fazer algo novo por 10 minutos todos os dias — o que acaba se tornando um exercício de liberdade e autoconhecimento.

Com Vermiglio, Maura Delpero reafirma a autoralidade como carro-chefe do seu trabalho, se consolidando como uma cineasta com um frescor extremamente interessante de acompanhar. No filme, a diretora leva para as telas o tema da guerra e seus efeitos íntimos sobre corpos e relações femininas. Premiado em Veneza e no David di Donatello, Vermiglio é, sem dúvida, um dos grandes destaques da programação.

Micaela Ramazzotti, conhecida por sua sensibilidade e visceralidade como atriz, estreia na direção com Felicità, no qual interpreta Desirè, uma mulher presa a uma família tóxica que tenta desesperadamente oferecer um futuro melhor para si e para os seus. É interessante observar como Ramazzotti constrói uma trajetória de atuação, direção e escrita com a força de quem se recusa a estigmatizar sua protagonista e o corpo feminino, transferindo às figuras masculinas as posições de fragilidade.

Por fim, temos a estreia da cantora e compositora Margherita Vicario em seu primeiro longa-metragem, Gloria!, um musical histórico ambientado num convento veneziano do século XVIII. O filme mistura música barroca com sintetizadores, figurinos de época com coreografias contemporâneas, e busca transpor para a tela o choque cultural diante de novos estilos musicais, como o jazz e o blues, transformando a música em um espaço de liberdade feminina.

O longa se propõe a relatar, histórica e sensorialmente, as rupturas advindas da pesquisa musical, traçando um paralelo com as rupturas protagonizadas por mulheres. Gloria! gerou grande burburinho em sua estreia no Festival de Berlim de 2024 e continua dividindo opiniões por onde passa.

São quatro diretoras que não se unem por uma estética comum, mas exatamente pelas diferenças de seus olhares sobre o feminino — sendo esta curadoria uma excelente oportunidade para conhecer (ou revisitar) um novo ciclo de autoras italianas.

A 12ª edição da 8½ Festa do Cinema Italiano não apenas celebra o cinema da Itália, mas aponta para uma contemporaneidade que é, sem dúvida, feminina, plural e autoral.

A programação completa está disponível em: www.festadocinemaitaliano.com.br