Por Laila LJ Martins (Regen Beings)

Bonn, 21 de julho – Durante a 62ª sessão da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (SB62), realizada em Bonn, um painel de alto nível liderado pela ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, reuniu representantes de diversos países para debater o tema “Mecanismos financeiros para desbloquear economias indígenas sustentáveis: soluções locais com impacto para as pessoas, a natureza e o clima”.

O painel, realizado às 10h30 da manhã, contou com a presença de líderes indígenas do Panamá, Equador, México, Guatemala e Brasil, que apresentaram iniciativas concretas que aliam conservação ambiental, soberania territorial e geração de renda.

Avanços históricos e novos desafios

Sônia Guajajara abriu sua fala ressaltando os progressos alcançados nas últimas três décadas de negociações climáticas, especialmente na ampliação da participação indígena e no reconhecimento de seus saberes. Entre os marcos citados, estão:

  • O reconhecimento oficial dos conhecimentos indígenas e tradicionais como ciência no Acordo de Paris de 2015;
  • A criação da Plataforma de Povos Indígenas, Comunidades Locais e Tradicionais, que hoje possui um plano de trabalho próprio;
  • A crescente incidência política dos povos originários nos espaços multilaterais.

Apesar dos avanços, a ministra chamou atenção para uma lacuna crítica: apenas 1% dos recursos climáticos globais chega efetivamente às organizações indígenas. “Identificamos esse problema, e os próprios financiadores reconhecem essa falha. Precisamos garantir que os recursos cheguem às comunidades para que as soluções sejam implementadas no território”, afirmou.

A ministra também destacou exemplos positivos de países como a Noruega, que vêm adotando novas estratégias de financiamento direto para organizações indígenas, reduzindo a intermediação por grandes instituições. Segundo ela, esse tipo de abordagem fortalece a autonomia dos povos indígenas e garante maior eficácia na aplicação dos recursos no território.

Foto: Oliver Kornblihtt / Mídia NINJA



Organizações participantes

Durante o painel, foram destacadas experiências por meio das seguintes lideranças e organizações:

  • Onel Marsadule – FCPI (Panamá)
  • Juan Carlos Jintiach – GATC (Equador)
  • Gustavo Sánchez – Red MOCAF (México)
  • Dina Juc – AMPB (Guatemala)
  • Sineia do Vale Wapichana – Conselho Indigenea de Rorairma (Brasil)

Caminhos para o futuro

O painel concluiu com um apelo coletivo pela criação de mecanismos financeiros diretos, flexíveis e adaptados à realidade indígena. A proposta é construir modelos que respeitem as estruturas de governança locais, simplifiquem o acesso aos recursos e garantam o impacto real das ações no combate à crise climática.