Espanhol nas escola, hacer futuro!
Defendemos que o ensino de espanhol seja obrigatório em todas as escolas do nosso país.
Por Hugo Silva e Amanda Harumy*
Hacer futuro: foi isso que nos pediu Pepe Mujica. Assim, devemos nos mover hoje para disputar o amanhã. Pepe carrega em si a defesa e a identidade da integração da América Latina; sua política transcendeu as fronteiras nacionais, e sua luta, além de ideológica, sempre disputou o fator cultural. Para ele, a integração da América Latina é o destino histórico do nosso continente e deve ser fundamentada por uma identidade comum, que fortaleça a cultura e integre nossos jovens em sua realidade. Dessa forma, hoje os estudantes do ensino médio buscam promover essa integração e garantir o direito de participação de todos os estudantes brasileiros. Defendemos que o ensino de espanhol seja obrigatório em todas as escolas do nosso país!
Para além dos sonhos, essa demanda está embasada em fatores políticos, práticos e regionais. Afinal de contas, o Brasil faz fronteira com vários países de língua espanhola, e dominar esse idioma aprofunda a comunicação, o acesso a intercâmbios e futuras oportunidades de estudo e trabalho. Apesar disso, a maioria das escolas públicas ainda não oferece aulas de espanhol, mesmo sendo a opção preferida por uma grande parte dos estudantes no ENEM. De acordo com dados do INEP, cerca de 60% dos estudantes optam pela língua espanhola. Manter apenas o inglês como obrigatório não reflete a realidade dos alunos nem a posição estratégica do Brasil na América Latina. Tornar o espanhol o segundo idioma obrigatório seria uma política que valoriza a diversidade linguística dos estudantes e reflete a importância do país em sua integração regional e cultural.
É fundamental lembrar que essa é uma luta atual, porém não começou conosco. Apesar do espanhol ter sido ensinado de forma muito pontual em algumas instituições desde o século XIX, foi só nos anos 90 que o idioma começou a ganhar mais espaço nas escolas brasileiras, impulsionado pelo fortalecimento do Mercosul e pela valorização da integração com os países vizinhos. A aprovação da Lei no 11.161, em 2005, que obrigava a oferta do espanhol no ensino médio, foi um marco importante para os estudantes, professores e defensores do idioma. No entanto, essa conquista sofreu um duro golpe em 2017, quando a Reforma do Ensino Médio retirou essa obrigatoriedade, reacendendo o movimento dos estudantes como uma ferramenta essencial para a inclusão social e integração latino-americana.
Em um mundo de tensões e polarizações, a integração da América Latina deve seguir etapas concretas e práticas. O ensino de espanhol no Brasil tem o potencial de transformar gerações, permitindo que elas conheçam e acessem a história, a cultura e a identidade da nossa região, contribuindo para a desconstrução da herança eurocêntrica herdada de nossos processos de colonização.
No último secretariado da OCLAE ( Organização Continental Latino Americana e Caribenha dos Estudantes) em Honduras,realizado este mês, representantes de mais de 25 federações e organizações estudantis, do ensino médio, superior e de pós-graduação, de mais de 15 países reunidos em Tegucigalpa aprovaram a campanha da UBES com a OCLAE, que se concentra em defender um programa de governo que garanta o ensino do espanhol nas escolas de ensino médio, oportunidades de intercâmbio cultural em países hispanohablantes. Garantindo a contratação de professores de espanhol em todo Brasil, preparando corretamente os estudantes que poderão escolher o espanhol no ENEM. Importante destacar que esse programa não será apenas no ensino do idioma, mas sim na formação temática, cultural e histórica da América Latina.
Tornar o espanhol obrigatório nas escolas é mais que uma pauta educacional — é uma escolha de quem quer transformar realidades! É quebrar barreiras, se conectar com os nossos vizinhos e fortalecer a identidade latino-americana. Falar espanhol é abrir portas pra cultura, trabalho e novas possibilidades. Hacer futuro é agir com coragem!
Amanda Harumy, secretária executiva da OCLAE e doutora em Integração da América*