Por Layla Alves

Jerovia. Essas sete letras têm diversos significados na língua guarani, como bravura, acreditar e crer. Se fosse preciso definir os povos indígenas em uma palavra, seria jerovia.

Em 19 de abril de 1943, foi criado o então “Dia do Índio”. Atualmente, o nome da data foi alterado para “Dia dos Povos Indígenas”, visando ser inclusivo e respeitoso com as mais de 260 etnias ancestrais no Brasil. O objetivo do feriado, no entanto, continua o mesmo: celebrar os povos originários e suas histórias, reconhecendo a importância da preservação da cultura diversificada e promovendo o cumprimento dos seus direitos.

Mas os motivos para celebrar parecem cada vez mais distantes. Durante centenas de anos, os povos nativos foram atacados, abusados, colonizados, marginalizados e assassinados repetidamente — só no período de 2019-2021, ocorreu cerca de um caso de violência contra indígenas por dia, com a média anual de 373,8 casos, segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Em 2023, os números não demonstram um cenário mais otimista: de acordo com o Cimi, 1.331 indígenas morreram por omissão do poder público.

A violência contra os originários não se resume apenas ao bem-estar físico: a tomada forçada de suas terras, o descaso com a grilagem que persistiu por anos, o apagamento sistemático de sua língua nativa e de seus costumes são apenas alguns dos problemas enfrentados.

Dentro desse contexto, neste Dia dos Povos Indígenas, reunimos uma coletânea de 10 filmes para conscientizar sobre a luta e a cultura dos ancestrais que ainda estão vivos — tanto em suas aldeias quanto dentro das nossas veias — e que merecem, além de serem celebrados, a proteção por meio do Estado e da sociedade.

Pela bravura na resistência dos indígenas, a crença em suas tradições e a capacidade de acreditar que a história viva se mantém.

“Corumbiara” (2009)

Direção: Vincent Carelli
Onde assistir: Gratuito no YouTube

Sinopse: Em 1985, ocorreu um massacre indígena na Gleba Corumbiara, no sul de Rondônia. Tragédia essa que teria sido causada pelos fazendeiros de gado da região, que não queriam que as terras fossem demarcadas pela Funai, algo que impediria a exploração comercial delas. De tão bárbaro que foi, o fato ganhou fama de “fantasia” e caiu no esquecimento. Mas, a partir do resto das evidências e buscando pelos sobreviventes, o diretor Vincent Carelli passou 20 anos tentando entender essa história, além de abrir espaço para uma autocrítica das estratégias indígenas.

“Nuhu Mu Yõg Hãm, Essa Terra é Nossa” (2019)

Direção: Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu
Onde assistir: YouTube ou gratuito no site Katahirine

Sinopse: Antigamente, os brancos não existiam e nós vivíamos caçando com os nossos espíritos yãmĩyxop. Mas os brancos vieram, derrubaram as matas, secaram os rios e espantaram os bichos para longe. Hoje, as nossas árvores compridas acabaram, os brancos nos cercaram e a nossa terra é pequenininha. Mas os nossos yãmĩyxop são muito fortes e nos ensinaram as histórias e os cantos dos antigos que andaram por aqui.

“Teko Haxy – Ser Imperfeita” (2018)

Direção: Patrícia Yxapy, Sophia Pinheiro
Onde assistir: Gratuito no YouTube e EmbaúbaPlay

Sinopse: Um encontro íntimo entre duas mulheres que se filmam. O documentário experimental mostra a relação de duas artistas: uma cineasta indígena e uma artista visual e antropóloga não indígena. Diante da consciência da imperfeição do ser, entram em conflitos e se criam material e espiritualmente.

“A Flor do Buriti” (2023)

Direção: João Salaviza, Renée Nader Messora
Onde assistir: Netflix

Sinopse: Em 1940, duas crianças do povo indígena Krahô encontram, na escuridão da floresta, um boi perigosamente perto de sua aldeia. Era o prenúncio de um brutal massacre, perpetrado pelos fazendeiros da região. Em 1969, os filhos dos sobreviventes são coagidos a integrar uma unidade militar durante a ditadura brasileira.

“Karai ha’egui Kunhã Karai ‘ete — Os verdadeiros líderes espirituais” (2014)

Direção: Alberto Alves
Onde assistir: Gratuito no YouTube

Sinopse: Para nós, Guarani, são nossos avós que fortalecem a nossa sabedoria e a nossa memória, desde antigamente até hoje, para não esquecermos a nossa verdadeira história. Por isso, guardamos o nosso “nhandereko”, modo de ser Guarani; só assim enxergamos o passado, vivemos o presente e olhamos adiante.

“Krenak, Sobreviventes do Vale” (2019)

Direção: Andrea Pilar Marranquiel
Onde assistir: YouTube, Looke, Globoplay

Sinopse: Um povo perseguido. Violência dos colonizadores. Mão pesada da ditadura. Morte do Rio Doce causada pela lama da barragem da Samarco. E eles teimam em resistir!

“Raoni” (1978)

Direção: Jean-Pierre Dutilleux, Luiz Carlos Saldanha
Onde assistir: Gratuito no YouTube, DailyMotion

Sinopse: Conheça o dia a dia, a cultura, os costumes e as situações vividas pelas tribos que habitam a região do Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso, por meio da figura de Raoni, um cacique que busca ajuda do governo e de autoridades locais para frear o expansionismo branco em suas terras.

“Ga vī: A Voz do Barro” (2022)

Direção: Ana Letícia Schweig, Angélica Domingos, Gilda Wankyly Kuita, Iracema Gãh Té Nascimento e coletivo
Onde assistir: Gratuito no YouTube

Sinopse: Animação criada através das memórias narradas por Gilda Wankyly Kuita e Iracema Gãh Té Nascimento, com imagens e sons captados na Terra Indígena Kaingang Apucaraninha (PR), durante o encontro de mulheres “Ga vī: a voz do barro, conversando com a terra”, em 2021.

“Osiba Kangamuke – Vamos lá, criançada” (2016)

Direção: Thomaz Pedro, Tawana Kalapalo, Veronica Monachini, Haja Kalapalo
Onde assistir: Gratuito no Vimeo

Sinopse: O filme “Osiba Kangamuke – Vamos lá, criançada” é uma produção coletiva entre cineastas indígenas, não indígenas e antropólogos. O curta é resultado de uma oficina realizada com as crianças Kalapalo, que participaram não só na frente das câmeras, como de todo o processo de gravação. Da escola, onde aprendem o português, até os rituais e a luta ikindene, os pequenos Kalapalo apresentam as tradições a partir de sua própria perspectiva.

“O Abraço da Serpente” (2015)

Direção: Ciro Guerra
Onde assistir: Prime Video e Apple TV+

Sinopse: Théo é um explorador europeu que conta com a ajuda do xamã Karamakate para percorrer o rio Amazonas. Gravemente doente, ele busca uma lendária flor que pode curar sua enfermidade.