A geração Z e a disputa de sentido no mundo do trabalho
Jovens rejeitam exploração, exigem propósito e redesenham o trabalho com afeto, política e coletividade.
Muito tem se falado sobre a Geração Z — nascida entre 1995 e 2010 — como se fossem jovens frágeis, desinteressados, difíceis de liderar e pouco comprometidos com o trabalho. Essa narrativa, repetida à exaustão, tem servido mais para esconder um medo coletivo da mudança do que para entender o que realmente está acontecendo.
A entrada da Geração Z no mundo do trabalho escancara um choque de paradigmas. Essas pessoas cresceram em meio à hiperconectividade, ao colapso climático, à pandemia, ao desemprego estrutural, ao avanço do autoritarismo e a uma profunda crise de representatividade. Viram desde cedo que estabilidade não é garantida, que diplomas não são sinônimos de oportunidades e que adoecer em nome de uma carreira não é uma opção viável. Diferente das gerações anteriores, a Geração Z não quer se moldar ao trabalho tradicional — quer moldar o trabalho a partir de novos valores. Questionam hierarquias opressoras, recusam ambientes tóxicos, colocam limites para proteger sua saúde mental e buscam propósito, diversidade e flexibilidade. E quando isso não é possível, elas se recusam a permanecer.
Essa recusa, no entanto, não é desinteresse. É uma recusa consciente e política a formas de exploração que foram normalizadas por décadas. Não se trata de uma juventude descomprometida, mas de uma juventude que exige mais do que estabilidade — exige dignidade, escuta e sentido.
A comunicação ocupa um papel central nessa transformação. Para a Geração Z, comunicar não é apenas uma forma de se expressar, é uma estratégia política. São jovens que dominam a linguagem das redes, que transformam o meme em denúncia, o post em protesto, o vídeo em proposta. São criadores de conteúdo, articuladores de narrativas, ativistas digitais e influenciadores de causas. E fazem isso com estética, afeto e verdade.
Além disso, essa geração já entendeu que o trabalho do futuro precisa ser coletivo. Por isso, valorizam ambientes horizontais, colaborativos, diversos e criativos. Preferem projetos a cargos, impacto social a status, equilíbrio emocional a metas inalcançáveis. Não estão preocupadas em “subir na empresa”, mas em “transformar o ambiente”.
Essa nova forma de se relacionar com o trabalho pode incomodar, mas ela aponta para um futuro possível: menos vertical, menos violento e mais conectado com o que realmente importa. A Geração Z não veio para repetir modelos — veio para reinventá-los. E é justamente essa coragem de dizer “não” ao que adoece e “sim” ao que transforma que nos obriga a escutá-la.
Não estamos diante de uma crise de responsabilidade. Estamos diante de uma revolução de sentido.