
Especial Brazil Conference: Um papo com Nelinha do Babaçu
A Brazil Conference ocorre em 12 e 13 de abril em Boston, reunindo brasileiros para impulsionar inovação, economia e desenvolvimento.
Nos dias 12 e 13 de abril, acontece a Brazil Conference, um evento promovido por estudantes brasileiros em Boston para atrair o olhar do mundo para o Brasil e impulsionar a economia e o desenvolvimento do país. Para conhecer melhor os embaixadores da edição deste ano, a coluna irá conversar com todos eles até o início do evento para promover diálogo com os brasileiros que irão fomentar inovação em Harvard e MIT.
No papo de estreia, vamos conversar com Cornélia Rodrigues, a Nelinha, que é quebradeira de coco babaçu, e vai estar na conferência lutando pela redução das desigualdades com sua voz ativa na promoção de um projeto que está desmantelando o sistema. “A melhor maneira de acabar com a desigualdade é fazendo conexões e gerando oportunidade”, afirma.
Maranhense nascida em Palmeirândia, Nelinha carrega consigo saberes ancestrais sobre o babaçu, e é sócia do projeto Reflyta, que busca melhorar a vida das quebradeiras de coco nesta região e conectar as pessoas por meio da inovação sustentável. “A indústria de babaçu já existe há mais de um século, onde as verdadeiras responsáveis por mantê-la de pé nunca tiveram reconhecimento. A minha inovação está exatamente nisso; não é só sobre criar produtos extremamente importantes para os dias de hoje, mas aproveitar que o ambiental e o social estejam caminhando com o econômico”, salienta.

Com vocês, Nelinha do Babaçu!
André Menezes: O que motivou você a iniciar seu trabalho no terceiro setor e como foi o começo da sua jornada nessa área?
Nelinha do Babaçu: A situação de vulnerabilidade que presenciei na minha família foi o que me motivou. Sempre que voltava ao lugar onde nasci, encontrava todos na mesma situação e procurava maneiras de oferecer as mesmas oportunidades que eu estava tendo para todos da minha família. Queria que meu tio tivesse uma casa melhor, como a do meu pai, e que meus primos também pudessem melhorar de vida, assim como eu estava melhorando a minha. Posso dizer que foi a pobreza que me impulsionou.
AM: Poderia nos contar um pouco mais sobre o projeto específico que a levou a ser selecionado para a Brazil Conference? O que torna esse projeto especial e qual é o seu impacto na comunidade?
NB: O projeto que me levou à Brazil Conference foi a criação de um sachê para combater a fome e a desnutrição de crianças de 6 meses a 5 anos, substituindo o amendoim pelo coco babaçu. Dessa forma, mulheres que são quebradeiras de coco babaçu, em situação de vulnerabilidade econômica e social, podem ter uma melhor renda e alcançar dignidade financeira, contribuindo para o combate à desnutrição infantil com seu trabalho. Isso também melhora a qualidade de vida delas, já que, através da cooperativa, são as fornecedoras do coco babaçu para a produção do sachê. Assim, duas partes vulneráveis são beneficiadas. Para mim, sustentabilidade e humanidade devem caminhar lado a lado.
AM: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao longo do seu trabalho e como conseguiu superá-los?
NB: O maior desafio foi provar cientificamente que minhas ideias faziam sentido, e para isso, era necessário financiamento para pesquisas. Encontrar alguém disposto a financiar uma pesquisa baseada nas informações de uma pessoa que não vem do setor acadêmico, sem pós-graduação, foi difícil. Mas, graças a Deus, encontrei um investidor-anjo. A maior dificuldade é encontrar patrocinadores. Superei isso com muita fé e força de vontade.
AM: Quais inovações ou mudanças você gostaria de implementar em sua organização nos próximos anos para aumentar o impacto social?
NB: Gostaria de implementar a construção de 30 casas de babaçu, que são simples e artesanais, onde as quebradeiras poderão armazenar o coco babaçu durante o inverno, um período de muita chuva, garantindo renda mesmo nessa época. Também quero conseguir uma câmara frigorífica para a cooperativa, para que elas tenham renda o ano inteiro. Isso ajudaria a melhorar a qualidade de vida delas e de suas famílias, permitindo que seus filhos façam cursos preparatórios para o Enem ou outros processos seletivos, e que elas mesmas possam fazer cursos que aumentem suas rendas. Meu objetivo é sempre gerar mais oportunidades para aqueles que precisam e querem.
AM: O que você espera aprender ou vivenciar na Brazil Conference, e como pretende aplicar essa experiência em seu trabalho no Brasil?
NB: Espero demonstrar a necessidade de criar oportunidades para que as pessoas percebam o quanto o babaçu pode ser uma das melhores opções para novas indústrias.Queremos criar algo onde o social, ambiental e econômico estejam juntos. Com certeza, será uma experiência inesquecível e vou aprender muito. Quando voltar ao Brasil, quero aproveitar todas as oportunidades para mostrar a importância de pessoas como eu terem um espaço na Brazil Conference, e para que mais pessoas conheçam esse trabalho maravilhoso. Como costumo dizer: se quer combater a desigualdade, crie oportunidades e faça conexões. Acredito que a Brazil Conference me dará muitas oportunidades para mudar muitas outras histórias, não só onde nasci, mas em outras regiões do Maranhão e do Brasil.