Por Thaís Felgueiras

Elphaba sempre foi verde, e ela deixa isso claro nos primeiros minutos do filme. O tom de pele diferenciado da protagonista de Wicked não é causado por enjoo ou por ter comido capim quando criança. Ela sempre foi verde, mas agora também é negra, e isso já deveria ter acontecido há muito tempo.

Indicado a dez categorias do Oscar 2025, a adaptação cinematográfica do musical de grande sucesso da Broadway é uma reinterpretação do clássico O Mágico de Oz. A trama acompanha a juventude de Elphaba (Cynthia Erivo) e Glinda (Ariana Grande) durante seu tempo de estudos na Universidade Shiz e os acontecimentos que as levaram a se tornarem a Bruxa Má do Oeste e a Bruxa Boa do Norte, respectivamente.

Embora Wicked e sua protagonista verde gerem identificação para diferentes tipos de pessoas que reconhecem partes de sua vivência e personalidade em Elphaba, a história ressoa particularmente forte em mulheres negras. Afinal, o fator racial da narrativa é inegável. Elphaba é alvo de rejeição e discriminação por seu tom de pele e se revolta contra o preconceito e injustiça social presente em Oz. Esse aspecto central da personagem se torna ainda mais relevante quando Cynthia Erivo, uma mulher negra, assume o papel no cinema.

É importante ressaltar que, em quase 22 anos de apresentações na Broadway desde a estréia do musical em 2023, esse papel de Elphaba nunca foi interpretado em tempo integral por uma mulher negra. As atrizes que deram vida à Elphaba nos palcos de Nova York sempre foram predominantemente brancas. A escolha de Erivo para o papel representa uma ruptura nessa tradição e carrega uma importância simbólica profunda. 

Em entrevista ao The New York Times, ao ser questionada sobre os motivos de achar que não seria escolhida para o papel, Cynthia Erivo explica: “Historicamente, mulheres negras nunca foram realmente vistas para o papel. Se foram, elas não conseguiram, e se conseguiram, normalmente eram alternantes ou substitutas. […] Então, eu pensei que eles não estavam procurando por mim.” O papel da Bruxa Má do Oeste foi interpretado, em tempo integral, apenas uma vez por uma mulher negra, Alexia Khadime, no elenco do West End, em Londres.

A importância da atriz britânica para a produção do longa vai muito além de suas habilidades de canto e atuação. A presença de Erivo no filme não apenas traz uma nova perspectiva e camada de profundidade para a personagem, mas também amplia a conexão com uma parte do público. Além de quebrar a tradição de não escalar atrizes negras para o papel protagonista de forma titular, o que reforça que essas mulheres não têm espaço em OZ, a escolha de adicionar Cynthia Erivo ao elenco da adaptação abre 

portas para que mais mulheres negras se sintam vistas e representadas nessa história tão marcante.

Como Elphaba reforça ao final do filme: “todos têm direito de voar.” O caminho pode não ser fácil, mas a presença eternizada de Cynthia Erivo nessa obra mostra que talvez isso seja possível. As portas de Oz precisam estar abertas.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.