Por Noelle Pedroso

Apesar de avanços recentes no reconhecimento do terror em premiações de prestígio, o Oscar 2025 repetiu um padrão recorrente: a exclusão de grandes atuações. As performances de Lily-Rose Depp (Nosferatu) e Margaret Qualley (A Substância), amplamente elogiadas pela crítica, foram deixadas de lado pela Academia.

As omissões reacendem o debate sobre a resistência do Oscar em reconhecer o terror como um gênero digno de premiação nas principais categorias. Embora Demi Moore tenha quebrado essa barreira ao garantir uma indicação por sua atuação em A Substância, e Coralie Fargeat por sua excelente direção, a falta de reconhecimento a Depp e Qualley evidencia uma tendência de desvalorização do gênero e de suas principais protagonistas.

Historicamente, as mulheres desempenharam papéis essenciais nesse universo – seja como protagonistas icônicas, diretoras ousadas ou roteiristas que reinventam narrativas. Desde as lendárias final girls, como Sally Hardesty em O Massacre da Serra Elétrica, que desafiaram convenções e redefiniram a representação feminina no horror, até cineastas como Coralie Fargeat, que, com A Substância, trouxe uma abordagem visceral e autoral ao gênero.

O terror tem sido marginalizado pelo Oscar, com poucas exceções ao longo das décadas. Filmes como O Silêncio dos Inocentes (1991) e Corra! (2017) conseguiram quebrar essa barreira e conquistar prêmios em categorias principais, mas são casos raros.

O descaso é ainda maior quando se trata de atuações femininas no gênero. Em 2019, Toni Collette foi aclamada por sua atuação visceral em Hereditário, mas sua performance foi ignorada pela Academia, gerando indignação entre críticos e fãs. O mesmo aconteceu com Lupita Nyong’o, que entregou uma das atuações mais impressionantes de sua carreira em Nós (2019), mas não recebeu sequer uma indicação.

O caso de Lily-Rose Depp segue essa mesma linha. Em Nosferatu, de Robert Eggers, a atriz trouxe profundidade e magnetismo ao papel de Ellen Hutter, equilibrando fragilidade e força em uma releitura moderna do clássico do terror. A crítica especializada destacou sua performance como uma das melhores do ano, mas, ainda assim, a Academia optou por ignorá-la.

O mesmo aconteceu com Margaret Qualley, que brilhou ao lado de Demi Moore em A Substância, um terror corporal que também funciona como crítica social. Qualley entregou um desempenho intenso, combinando nuances psicológicas e um compromisso físico extremo, mas foi completamente deixada de fora das indicações.

Demi Moore e o reconhecimento merecido em A Substância

Entre os grandes destaques da temporada, Demi Moore foi magnífica com sua Elisabeth Sparkle intensa e perturbadora em A Substância, consolidando-se como uma das grandes forças do terror contemporâneo. Sua atuação recebeu aclamação da crítica e do público, provando que experiência e versatilidade podem redefinir a presença feminina no gênero.

Veterana de Hollywood, Moore entregou uma das interpretações mais viscerais de sua carreira. O filme exigiu um comprometimento físico e emocional extremo, e Moore surpreendeu com uma performance corajosa e inquietante. Sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz foi um dos poucos acertos da Academia nesta temporada, evidenciando que, quando bem executado, o terror pode romper barreiras e ser reconhecido por sua qualidade artística.

No entanto, sua nomeação ressalta um contraste gritante: se por um lado Moore conquistou o reconhecimento, outras atuações femininas igualmente impactantes foram ignoradas.

Se a resistência da Academia em indicar atuações femininas no terror já é um problema histórico, a situação é ainda mais crítica para diretoras que trabalham no gênero. Em 2021, Julia Ducournau fez história ao se tornar a segunda mulher a vencer a Palma de Ouro em Cannes com Titane; no entanto, o Oscar sequer cogitou sua indicação.

Este ano, Coralie Fargeat foi indicada, mas isso não garante que a Academia lhe conceda a estatueta, considerando o histórico de outras cineastas do gênero. O filme recebeu muitos elogios por sua estética, subtexto e direção ousada, qualidades que o torna um forte concorrente ao Oscar.

O padrão de exclusão de diretoras do terror contrasta com a crescente presença de mulheres no gênero. Jennifer Kent, com O Babadook (2014), Nia DaCosta, com A Lenda de Candyman (2021), e a própria Ducournau, com Raw (2016) e Titane (2021), são apenas alguns exemplos de cineastas que revolucionaram o terror, mas foram ignoradas pelo Oscar.

O futuro do terror no Oscar

Se há um pequeno avanço nesta edição, ele vem com a indicação de Moore e Fargeat, reconhecimentos que, embora importante, não compensa as demais omissões. Suas nomeações indicam que a Academia pode estar mais aberta a considerar performances femininas no terror, mas ainda de forma limitada e seletiva.

Enquanto isso, as omissões de Lily-Rose Depp e Margaret Qualley apontam que o caminho para uma real valorização do terror no Oscar ainda é longo. O gênero, historicamente subestimado, continua a ser um dos mais inovadores do cinema, mas precisa lutar constantemente para ser reconhecido.

Com o crescente sucesso de mulheres no terror, tanto na frente quanto atrás das câmeras, é provável que essa barreira eventualmente seja rompida. Resta saber quanto tempo ainda levará para que a Academia deixe de lado seus preconceitos e reconheça plenamente o impacto do terror – e das mulheres que o transformam.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.