Entrevista de Milei sobre escândalo de criptomoedas foi editada a pedido do governo argentino

A divulgação de um vídeo inédito da entrevista do presidente argentino Javier Milei, realizada nesta segunda-feira (17) pelo canal de televisão TN e na qual um assessor interrompe o diálogo para impedir que o presidente diga algo que o comprometa judicialmente pelo “criptofiasco”, gerou uma grande polêmica na Argentina.

Nas imagens divulgadas na noite de segunda-feira (17), logo após a entrevista ser transmitida pela televisão, na rede social X, Milei é questionado sobre a promoção que fez da criptomoeda $LIBRA em suas redes sociais como chefe de Estado, o que levou o jornalista a admitir que isso poderia gerar problemas legais.

O jornalista insistiu com Milei que ele era o presidente, enquanto o presidente reiterou que o fazia a partir de sua conta pessoal, como cidadão, momento em que o assessor Santiago Caputo interrompeu a entrevista.

“Retorno a $LIBRA para encerrar. A juíza que investigará é (María) Servini. O Estado vai fazer uma apresentação espontânea? Você vai se apresentar? “O promotor público vai aparecer?”, perguntou o jornalista do TN, Jonatan Viale, a Milei.

“A verdade é que questões legais não são minha praia. Seria imprudente da minha parte lhe contar isso com antecedência. Quem melhor entende do assunto é o nosso Ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona”, respondeu o presidente.

A entrevista de Milei foi interrompida

O jornalista insistiu que Milei participou da promoção da criptomoeda como presidente, mas o presidente se defendeu afirmando que era sua “conta pessoal”.

Na verdade, o jornalista lhe disse que em sua conta pessoal ele se anuncia como economista, mas na realidade é presidente.

No meio dessa conversa, Caputo interrompeu a entrevista e falou no ouvido de Milei, depois pediu que a jornalista repetisse a pergunta.

“Eu entendo. Eu percebo. “Isso poderia causar um problema judicial”, admitiu Viale.

O porta-voz presidencial Manuel Adorni esclareceu na terça-feira que não havia “nada de errado” em abordar a questão judicial e que Caputo interrompeu a entrevista porque a resposta do presidente poderia criar “confusão”.

“Na minha opinião e na opinião do presidente, Santiago Caputo encurtou a entrevista. Não havia nada de errado, ele percebeu que isso poderia causar confusão entre alguns da audiência e decidiu encurtar a entrevista”, disse Adorni ao canal A24.

Ministro da Justiça argentino não defenderá Milei

Por sua vez, o governo argentino esclareceu que o Ministro da Justiça, Mariano Cúneo Liberano, não defenderá o presidente Javier Milei das acusações contra ele por sua participação no lançamento da criptomoeda $LIBRA, após as declarações do presidente sobre o assunto.

“Ele é o Ministro da Justiça e se dedica às suas funções específicas no Ministério”, disse o porta-voz presidencial Manuel Adorni, quando questionado sobre o envolvimento de Cúneo Libarona na defesa de Milei.

O porta-voz também disse que “ainda não se sabe” quem representará o presidente no tribunal e se referiu ao incidente como uma questão “muito menor”.

Adorni também se referiu ao papel da Força-Tarefa Investigativa (UTI), criada pelo presidente “com o propósito de iniciar uma investigação” sobre o caso LIBRA: “O que a UTI fará é coletar informações e apresentá-las aos tribunais, ela não investigará. Nesses casos, o Escritório Anticorrupção é quem investiga os funcionários e, nesses casos, o Departamento de Justiça é quem pode investigar o restante dos fatos.

O porta-voz acrescentou que “todas as informações que puderem ser coletadas e que forem exigidas (pelos tribunais) serão apresentadas”.

A divulgação do corte nas redes sociais

Sobre os cortes reportados no X, o porta-voz considerou que é “o jogo de estragos que querem fazer do outro lado”.

“Todos sabem que o Presidente não sugere uma única questão ou um único tema; senta-se, ouve as perguntas e as responde. “Estive em todas as entrevistas do presidente e a dinâmica é sempre a mesma”, disse Adorni, que também destacou que Milei alegou que a intervenção de Caputo foi “desnecessária”.

O porta-voz presidencial tentou assim justificar uma situação que gerou grande polêmica na Argentina, justamente quando o Governo de Javier Milei atravessa uma grande crise devido ao caso da criptomoeda $LIBRA, que foi promovida pelo presidente em 14 de fevereiro em sua conta X, antes de entrar em colapso.

Milhares de investidores relataram ter feito apostas malsucedidas no ativo após a mensagem inicial do presidente, que foi apagada logo depois e seguida por outra retirando seu apoio ao projeto, com o qual ele alegou não ter nenhuma ligação ou conhecimento de seus detalhes.

Por isso, o presidente recebeu diversas denúncias na Argentina e até nos Estados Unidos, além de um pedido de impeachment por deputados da oposição.

*Com informações da Agencia EFE