O projeto Txai Band, que propõe um encontro intercultural, lança seu primeiro disco
Paulo Novaes, vencedor do Grammy Latino 2021, e Luizga, conhecido por fundar as bandas Graveola e Rosa Neon, se unem no trabalho Txai Band.
Por Noé Pires
Txai Band, é um projeto inédito encabeçado por Luiz Gabriel Lopes e Paulo Novaes com jovens artistas da comunidade indígena Huni Kuin
Paulo Novaes, vencedor do grammy latino por melhor canção em 2021, e Luizga, grande compositor conhecido por fundar as bandas Graveola e Rosa Neon, se unem no trabalho Txai Band.
Som ambiente ao fundo, conversas, um cenário sonoro estabelecido com risadas de crianças, conversas, uma voz cantarolando trechos de uma canção, junto a uma outra voz. Logo, uma terceira voz se junta, alguém pede para que a música citada seja enviada e, na sequência, outra voz faz o mesmo pedido. Este é o primeiro frame de um filme, ou o primeiro capítulo de um audiobook, ou, mais especificamente, a introdução de um disco.
A canção citada (e requisitada), é Buni Bimi, fenômeno na aldeia, nascida a partir de um encontro intercultural. Dessa forma começa o primeiro disco do projeto Txai Band, idealizado pelos artistas Luizga (ou Luiz Gabriel Lopes) e Paulo Novaes, junto de artistas Huni Kuin da aldeia Chico Curumin, localizada no Acre. TXAI BAND chegou nas plataformas no dia 4 de dezembro, quarta-feira, em um lançamento da Loco Records.
A mesma vontade de pesquisa uniu os dois artistas. Luiz Gabriel Lopes, ou Luizga, desenvolve um trabalho com os Huni Kuin — povo indígena que ocupa uma região entre o Acre e o sul do Amazonas, na fronteira entre o Brasil e o Peru — desde que foi fazer uma residência artística em 2019 na aldeia Chico Curumim, no Acre. A história continuou e Luiz Gabriel visitou o local várias outras vezes. Em janeiro de 2023, Paulo Novaes se juntou a ele e a viagem dos dois artistas foi a semente para o projeto Txai Band. Entre gravações, trocas, encontros e composições, um prolífico registro nasceu. O trabalho conta com quatro canções, três vinhetas e passeia por diversas possibilidades de gêneros, em uma mistura da MPB com a música tradicional Huni Kuin.
O trabalho se desdobrou em geografias diferentes. Houve gravações na aldeia localizada em Jordão, no Acre, com MÍSTICA SAMANY, TUYN KAIA e outros artistas Huni Kuin, mas também houve gravações em Alambari, São Paulo, em Lisboa, e em Utrecht, Holanda. As gravações contam com Luiz Gabriel Lopes, Paulo Novaes, Mestrinho, Nyron Higor, Breno Ruiz e outros nomes da nova música brasileira.
Um encontro intercultural
O disco tem canções tanto com letras em português mas com pinceladas de produções típicas de canções Huni Kuin, quanto canções no idioma dos Huni Kuin mas com finalizações que dialogam com produções mais ocidentais. É interessante que, entre as faixas, existem vinhetas, que são chamadas de “HÃTXA”, que significa “conversa” em Hãtxa Kuin (língua indígena tradicional do povo Huni Kuin).
A vinheta que introduz o disco mostra o impacto da imersão artística na comunidade, já que todos estavam com a canção na cabeça, que virou um hit da aldeia.
“A gente usa o nome das crianças, né, isso pegou muito rápido ali entre eles e foi muito massa, então a gente quis trazer esse momento também, como o LG já usou o termo, é como se fosse um audiobook” comenta Paulo Novaes.
BUNI BIMI foi a primeira canção que nasceu dentro do projeto, e ela surgiu a partir de uma brincadeira com os nomes das crianças da aldeia. Paulo e Luiz Gabriel estavam na casa da Tamani e perceberam que havia uma plasticidade interessante com aqueles nomes: Buni, Bimi, Siã, Busã. Depois de um tempo, os artistas perceberam que poderiam desenvolver, com esses nomes, uma canção, e chamaram Tuin Kaya para compor uma parte em Hãtxa Kuin. A canção é um encontro de idiomas, mas também um olhar de esperança para essas novas gerações.
“Buni Bimi é uma parceria tripla entre Paulinho, Tuyn Kaya e eu, ali no ambiente da floresta, na aldeia, e ela traz uma estética dos assuntos e a linguagem, os nomes deles, pra dentro do material poético da canção.
E o mais interessante é que virou um hit na aldeia, e não só na aldeia Chico Curumin, mas como em todas as aldeias do Rio Jordão”, comenta Luizga.