Em um novo episódio de violência contra povos indígenas no Brasil, a Tropa de Choque da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul invadiu na manhã desta quarta-feira (27) a aldeia Jaguapiru, na Reserva Indígena de Dourados. A ação violenta ocorreu em resposta a um protesto pacífico dos indígenas Guarani Kaiowá e Terena, que reivindicavam o acesso à água potável, um direito básico negado à comunidade há décadas.

De acordo com relatos da Aty Guasu e do Conselho do Povo Terena, os policiais dispararam balas de borracha, lançaram bombas e prenderam indígenas, causando ferimentos em pelo menos 20 pessoas, incluindo mulheres, crianças e lideranças religiosas. A ação gerou revolta e indignação entre os povos indígenas e a sociedade civil.

“A situação é desesperadora. Nossos parentes estão sofrendo com a falta de água e, em vez de receberem ajuda, são reprimidos com violência. Isso é inaceitável”, afirmou um representante do Conselho do Povo Terena.

Falta de água e violência policial

A crise hídrica na Reserva Indígena de Dourados afeta mais de 13 mil pessoas, que vivem em condições precárias e sem acesso a um recurso essencial para a vida. A falta de água potável tem gerado diversos problemas de saúde e prejudicado a qualidade de vida da comunidade.

Diante da omissão do poder público, os indígenas decidiram realizar um protesto pacífico para chamar a atenção para a situação. No entanto, a resposta do governo foi a repressão violenta, com o uso desproporcional da força policial.

Denúncias de violência e violação de direitos

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) coletou diversos vídeos que registram a ação violenta da polícia, mostrando o uso de bombas, balas de borracha e spray de pimenta contra os manifestantes. As imagens são chocantes e evidenciam a brutalidade da repressão.

“A invasão da aldeia foi um ato de covardia. Os policiais atiraram em tudo que se movia, inclusive em mulheres e crianças. Isso é uma violação grave dos direitos humanos”, denunciou Cristiane Terena, representante da comunidade, conforme noticiado pelo Conselho.

A Aty Guasu e outras organizações de apoio aos povos indígenas condenam a ação da Polícia Militar e exigem que os responsáveis sejam punidos. As entidades também cobram do governo estadual medidas urgentes para garantir o acesso à água potável para as comunidades indígenas da Reserva de Dourados.

Governo federal anuncia medidas

o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) condenou o uso desproporcional de força contra manifestantes indígenas e destacou a gravidade da crise hídrica na região. A pasta anunciou, em nota divulgada na noite desta quarta-feira (27), medidas emergenciais para mitigar a crise, incluindo o investimento de R$ 2 milhões para a construção de dois super poços de água na reserva. Além disso, a pasta destacou as iniciativas que já estavam em curso, como um convênio com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) para construção de poços artesianos, no valor de R$ 575 mil, e uma parceria com o Itaipu Binacional, que prevê investimentos de R$ 60 milhões em melhorias nos sistemas de abastecimento de água em oito aldeias, beneficiando 34 mil pessoas.

Os protestos também expuseram a necessidade de ações coordenadas entre diferentes níveis de governo. O MPI afirmou que está em diálogo com o governo do estado, a Secretaria de Segurança Pública e o Ministério Público Federal para assegurar os direitos constitucionais à livre manifestação e à segurança dos manifestantes. O Departamento de Mediação de Conflitos do ministério acompanha de perto a situação junto às lideranças indígenas.

A nota destaca ainda k Projeto Indígena Cidadão, Fronteira Cidadã, que destinará R$ 22 milhões ao Mato Grosso do Sul para ações em 44 territórios indígenas. Com recursos do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), o projeto inclui a construção de sistemas de abastecimento de água, integrando esforços para melhorar as condições de vida nas comunidades indígenas da faixa de fronteira.

“Estamos trabalhando para solucionar emergências, mas também para estruturar políticas de longo prazo que atendam às necessidades reais das comunidades”, declarou a ministra Sonia Guajajara.