Mostra de Cinema de Gostoso encerra sua 11ª edição se consolidando como um dos mais importantes festivais brasileiros
Encerramento do evento teve o filme “Kasa Branca”, de Luciano Vidigal, como o grande vencedor; Confira a lista abaixo
Por Lilianna Bernartt
Terminou na noite desta terça-feira (26), a 11ª Mostra de Cinema de Gostoso. Durante cinco dias, o público do Rio Grande do Norte acompanhou de maneira fervorosa uma programação composta por curtas e longas-metragens. Um das salas, o carro chefe da mostra, é uma sala montada a céu aberto, com uma auspiciosa e surpreendente estrutura de projeção e som, de deixar os sistemas Dolby Atmos com orgulho.
Nesta sala é exibida a programação principal – a Mostra Competitiva. Já para a Mostra paralela – Mostra Panorama – foi projetada uma sala de cinema em formato Geodésico, que replica a estrutura das grandes salas nacionais. Tecnologia avançada à parte, a Mostra de Cinema de Gostoso merece destaque por sua programação.
Desde 2013, a Mostra ocorre anualmente em novembro, época em que a grande maioria dos festivais brasileiros de cinema já ocorreu. Importante ressaltar isso porque o que poderia ser um empecilho à qualidade do evento, acaba sendo transforma em trunfo, a partir do momento em que a programação não se compromete com fatores limitadores como ineditismo ou temática. Sendo assim, a curadoria explora os filmes de forma mais apurada, se concentrando em menor quantidade e maior decupagem das obras.
Aliás, decupagem talvez seja um outro ponto essencial para o sucesso do festival. A mostra investe na formação de seu público, proporcionando uma experiência imersiva de alto nível, com debates, discussões, cursos, oficinas e seminários. Todo esse cuidado dispensado em estruturas, tecnologias, apuração e aprofundamento da sua programação reflete diretamente no foco final do trabalho: o público, que por sua vez, comparece e consome a mostra de forma fervorosa.
Enquanto acompanhamos por anos a problemática da formação de público nas salas de cinema a nível nacional, a Mostra de Cinema de Gostoso se mostra como um case de sucesso. A formação de público é vital para absorção e perpetuação da produção nacional. Não só do ponto de vista econômico, mas da constituição do pensamento crítico, individual e social.
A reflexão social intrínseca no ato de consumo da arte impacta diretamente na formação identitária de um país. Colabora para a predisposição para debates e absorção de novos temas, fazendo com que a evolução seja progressiva. Sem contar no impacto de formação de novos e novas proponentes, realizadores e realizadoras. Do ponto de vista econômico, o mercado cinematográfico gera receita de extremo impacto para economia nacional e já foi provado por “A + B” que investir em cinema nacional gera receita e lucro.
Podem parecer óbvios os pontos aqui elencados, mas é sempre bom lembrar que a indústria audiovisual ainda se embasa em uma produção independente, carente de regulamentação de um mercado de trabalho que, em sua grande maioria, funciona de forma marginal, injusta e restrita, o que reverbera diretamente na realização de produções nichadas e/ou que lutam pelo mínimo: o acesso ao público brasileiro.
A Mostra de Cinema de Gostoso é um festival de cinema que se propõe ao tempo e persistência necessários ao trabalho de formação de público, com investimento direto na mão de obra local, convidando e contratando a mesma para aprender, trocar, participar e ainda lucrar com o processo.
É realmente emocionante ver um festival de cinema sendo ovacionado pelo público e fica até mesmo incontrolável o desejo talvez utópico de que tais procedimentos se amplifiquem e se constituam como verdades básicas da realidade do nosso cinema nacional.
Enquanto não atingimos esse objetivo, é importante o exercício da análise, do aprendizado, da consciência de como modelos como esse impactam e de que forma podemos “repassar a palavra”. Por tudo isso, a Mostra de Cinema de Gostoso encerra sua 11ª edição se consolidando um dos mais prolíferos e almejados festivais do calendário cinematográfico.
Confira os vencedores desta edição:
PRÊMIO MISTIKA E DOT – CURTA-METRAGEM
(Prêmio no valor total de 8.000,00 em serviços de pós-produção)
Bati da Vila (Direção: Raquel Cardozo; RN; 2024)
PRÊMIO MISTIKA E DOT – LONGA-METRAGEM
(Prêmio no valor total de 30.000,00 em serviços de pós-produção)
Kasa Branca (Direção: Luciano Vidigal; RJ; 2024)
PRÊMIO DA IMPRENSA – MELHOR CURTA-METRAGEM
Hoje Eu Só Volto Amanhã (Direção: Diego Lacerda; PE; 2024)
PRÊMIO DA IMPRENSA – MELHOR LONGA-METRAGEM
Manas (Direção: Mariana Brennand; PE; 2024)
PRÊMIO DO PÚBLICO – MELHOR CURTA-METRAGEM
Hoje Eu Só Volto Amanhã (Direção: Diego Lacerda; PE; 2024)
MENÇÃO HONROSA
Raposa (Direção: Margot Leitão e João Fontenele; CE; 2024)
PRÊMIO DO PÚBLICO – MELHOR LONGA-METRAGEM
Kasa Branca (Direção: Luciano Vidigal; RJ; 2024)