Por Lilianna Bernartt

Nesta semana, a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo encerrou sua 48ª edição, e como de costume, explorou a diversidade de temas e nacionalidades, promovendo um intercâmbio cinematográfico que proporcionou ao público um olhar sobre as produções e pensamentos globais, bem como, um panorama auspicioso do nosso cinema nacional.

A Índia ocupou lugar de destaque na programação com cerca de 30 longas-metragens do país, que foram reunidos na Mostra Foco Índia e também na retrospectiva em homenagem ao cineasta Satyajit Ray. O recorte ofereceu uma visão abrangente da cinematografia do país, que é líder mundial na produção de filmes.

Se por um lado os documentários e ficções trouxeram um olhar para novos pensamentos e realizadores, por outro, ressaltaram a perpetuação/repetição histórica, no que diz respeito aos movimentos de afronta à democracia, a exemplo do Conflito atual no Oriente Médio, bem como, as tensões políticas no Brasil e no mundo, com a ascensão de governos fascistas.

“Temos que voltar para tempos em que não havia guerra, escravidão e todos os tipos de coisas horríveis que vivenciamos. Voltarmos a uma possibilidade de vivermos em um mundo igualitário (…) Esse é o futuro que eu espero, e é sobre isso que ‘Megalópolis’ fala”, comentou Francis Ford Coppola em sua ilustre presença na Mostra.

Filmes como o belo, potente e emocionante “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles; o documentário cirúrgico de Sandra Kogut “No Céu da Pátria Neste Instante”, e até mesmo o pomposo “Megalópolis”, de Francis Ford Coppola, provocaram a reflexão quanto a presentificação de um passado e a necessidade latente de mudança.

Dentro deste cenário de provocação, tivemos a efervescência de um cinema nacional em sua abundância criativa, com obras repletas de entusiasmo, qualidade e frescor. Um cinema nacional com muita vontade de contar suas histórias, sem timidez ou receios.

Foi um espetáculo de exuberância desta safra nacional. Dentre alguns dos premiados, tivemos Walter Salles com o melhor filme nacional do ano, “Ainda estou aqui” (o filme entra em cartaz no dia 7 de novembro); Manas”, de Marianna Brennand, que denuncia de forma corajosa ciclos de abusos interparentais ocorridos no Pará; Sérgio Machado com um olhar precioso e exclusivo acerca da intimidade de três Obás de nossa história – Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé; Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha que, junto aos Yanomami, evocam a urgente reflexão acerca da grave crise climática a qual estamos submetidos com o filme “A Queda do Céu”; o honesto, corajoso e poderoso “Malu”, de Pedro Freire, dentre muitos outros que engrossam a lista.

Pós turbilhão de inconsistências e boicotes, estamos presenciando um momento de “esplendor” do cinema nacional, com obras nacionais ousadas, que buscam e aprimoram narrativas, gêneros e estilos cinematográficos.

Por mais um ano, a Mostra Internacional em São Paulo se reafirma como um dos mais importantes eventos cinematográficos nacionais, com contribuição direta para o fomento e divulgação do nosso cinema aqui e fora do país; contribuindo, ainda, para a formação de público e (re)ocupação das salas de cinema. Pela primeira vez em anos, tivemos sessões lotadas, sessões extras, salas cheias para conferir os mais de 415 filmes, em 29 salas de cinemas e espaços culturais de São Paulo disponibilizados pela Mostra.

Se você almeja um repeteco ou caso não tenha conseguido acompanhar a Mostra, não perca a repescagem, que está acontecendo desde o dia 31 de outubro, em que serão exibidos 44 títulos que integraram a programação da 48ª Mostra.

A repescagem acontece até o dia 3 de novembro no Cine Satyros Bijou, e até dia 6 de novembro no CineSesc e a programação completa você pode conferir através do site oficial da Mostra.