Cooperativas da Reforma Agrária vão poder ser financiadas com aportes de pessoas físicas
Qualquer pessoa vai poder investir na agricultura familiar por meio da plataforma de financiamento do Finapop, com rendimento de 11% ao ano
O FINAPOP (Financiamento Popular para Produção de Alimentos Saudáveis) inicia a primeira oferta para investimentos na plataforma voltada para o perfil pessoa física, com aportes a partir de R$100,00 (cem reais). A plataforma oferece uma oportunidade para que qualquer um possa impactar novos negócios e participar de um movimento com propósito. Os investimentos possuem uma remuneração pré-fixada de 11% ao ano, superior à poupança.
A organização chama atenção para o investimento com propósito porque ele possibilita financiamentos que promovem a transição agroecológica. Os investidores vão contribuir com projetos de agricultura familiar, que produzem alimentos diversificados e saudáveis. Em tempos de emergência climática, a iniciativa é uma forma de enfrentar a crise, gerando impactos ambientais, sociais e econômicos.
“Ao viabilizar financiamentos justos e sustentáveis, a plataforma constrói novas relações no mercado financeiro, fundamentadas na preocupação com a humanidade e com a natureza, solidificando-se como uma ferramenta essencial para a transformação da agricultura e da economia no Brasil”, destaca o diretor executivo do Finapop, Luis Costa.
O Finapop foi fundado em 2020 e tem se destacado como uma ferramenta de transformação econômica e social no Brasil. Em quatro anos, ele viabilizou 109 financiamentos, totalizando 70,2 milhões de reais , distribuídos entre 61 cooperativas e associações das áreas de reforma agrária. Esses projetos beneficiaram diretamente 25 mil famílias em todas as cinco regiões do país.
O negócio foi concebido para facilitar o acesso ao crédito por organizações de famílias assentadas, tradicionalmente excluídas pelos mecanismos financeiros convencionais. Desde sua origem, ele atende às demandas das cooperativas e associações, e além do financiamento, proporciona assessoria às organizações que acessam o crédito, conectando-as a um ecossistema de ferramentas e soluções para os desafios da agricultura e comercialização.
Luis destaca que a ideia é servir de ponte entre a cidade e o campo, unindo a agricultura familiar com o desejo de investidores em apoiar projetos comprometidos com a transição agroecológica, a soberania alimentar e o respeito ao meio ambiente. “É uma ferramenta essencial para aqueles que cultivam alimentos saudáveis e com consciência ambiental, fundamentais para a vida e sustentabilidade do planeta”, reforça.
O Finapop oferece três linhas de financiamento: CAPEX, que visa aprimorar as agroindústrias por meio da construção, reforma, expansão de instalações e aquisição de maquinário, aumentando a produção e a autonomia das cooperativas; Capital de Giro, crucial para a aquisição de matéria-prima, melhorando a liquidez e a capacidade de remuneração justa dos produtores, fortalecendo a relação com a base cooperada; e Capital Semente, destinado ao desenvolvimento de novas iniciativas e ao avanço de associações e cooperativas, promovendo a inclusão e o crescimento produtivo e organizativo.
Casos de Sucesso
A Cooperativa Da Terra, localizada em Itaberá/SP, com atuação voltada para a produção de grãos, é um exemplo de sucesso. A organização teve acesso às três linhas de financiamento do Finapop, totalizando um empréstimo de 2,3 milhões de reais. . Com esse valor, a cooperativa realizou a instalação de uma biofábrica, adquiriu suplementos, matéria-prima para a produção de feijão orgânico e uma embaladora, entre outros investimentos. Esses recursos permitiram uma redução de 30% nos custos de produção, aumento de receita média por safra e a ampliação dos canais de comercialização.
Os impactos ambientais e sociais também foram notáveis. A área cultivada com utilização de bioinsumos cresceu de 15 para 750 hectares. Durante a safra, foram produzidos 6 mil litros de bioinsumos agrícolas, resultando na redução de aproximadamente 900 litros de fungicidas e inseticidas em três anos. Socialmente, houve um aumento no número de associados, redução do trabalho manual com mais automação, maior autonomia para os agricultores e melhores condições de trabalho. Além disso, a cooperativa gerou empregos diretos para jovens, fortalecendo a economia local e promovendo o desenvolvimento comunitário.
Outro caso de sucesso é da COPAVI, do Paraná, que atua na produção de derivados de cana de açúcar e leite. A cooperativa acessou R$ 2.900.000,00, que foram fundamentais para incremento da indústria de açúcar mascavo, melado e cana e na atividade leiteira para a produção de iogurtes e queijos. O financiamento proporcionou aumento da capacidade técnica e dos padrões de qualidade da produção.
Economicamente, a cooperativa viu um aumento de 50% na receita esperada para 2024, ampliou seus canais de comercialização e aumentou a capacidade de produção de 2,5 toneladas por dia para 4,5 toneladas por dia. Ambientalmente, a COPAVI diminuiu as emissões de resíduos, eliminou o uso de madeira nas caldeiras, aumentou a eficiência energética e mecanizou seus processos de produção. No aspecto social, a cooperativa melhorou a renda das famílias, ofereceu melhores condições de trabalho e aprimorou a segurança alimentar das famílias associadas.
Na região nordeste, um caso de destaque foi da ACANOR, localizada em Caruaru-PE. A associação, que se dedica à produção de milho, frutas e verduras, direcionou o investimento de 50 mil reais para a produção de milho crioulo, beneficiamento da matéria-prima e comercialização de cuscuz. Esta iniciativa não só fortaleceu práticas agrícolas livres de transgênicos, mas também preservou sementes crioulas e resultou na produção de 20 toneladas de cuscuz, beneficiando a qualidade dos alimentos oferecidos à comunidade.
Os impactos sociais foram significativos: a ACANOR conseguiu entregar alimentos livres de transgênicos para a merenda escolar (PNAE), assegurando a aquisição de matéria-prima para a produção de cuscuz e aumentando a renda das famílias associadas. Além disso, houve um fortalecimento do associativismo, melhoria da segurança alimentar e promoção de experiências que envolvem a organização de jovens, grupos de mulheres e a cooperação.