Desde 2015, logo após o rompimento da barragem de Fundão (MG), operada pela Vale e BHP Billiton, moradores da Bacia do Rio Doce batalham por direitos. À espera de uma reparação justa, a quilombola Simone Silva, de 46 anos, entrou com um mandado de segurança para suspender as negociações entre o governo federal e as mineradoras, que ocorrem sob sigilo e sem a participação dos atingidos. Ela recorreu à Justiça para reivindicar o direito de estar na mesa de Repactuação e dar voz às demandas da comunidade.

“Como está acontecendo uma Repactuação? Como essas pessoas estão nos representando? Como estão sentados em uma mesa, decidindo a minha vida, a vida da minha filha, da minha família, sem conhecer o território, sem conhecer as demandas?”, questiona a quilombola. Outras três atingidas também entraram com mandados de segurança para exigir a participação das vítimas nas negociações.

Após o rompimento da barragem, Simone perdeu familiares e viu sua filha Sofia, que tinha apenas 9 meses na época do desastre, desenvolver graves problemas respiratórios devido à contaminação causada pela lama tóxica despejada pelas mineradoras na região. “Minha filha começou a sentir os primeiros sintomas no dia 6 de novembro. Toda vez que saía de casa, voltava com manchas e reações fortes na pele. A partir desse dia, levantei a bandeira da saúde”, relatou a quilombola.

Foto: reprodução

Simone é uma das lideranças da comunidade quilombola, ribeirinha e indígena de Gesteira, em Barra Longa (MG), localizada a 60 km da Barragem de Fundão, em Mariana (MG). O direito à saúde para as vítimas do crime socioambiental é uma luta constante e árdua, travada por ela. “Não temos um protocolo de saúde, não sabemos onde procurar atendimento médico, onde fazer exames. Somos quilombolas e, enquanto comunidade, precisamos de políticas de saúde específicas para nós. Mas estamos fora dessa mesa de reparação. Eu quero saber o que está sendo discutido sobre a saúde do meu povo”, reivindica.

A filha de Simone, Sofia, assim como outras pessoas da Bacia do Rio Doce, necessita de cuidados urgentes. Aos 9 anos, ela sofre de inflamações graves no intestino e no cérebro, mas está sem tratamento há mais de dois anos. “O médico nos disse que provavelmente minha filha não alcançará a fase adulta. Todo mundo sabe disso, mas continuam discutindo nossa vida sem nos consultar”, lamenta. “Os criminosos estão lá sentados, decidindo. E nós, as vítimas, não temos o direito de saber o que está sendo discutido sobre nossas vidas. Que crime cometemos para não termos direito à informação?”, indaga.

Os quatro mandados de segurança foram direcionados à relatoria da desembargadora Mônica Sifuentes e, até esta quinta-feira (10), nenhuma decisão havia sido divulgada.