Heróis pouco reconhecidos, brigadistas colocam suas vidas em risco para salvar país do fogo
Apesar do aumento no número de brigadistas e de recursos, esses profissionais continuam expostos a graves riscos, como inalação de fumaça e queimaduras
“(Nossa) vida não vale nada, né? Para a pessoa que coloca fogo e que muitas vezes está abrindo uma pastagem, derrubando a floresta para colocar pasto… Essa pessoa não se importa com ninguém”, disse Eliab Caldeira, de 41 anos, chefe de brigada do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), à BBC News Brasil, sobre as condições que os brigadistas vêm enfrentando em meio a crise climática no país.
Ao todo, o Brasil conta com 3.299 brigadistas federais vinculados ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O número é o maior já contabilizado, mas ainda assim parece insuficiente para conter a crise.
Para a BBC News, os brigadistas relataram jornadas de mais de dez horas de trabalho, labaredas com até 20 metros de altura, ventos de até 60km/hora, temperaturas que podem chegar a 1.000 °C, medo da morte e tristeza com o que classificam como “ambição” e falta de empatia daqueles que ateiam fogo à natureza sem se importar com as vidas daqueles que tentarão apaga-lo.
Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apontam que pelo menos 59% do território brasileiro experimenta algum nível de seca, o que impacta não somente o baixo nível dos rios como também aumenta a quantidade de matéria seca pronta para pegar fogo.
“Tenho medo de morrer, mas luto pela vida quando estou no incêndio”, diz o brigadista da comunidade quilombola kalunga Euclenes Batista, de 36 anos. Há três meses, ele foi deslocado do Cerrado para atuar no Pantanal sul-matogrossense. Ele diz que apela a Deus para sobreviver mais um dia em meio às labaredas.
O diretor de proteção ambiental do Ibama, Jair Schmitt, resume os perigos da profissão: “Os brigadistas que combatem incêndios florestais estão expostos a inalação de fumaça tóxica, acidentes com galhos e árvores, queimadura pelas chamas do incêndio, exaustão térmica e desidratação”, diz.
O MMA e o Ibama informaram à reportagem que a pasta aumentou em 26% o número de brigadistas do órgão entre 2022 (último ano do governo de Jair Bolsonaro) e 2024. O MMA disse ainda que aumentou de 5 para 14 o número de aeronaves contratadas para o combate aos incêndios.
Já o ICMBio, além de apontar que está “em tratativas internas” para garantir seguro de vida aos seus brigadistas, informou que oferece uma “rede de qualidade de vida” com assistência social e psicológica.
Via BBC News