Cyberbullying de jornalistas: na Argentina, os casos aumentaram na gestão Milei
Um relatório do coletivo Jornalistas Argentinas apresentado esta semana denuncia a escalada da “trollagem”
O coletivo Jornalistas Argentinas apresentou o relatório “Cyberbullying de mulheres jornalistas: tecnocensura”, no qual denunciam que, nos últimos meses, a trollagem contra comunicadores não só aumentou significativamente, mas também se tornou uma “prática sistemática”.
O estudo examina esse fenômeno global de ataques orquestrados contra adversários nas redes e aponta que, na Argentina, eles têm uma peculiaridade preocupante: “os ataques não vêm mais apenas de usuários não verificados ou bots, mas também e principalmente de contas verificadas e membros do dispositivo de comunicação oficial, que utilizam suas contas pessoais nas redes sociais”.
Não só isso: “na maioria dos casos que citamos neste relatório, o ataque foi iniciado ou replicado pelo Presidente da Nação, Javier Milei, de uma forma muito agressiva no dia da postagem, que é mantida ao longo do tempo com menos intensidade”, enfatizaram.
Como conclusão do relatório, o coletivo Jornalistas Argentinas solicita uma série de medidas tanto do Estado como das empresas de comunicação. Pedem ao primeiro que fortaleça o quadro jurídico para restringir o assédio online a jornalistas, e que a legislação seja aplicada com rigor, e que imponha obrigações às plataformas sobre a transparência dos algoritmos e da utilização de exércitos de robôs que amplificam os ataques para que respeitam os princípios da liberdade de expressão e informação, sem que isso implique controlar o conteúdo ou censurá-lo. Entretanto, pede às empresas de comunicação social medidas preventivas como formação e maior cobertura do problema.
No final do relatório, a organização inclui recomendações sobre como responder a um ataque cibernético e outras sobre segurança online.
“Muitos de nós que trabalhamos em organizações jornalísticas nos perguntamos o que podemos fazer a respeito. E repudiar cada insulto, cada desqualificação, acaba sendo um desperdício e não acontece muita coisa”, explicou a jornalista María O’Donnell em diálogo com o Canal Abierto.
Outra forma de cyberbullying utilizada contra O’Donnell é a reprodução de frases retiradas do contexto de seus programas de rádio ou televisão, viralizadas por meio de hashtags com seu nome. O objetivo é “colocar na agenda questões que reforcem a polarização política e cultural, ou desqualificar qualquer crítica ao governo nacional”, afirma o estudo.
Além dos diferentes níveis de violência, o relatório do coletivo Jornalistas Argentinas mostra que o impacto na liberdade de expressão é observado em todos os casos pesquisados de jornalistas que sofreram cyberbullying.
Assim, como traços comuns, detectou-se que os ataques, em muitos casos, afetaram a relação jornalística destes profissionais com autoridades e fontes oficiais. Da mesma forma, a violência aumenta tanto e tão rapidamente que os jornalistas decidem distanciar-se das redes ou não responder, ou utilizar as suas redes sociais de forma unidirecional, apenas para informar a sua comunidade, mas sem manter interações.
Por fim, os afetados afirmaram não acreditar que o cyberbullying “seja pessoal”, embora “seja disciplinar”.