Fumaça das queimadas: um alerta à saúde pública e aos impactos de médio prazo
O Ministério da Saúde emitiu orientações para que a população em áreas afetadas por nuvens de fumaça limite a exposição ao ar livre e evite atividades físicas em ambientes externos
O Brasil atravessa mais uma temporada de queimadas intensas, e, com elas, um alerta crescente sobre os efeitos para a saúde. Embora, segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o sistema de saúde brasileiro ainda não enfrente falta de leitos, a pressão tem sido alta, especialmente para crianças, idosos e pessoas com condições respiratórias pré-existentes. A preocupação não se limita aos efeitos imediatos; há também o temor de consequências a médio e longo prazo.
Conforme dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mais de 154 mil focos de calor foram registrados no país até o início de setembro, com a Amazônia concentrando a maior parte dos casos. Cidades em várias regiões têm sido encobertas por densa fumaça, deteriorando a qualidade do ar e provocando um aumento de internações por doenças respiratórias, especialmente em um período que já favorece o crescimento de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG).
Impactos na saúde pública: um cenário preocupante
A fumaça das queimadas carrega uma mistura de partículas finas e gases tóxicos que, quando inalados, penetram profundamente nos pulmões, causando inflamação. Crianças, idosos e indivíduos com doenças crônicas, como asma e bronquite, estão entre os grupos mais vulneráveis. No entanto, os impactos não são restritos a esses grupos: mesmo pessoas saudáveis podem sofrer com irritação nos olhos, garganta, pele e problemas respiratórios agudos.
“Há uma forte preocupação com os efeitos imediatos e a médio prazo na saúde das pessoas. Mesmo que ainda não faltem leitos, há uma demanda crescente nas unidades de saúde, o que pressiona o sistema”, enfatizou a ministra Nísia Trindade durante evento no Rio de Janeiro.
Queimadas e saúde: uma crise silenciosa a longo prazo
Especialistas alertam para um aspecto ainda mais insidioso: o impacto cumulativo da exposição contínua à fumaça. Estudos indicam que a exposição prolongada a poluentes derivados da queima de biomassa pode levar ao desenvolvimento de doenças respiratórias crônicas, aumento do risco de infartos e câncer de pulmão. No longo prazo, a saúde pública poderá sofrer um novo fardo, à medida que os danos acumulados levem ao surgimento de novas doenças e agravem as existentes.
O governo, por meio de uma força-tarefa liderada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), está tentando minimizar os danos. A Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) foi mobilizada para prestar apoio em estados e municípios, oferecendo suporte às populações afetadas. A ministra Nísia também destacou a importância de combater incêndios de origem criminosa, que seguem sendo uma realidade preocupante em diversas regiões.
Recomendações à população exposta à fumaça
O Ministério da Saúde emitiu orientações para que a população em áreas afetadas por nuvens de fumaça limite a exposição ao ar livre e evite atividades físicas em ambientes externos. “Muitas pessoas, especialmente quem tem quadros alérgicos, sofrem mais intensamente com essa condição. O ar seco e poluído piora as condições de saúde”, apontou Nísia.
Além disso, é fundamental manter os ambientes internos fechados e, quando possível, usar purificadores de ar para reduzir a concentração de poluentes. Em casos de desconforto respiratório, como falta de ar, tosse persistente ou irritação excessiva nos olhos, é recomendada a procura imediata por assistência médica.