Por Paula Cunha, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024

Acompanho as Paralimpíadas de Paris (torcendo muito) e observado como os atletas mencionam sua saúde mental. Como sou uma pessoa ansiosa e faço tratamento, reparei no mix de emoções de Verônica Hipólito, jovem paratleta de Atletismo, em suas entrevistas e me identifiquei bastante. Comecei então a pesquisar sobre o assunto e sobre a atleta medalhista.

Em junho de 2024, Verônica Hipólito deu um depoimento sobre como se sentia antes de competir: “Às vezes a gente pensa em desistir até no meio do treino. Não é normal vomitar, desmaiar, levar seu corpo além do limite, cair de dor e voltar todo santo dia.”

Lendo sobre a saúde mental de paratletas vi que os pesquisadores se preocupam com problemas físicos e mentais que podem surgir devido à deficiência. Os atletas podem sofrer com dores crônicas, fadigas persistentes e limitações de mobilidade, além da pressão gigantesca que existe em esportistas de altíssimo rendimento.

Entrei no site da Organização Mundial de Saúde (OMS) para ler o que eles definem como saúde mental. Achei bonito descobrir que a saúde mental pode ser considerada um estado de bem-estar sentido pelo indivíduo, ou seja, quando a gente se sente bem, consegue desenvolver habilidades para lidar com os problemas que a vida traz e ajudar nossa comunidade.

Seguindo com minha pesquisa, descobri que a saúde mental dos atletas despertou o interesse das pessoas por conta dos desafios que a rotina deles têm. O risco de lesões esportivas, a pressão para que eles tenham o melhor desempenho que puderem e a carência de patrocínio se juntam às altas expectativas dos treinadores, além de torcedores e familiares. Aonde o atleta vai, tem alguém cobrando-o e essas situações podem facilitar o desenvolvimento de doenças como ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Imagina um atleta desse nível indo treinar sem ter dormido direito?

Verônica Hipólito mencionou a autocobrança que tinha para voltar a treinar depois de várias cirurgias: “Fui passando por cirurgia após cirurgia. Para resumir, foram três na cabeça para retirada de tumor e uma no intestino grosso, e eu sempre ficava na expectativa de quando voltaria a treinar”. Verônica contou que, nesse período, lidou com uma crise de ansiedade tentando se manter forte e otimista. “Todo mundo comentava como eu estava sempre sorrindo, que iria voltar a competir após cada problema. Então eu pensava: ‘Não posso sentir pressão, eu não sinto pressão’. Mas, na verdade, eu sentia. Um dia tive uma crise de ansiedade altíssima e eu não conseguia entender.”

Anos depois, ela voltou a falar sobre o assunto: “Passei por vários médicos, alguns falaram que não iria voltar a correr, outros afirmaram que usaria a bolsa de colostomia pelo resto da vida”. Vendo esse depoimento, lembrei de ler sobre a importância de oferecerem apoio psicológico aos paratletas e de criarem um ambiente inclusivo para o bem-estar mental deles, que lidam diariamente com estresse, ansiedade e têm sua autoestima afetada. 

Os transtornos psicológicos que podem vir desses três fatores vão afetar não só o desempenho em quadra deles, mas também sua qualidade de vida. Verônica Hipólito desenhou o que é esse elo desempenho em quadra e qualidade de vida: “Faço acompanhamento com dois psicólogos, um clínico e outro esportivo. Descobri que tenho crises de ansiedade, e já tive depressão também. Por isso, defendo que, antes de você apresentar algum resultado no esporte de alto rendimento, precisa se preocupar com a sua saúde mental.”

Foto: World Para Athletics

Quanto mais ansioso, deprimido, privado de sono e sentindo dor o paratleta estiver, maior será o risco de lesão e overtraining. Achei isso nas pesquisas, mas nem precisava né?

Fiquei pensando que essa pressão e desgaste físico podem desencadear sentimentos conflitantes neles e foi isso que notei quando ouvi Verônica Hipólito após a prova dos 200 metros. “Eu me desesperei. Repassei essa prova milhões de vezes. No único momento que titubeei, elas passaram, e eu não consegui manter a calma.”

E é claro que o momento de maior ansiedade e depressão é durante as competições: “A rotina de um atleta de altíssimo rendimento já é bem difícil, mas perto dos Jogos tudo muda absurdamente. De alguma forma, em ano de Jogos, isso (rotina de treinos) consegue ser mais intenso”. Eu ficava pensando: “Será que vale a pena? Mas sempre vale”, afirmou Verônica em entrevistas. Esse estresse também é alto durante os treinos(mas um pouco menor) e diminui ou acaba na calmaria que vem após as competições.

Mas o sentimento de que valeu a pena – o qual Verônica falou – é o que a gente sabe que fica, né? “Quando veio o AVC e falaram que eu não voltaria a andar, voltei a correr por conta do atletismo e percebi, depois de um bom tempo, que de todos esses tumores, AVC e tudo mais, sempre voltava para o esporte”.

“O atletismo é o meu grande amor, mudou a minha vida”.

Acredito que seja exatamente isso, Verônica, ninguém pode te parar se você estiver determinado a não parar.

Após ganhar a medalha de bronze nos 100 metros T36, Verônica Hipólito, é muito articulada, estava radiante e desabafou para a Sportv: “Fiquei oito anos bem mal. Eu praticava (esporte) e queria parar, praticava e queria parar, porque eu ficava: esse não é o meu corpo. Como o meu corpo mudou! E aí quando a gente passa a entender sobre capacitismo, gordofobia, quando a gente começa a entender sobre o nosso potencial, as coisas só tendem a melhorar”. Comemorou sorrindo, como sempre, segurando sua medalha e sua mascote Phyrge: “Deu ceeerto!”

Foto: Douglas Magno/CPB

Foi lindo de ver, no final tudo dá certo. Vamo que vamo, Verônica!