A oportunidade de fazer história ao lado de um irmão. Esse é o sonho que Kesley e Kétyla Teodoro compartilham nos Jogos Paralímpicos de 2024. Representando a Associação Paraolímpica de Campinas (APC), que reúne mais de 80 atletas com deficiências nas pistas e piscinas da Faculdade de Educação Física da PUC-Campinas, os irmãos competem no atletismo, nas provas de 100 metros e 400 metros rasos, respectivamente.

Ambos têm a doença de Stargardt, uma condição genética que afeta a retina. Por isso, Kétyla correrá com seu atleta-guia, Rodrigo Chieregatto. Durante a aclimatação em Troyes, na França, o trio conversou com o “Meu Esporte Podcast” e compartilhou suas experiências no esporte de alto rendimento.

Nos Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, Kesley alcançou o quarto lugar. Kétyla, por sua vez, conquistou o terceiro lugar nos Jogos Pan-Americanos de 2019, o quinto lugar nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020+1 e a terceira colocação no Mundial Paralímpico de Atletismo de 2023, realizado em Kobe, Japão.

Nascidos em Rondônia, os irmãos começaram a praticar atletismo em 2012. “Fui apresentada ao esporte no ensino médio, quando um professor de educação física procurou pessoas com deficiência e me apresentou ao atletismo. Meu irmão até brinca que éramos alunos de arquibancada,” explicou Kétyla.

Foto: Reprodução

“Nossa mãe tinha receio de nos deixar participar das brincadeiras por medo de nos machucarmos. A baixa visão, diferente da cegueira, faz com que as pessoas não entendam o que realmente enxergamos. Temos olhos vivos, e as pessoas acham que estamos vendo porque olhamos na direção delas, mas não enxergamos de fato. Por isso, evitávamos aulas de educação física e atividades de risco. Quando o treinador nos convidou para ir a São Paulo, nossa mãe perguntou se o Kesley poderia ir também, e ele rapidamente se destacou,” completou.

Kesley teve que conciliar o esporte com o trabalho, já que começou aos 19 anos. “Iniciei no esporte mais velho. Em 2013, já disputávamos a regional para conseguir vaga no nacional. O esporte profissional chegou para nós em 2016, quando fui convocado para o Rio nos 100 metros, e a Kétyla veio dois anos depois. Desde então, são oito anos na seleção brasileira, três Paralimpíadas, três Mundiais, e a Kétyla também tem várias competições internacionais.”

Rodrigo Chieregatto, por sua vez, tentou o futebol de base antes de ingressar no atletismo. “Aos 16 anos, fiz um teste no atletismo e comecei minha carreira. Aos 18, ganhei uma bolsa universitária. Lá, havia muitos atletas com deficiência visual, e comecei a atuar como auxiliar técnico e atleta-guia.”

“Aos 20 anos, fui ao Comitê Paralímpico Brasileiro, onde minha carreira como atleta-guia começou profissionalmente, e continua até hoje. Costumo dizer que não me tornei guia, mas nasci para ser guia. Tive que me encontrar e trabalhar com o propósito de realizar o sonho dos irmãos,” acrescentou.

Relação entre atleta e atleta-guia

Foto: Kétyla e Rodrigo.

Kesley e Kétyla competem na categoria T12, onde a visão é restrita a um raio de menos de 5 graus e/ou a capacidade de reconhecer um objeto em movimento a uma distância de 1 metro. Nessa categoria, é opcional ter ou não um guia na prova.

Nos treinos diários, ambos contam com o apoio de atletas-guias como Rodrigo, que acompanha Kétyla há sete anos. No “Meu Esporte Podcast,” Kesley explicou por que optou por competir sozinho. “A Kétyla corre os 400 metros, uma prova com curvas. Eu corro os 100 metros rasos, uma prova apenas de reta. Meu guia me ajuda no aquecimento, assim como o Rodrigo faz com a Kétyla.”

“Somos da mesma classe, mas as provas são diferentes. Ela corre com curvas, enquanto minha prova é uma reta. Durante a prova, corro sozinho porque é muito rápida e oferece menos risco,” finalizou Kesley.

Rodrigo e Kétyla descrevem a parceria esportiva como um “casamento” vitorioso, que já rendeu medalhas em Mundiais e Pan-Americanos. Agora, a expectativa é conquistar a medalha paralímpica em Paris.

Kétyla destacou que é essencial estar em sintonia na pista para alinhar a estratégia com o que acontece durante a prova. “Nos 400 metros, ele narra o que está acontecendo para que eu me situe, para saber se é possível atacar a prova e o que devemos fazer para conquistar o resultado.”

“Somos uma família, e é assim que estamos caminhando rumo ao pódio. Já temos medalhas de Mundiais e Pan-Americanos. Falta apenas a medalha paralímpica, e trabalhamos muito para que ela venha,” concluiu Kétyla.