Beth Gomes: uma das maiores figuras do esporte brasileiro
Com inúmeros recordes, seus feitos não se limitam ao mundo esportivo paralímpico.
Por Lucas Matheus Feitosa, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Elizabeth Rodrigues Gomes, conhecida como Beth Gomes, é, sem dúvida, uma das maiores personalidades do esporte brasileiro. Não seria correto limitar seus feitos apenas ao mundo esportivo paralímpico. A brasileira de 59 anos não somente combate os estigmas do etarismo, do capacitismo e dos preconceitos contra as Pessoas com Deficiência (PCD), mas, sobretudo, é sinônimo explícito de força e resiliência competitiva, tendo quebrado diversas vezes o recorde do arremesso de disco, sendo a última vez no Troféu Brasil de Atletismo deste ano (2024), ao atingir a marca de 18,45 metros na classe F53 (atletas que competem sentados).
O que poucos têm conhecimento, de fato, é que sua vida é tão rica em histórias quanto suas conquistas como atleta. Vocês podem encontrar mais detalhes no livro “Beth Gomes: Uma Atena Brasileira”, da autora Luciane Tonon.
Elizabeth nasceu na cidade de Santos, no ano de 1993, sendo a filha caçula de seis irmãos. Sempre foi muito amada pelos seus pais, Marcelina e João Gomes Junior. Apesar de sua aparência angelical, Betinha (como era conhecida na infância) demonstrava uma leve tendência para “emoções”. Um exemplo foi quando encontrou uma garrafa de pinga do pai e a tomou sem pensar duas vezes, passando mal e sendo levada ao hospital. Certa vez, não se sabe o que passou pela cabeça da pequena loirinha de olhos verdes quando colocou um grão de amendoim no ouvido. Em outra ocasião, ao brincar de “rouba terra”, algo semelhante ao pique-bandeira, socou um garoto no olho quando ele tentou enganá-la durante a brincadeira.
Ainda na infância, aos 14 anos, Beth conheceu o vôlei e suas aptidões para o esporte revisitaram. Os anos se passaram e a “Galega” ainda praticava o esporte quando ingressou na Guarda Civil Municipal (GCM). Em um dos seus dias de serviço, Beth caiu e fraturou a tíbia. Após o afastamento dos serviços para recuperação, percebeu haver algo diferente no seu corpo devido à longa e nula recuperação. Foi quando, em 1993, teve o diagnóstico de Esclerose Múltipla (EM), doença autoimune que afeta o sistema nervoso central do indivíduo.
No início do diagnóstico, ela não conseguia acreditar que tivesse essa condição aos seus quase 28 anos. Entretanto, Beth demonstrou grande capacidade de adaptação às novas rotinas, se reinventando e buscando uma ferramenta no esporte para lidar com sua nova realidade. Conheceu o basquete em cadeiras de rodas, tendo sua iniciação no paralímpico e, especialmente, no ambiente competitivo paralímpico, vestindo o manto verde-amarelo pela primeira vez em 1998.
Sua primeira aparição nos Jogos Paralímpicos foi na edição de Pequim 2008, quando foi convocada para a seleção brasileira da bola laranja. Em 2010, Beth conheceu o atletismo e conciliava a prática da modalidade junto ao basquete. Mas, após ter um surto decorrente de sua condição, optou por seguir somente no lançamento de disco e arremesso de peso, encontrando seu real espaço no esporte profissional no ambiente individual.
Em 2016, ela sofreu uma grande avaria em sua carreira, quando foi reclassificada e ficou de fora dos Jogos do Rio de Janeiro. A classificação funcional visa a competição justa entre atletas, mas em diversos momentos são alvos de discussões, visto que é um processo realizado por diversos profissionais, subjetividades e, que na particularidade brasileira, necessita de maiores desenvolvimentos.
Entretanto, felizmente, no ano de 2021, na edição de Tóquio, a “Galega” conquistou sua tão sonhada medalha, sendo ela um ouro firmado com duas quebras de ouro nas suas tentativas.
“Eu não sei se estou sonhando, se estou acordada vivendo esse grande feito que esperei cinco anos para buscar essa tão sonhada Paralimpíada, que me tiraram do Rio 2016. Mas digo que nada acontece sem permissão de Deus. Assim, ele quis que eu buscasse essa tão sonhada vitória, juntamente com minha treinadora Rosi”.
Como forma de representação de sua grandeza, ela foi recebida em cortejo pela população de sua cidade e ganhou o apelido de “Fênix”, uma vez que ressurgiu das cinzas, superando a tristeza de ter ficado de fora dos Jogos de 2016 e obtendo sua tão sonhada vitória.
Sua rotina atual consiste em treinamentos de segunda a sábado, com práticas que envolvem condicionamento físico, alongamentos e exercícios específicos para o arremesso de disco, junto com sua treinadora Rosiane Farias. Beth reconhece, em sua biografia, que em determinados momentos, não terá o mesmo desempenho em suas preparações devido à esclerose, mas, em geral, convive com uma rotina de trabalho duro em busca de sua melhor versão dia após dia.
Cabe destacar que nossa atleta não é somente uma grande profissional do esporte, como também se destaca por seu grande coração, sendo madrinha da equipe Fast Wheels e muito engajada em causas sociais voltadas às pessoas com deficiência.