Por Lilianna Bernartt

Em meio às recentes adaptações cinematográficas do clássico de Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, merece ser destacado o filme “O Diabo na Rua no Meio do Redemunho”, da estonteante Bia Lessa.

A produção já nasce diferenciadamente, fruto de um relacionamento de anos da multiartista com a obra de Guimarães. Em 2006, por aproximadamente um ano, a mostra “Grande Sertão: Veredas”, concebida por Bia, permaneceu em exposição no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Naquela oportunidade, a artista já apresentava um trabalho de pesquisa da extração da potencialidade árida e contemporânea da obra do grande escritor através da simplicidade de elementos como areia, madeira e tijolos.

Da exposição, a pesquisa de Lessa seguiu, resultando na premiada peça teatral, que permaneceu por anos em cartaz e percorreu o Brasil. Nesta, Bia se aprofundou em sua pesquisa de absorção da obra de Guimarães por meio de experiências sensoriais que partiam do íntimo da encenação e reverberavam para o público, o convidando a experienciar o universo proposto pelo grande autor. Atores e público juntos, em um mesmo ambiente, em um mesmo universo “Sertão”. A sensorialidade sempre foi peça de suma importância na pesquisa de Bia, usada como mecanismo de extração do sumo do significado e significante da poesia de Guimarães.

Seguindo esse breve resumo, por fim, chega aos cinemas no dia 15, a transposição dessa soma de referências para a linguagem cinematográfica. Bia assume o desafio de transportar a grandiosidade desse trabalho diferenciado e sensorial para as telas de cinema. Ou melhor, de simplesmente fluir em sua trajetória de pesquisa. Nesse sentido, ela utiliza elementos teatrais para a construção de seu universo cinematográfico, ou vice-versa, já que “há muito teatro no cinema e há muito cinema no teatro”, como disse uma vez Bia, em entrevista.

O que importa para a multiartista é exatamente o “multi”, a somatória de possibilidades, que agrega e condensa a potência da obra ao invés de dispersar sentidos. Atores interpretam tudo – bichos, coisas, plantas, personagens.

Certa vez, em conversa sobre o filme, Bia disse que “Guimarães Rosa é o primeiro autor verdadeiramente ecológico”, se referindo ao sentido que o homem faz no meio das coisas, partindo do ponto de que somos todos feitos da mesma matéria.

A busca é pela invenção de um novo homem, que é mulher, é homem, é bicho, é planta. Essa união de sentidos, de minerais que somos, seres vivos, está diretamente impressa na proposta de Bia, inclusive no que diz respeito a Riobaldo e Diadorim.

“O Diabo na Rua no Meio do Redemunho” propõe, provoca. Bia coloca mais uma vez para jogo sua criatividade, inteligência e potência. Como resultado, temos uma experiência marcante e pulsante.

O lançamento do filme contará com encontros com a diretora e o elenco e serão desenvolvidas diversas atividades em torno do universo de criação do filme. O projeto consiste em apresentação do making of da peça dirigida por Bia Lessa, do documentário premiado “Onde Nascem as Ideias”, de Carolina Sá e da projeção do filme “O Diabo na Rua no Meio do Redemunho”, em teatros, cinemas ou espaços educacionais, além de palestras, debates e oficinas sobre o tema. As palestras abordarão diferentes aspectos da obra de Guimarães Rosa, como sua linguagem, temáticas, além de explorar o processo criativo de Bia Lessa. As oficinas, por sua vez, oferecerão oportunidades de aprendizado e experimentação para os participantes. Os debates, as palestras, as oficinas e exibições do making of e do documentário serão gratuitas.

O filme chega aos cinemas nesta quinta-feira (15) e é simplesmente uma experiência imperdível.

Confira o trailer: