Do passado ao futuro da ginástica: entrevista com Luísa Parente
Pioneira da ginástica artística brasileira, Luísa reflete sobre o avanço da modalidade e as expectativas para o futuro.
Por Allana Fonseca e Andressa Simões, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Nascida em 1973, a carioca Luísa Parente é um dos maiores nomes da ginástica artística brasileira. Ela foi a primeira ginasta do país a participar de duas Olimpíadas: Seul 1988, quando foi finalista do individual geral, e Barcelona 1992.
Aos seis anos, em tempos de baixo investimento na ginástica brasileira, Luísa começou na modalidade treinando no clube do Flamengo, onde ficou até a sua aposentadoria como atleta. Com apenas 14 anos, a jovem conquistou a medalha de bronze nas barras assimétricas no Pan de 87, disputado em Indianápolis, Estados Unidos.
Nas Olimpíadas de Seul 1988, Luísa Parente alcançou a façanha de se classificar para a final do individual geral, terminando a competição em 35° posição. Foi um feito heroico tendo em vista os quase nulos investimentos dedicados à ginástica brasileira naquele período. Ela foi apenas a terceira ginasta do país a chegar a uma final olímpica. Já nos Jogos de Barcelona 1992, Luísa não conseguiu a classificação para a disputa por medalhas no individual geral. A atleta ficou em 57° posição.
Foi em 1991 que Luísa experimentou a sensação não só de uma, mas de duas medalhas de ouro no pescoço. Nos Jogos Pan-Americanos de Havana 1991, a ginasta foi dona do primeiro lugar nas disputas do salto e das barras assimétricas. Foram as primeiras medalhas douradas conquistadas pelo Brasil na modalidade.
A última competição disputada por Luísa Parente foi o Pan-Americano de 1995, ocorrido na cidade do Mar de La Plata, Argentina. Após encerrar a carreira esportiva, com 22 anos, ela se formou em Educação Física pela Universidade Gama Filho e em Direito pela Universidade Cândido Mendes.
Atualmente, como profissional de Educação Física, escritora e ex-ginasta, a pioneira Luísa Parente reflete sobre o seu início no esporte, o avanço da modalidade no país e o legado de Paris 2024 para a ginástica brasileira. Confira a entrevista a seguir:
Como foi o seu início na ginástica?
Iniciei por volta dos seis anos, na época meus irmãos mais velhos praticavam a modalidade. Os meus pais sempre incentivaram o esporte como forma de educação e formação. Foi na época de 1979, quando quem estava no auge era a ginasta romena Nadia Colmanetti. Mesmo sem toda a divulgação que existe hoje, chegavam para a gente algumas referências como ela.
Qual era a sua logística de treinamento?
Treinava no Clube Regatas do Flamengo. Não havia o set de aparelhagem completo para o feminino e não havia tablado completo para treinamento na época que eu treinava. E hoje é um exemplo de Centro de Treinamento (CT), que abrigou delegações no Rio 2016, por exemplo, para se ver o nível de evolução que ocorre.
Como foi a preparação para disputar duas olimpíadas?
A preparação foi em conjunto com minha treinadora Georgette Vidor. Ela foi a que mais me acompanhou, principalmente nas duas olimpíadas: Seul 1988 e Barcelona 1992. Fiz intercâmbio para outros países como França, Espanha e Alemanha, já que no Brasil não havia tantos aparelhos.
Quais as principais diferenças da ginástica da sua época para a atual?
Do ponto de vista tecnológico da ginástica, os equipamentos evoluíram muito. A exemplo disso há o salto em um aparelho que se chamava cavalo. A sua evolução foi tanto no visual quanto na apresentação. Na parte de melhoria na execução, trouxe mais estabilidade.
Quais os simbolismos que as medalhas conquistadas pela ginástica brasileira em Paris 2024 trazem para a sociedade?
As medalhas olímpicas são o ápice, a excelência máxima da apresentação humana no esporte que transcende para a vida. Logo, quem as ostenta se torna um ídolo imediato, um exemplo a ser seguido. Contudo, sendo a Rebeca este ícone e modelo, em que pese inúmeras outras questões por trás, atendo-nos ao esporte, temos o exemplo da dedicação e perseverança que leva a realização de sonhos, de conquistas do que poderia parecer impossível.
Quais as suas expectativas para o futuro da ginástica?
O trabalho de formiguinha deve continuar e os clubes irão ganhar mais embalo ainda pós-Olimpíadas. São anos de trabalho que agora estão sendo reconhecidos. A própria mídia tornará o olhar para a ginástica. Espero que voltem o olhar e o reconhecimento aumente.