Ana Cecília Antunes

Esse ano, a editora e livraria LiteraRUA teve, pela primeira vez, um estande n’A Feira do Livro, em São Paulo. A organização enaltece a literatura periférica e a diversidade literária, conforme explica o fundador e coordenador Toni C. Além de editor, é pesquisador, escritor e roteirista. Um de seus mais prestigiados roteiros foi o do filme “AmarElo – É Tudo Pra Ontem”, vencedor do Prêmio ABRA de Melhor Roteiro de Documentário. Seu livro mais recente é “Hip-Hop: 50 Anos, 50 Crônicas”, uma reunião de textos dos últimos 20 anos da carreira do autor. 

Foto: Isis Maria/ Mídia NINJA

A editora nasceu por volta do ano de 2011. Toni C. entendeu que sua dificuldade de se autopublicar também era uma realidade para muitos outros escritores periféricos. “Quando eu deixei de fazer uma publicação minha e estava fazendo a publicação de outra pessoa, eu percebi que eu estava ganhando um segundo superpoder, que além de escritor, eu também sou editor”, relata. Toni conta que há uma grande demanda por esse trabalho. “Existe uma necessidade da gente narrar nossas próprias histórias, as histórias que estão esquecidas”, justifica. 

Ao falar dessas narrativas, o editor cita a frase do rapper e escritor Renan Inquérito, que ele tem como um mantra e um grito de guerra: “Se a história é nossa deixa que nóis escreve”. A partir disso, Toni C. vê a periferia como uma “indústria de ideias e de talentos”. A complexidade estaria na transformação desses potenciais criativos em livros. “A gente tem que deliberar essas dificuldades, porque talento não falta”, afirma. 

“Poesia Pra Encher a Laje 2.0”, livro de Renan Inquérito produzido pela LiteraRUA. Foto: Isis Maria/ Mídia NINJA

Ele acredita que existem ondas de popularidade nesse meio, como aconteceu com as obras “O Avesso da Pele”, de Jefferson Tenório, “Um defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves, e “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior. No entanto, crê ainda mais na perenidade da literatura negra e periférica. Toni C. argumenta que a prática de contar histórias precede o livro. Ela tem raízes profundas na oralidade, a exemplo da tradição dos griôs africanos, que transmitiam seu conhecimento oralmente. “Mas a gente tem tornado esse saber, esse conhecimento popular, em livros”, declara o editor e escritor.

Foto: Isis Maria/ Mídia NINJA

Para Toni, escrever é uma forma de se comunicar com o que está ao seu redor. “Eu não escrevo pra retratar o mundo, eu escrevo pra transformá-lo”, revela. “Então, a escrita é uma arma pra mim”, completa. Ele pensa ainda que não é possível separar o ativismo de um escritor de sua obra. “O autor é um só. É artificial querer dividir”, avalia. Como exemplo, ele menciona o célebre romancista e militante comunista Jorge Amado. Na visão de Toni C., a magnitude do também escritor se deve à sua sensibilidade e perspectiva única. 

Foto: Isis Maria/ Mídia NINJA

Ele aplica a mesma lógica à literatura de Itamar Vieira Junior. “O Itamar só é esse grande autor porque é um grande ser humano, um grande cidadão”, analisa. No caso do livro “Torto Arado”, Toni considera essencial a experiência própria do artista. “Sem essa vivência, é uma escrita morta, uma letra morta”, conclui. O editor também reflete sobre a importância da autoficção: “Todas as histórias universais, no final das contas, são histórias individuais. É uma história de uma pessoa, de um casal, de uma família, de um bairro, de uma vila. Quer ser universal, seja local”.

Onde encontrar a LiteraRUA? Acesse o site https://www.literarua.com.br/ ou visite a loja física na Av. Deputado Emílio Carlos, 179 – Loja 4, Limão.