Com um século de atraso, Jogos Olímpicos alcançam equidade de gênero
Apesar de pela primeira vez termos as olimpíadas com mesmo número de homens e mulheres, nem todos os países atingiram essa marca
Por Vitor Costa e Rayane Melo, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Entramos no último dia das Olimpíadas de Paris 2024. E mesmo antes da cerimônia de encerramento, o Comitê Olímpico Internacional (COI) junto com os organizadores dos jogos, terão ao menos um motivo para comemorar: pela primeira vez na história da edição dos Jogos Olímpicos, na era moderna, temos uma edição com paridade de gênero de atletas.
Ou seja, pela primeira vez as delegações dos países participantes, que disputam a atual edição, terão o mesmo número de homens e mulheres. Mas a realidade, é que hoje, essa meta é comemorada, mas há um século, era muito diferente quando Paris recebeu os jogos pela última vez em 1924.
Uma vez que o francês Pierre de Coubertin, criador da versão moderna das Olimpíadas a partir de 1896 era contrário à participação das mulheres nos jogos. Conforme pesquisa feita pelo jornalista Jamil Chade do UOL nos arquivos do movimento olímpico moderno, em sua sede na cidade de Lausanne, na Suíça, justificou que “não haveria espaço para incluir as mulheres nos jogos, a não ser aplaudindo a entrega dos prêmios para os homens”.
No entanto, o veto à participação das mulheres não foi algo recente, mas sim desde as origens dos Jogos na cidade de Olímpia, na Grécia Antiga, por ser considerada um lugar sagrado dedicado a Zeus, portanto o local era considerado sagrado, conforme biografia disponível no site Portal São Francisco.
A participação feminina na primeira edição dos Jogos de Paris 1924
A inserção da participação feminina nos Jogos foi um processo lento e gradual, que demorou mais de um século para se concretizar. Para se ter uma dimensão, na última edição dos Jogos de Paris, a participação feminina era de menos de 5% do total de atletas participantes. Em números totais apenas 135 mulheres estavam competindo entre os mais de 3 mil atletas homens participantes naquela edição dos jogos, conforme matéria publicada em março deste ano pelo site do Globo Esporte.
O machismo e até mesmo a proibição da presença de mulheres em práticas esportivas foram principais entraves para a baixa representatividade feminina ao longo de todas as edições dos Jogos. O Brasil é um exemplo disso. Em Paris 1924, quando o país participou pela segunda vez, nenhuma mulher esteve presente na delegação brasileira, de apenas 13 atletas, na capital parisiense, conforme mostra matéria especial no site do jornal Folha PE.
Ao mesmo tempo, a reportagem especial feita pela publicação revela ainda que na primeira edição dos jogos em solo francês, há cem anos atrás, a delegação do Brasil, que teve 12 atletas homens, não levou nenhuma mulher. Esse quadro começaria a ser mudado a partir da edição dos Jogos de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1932, quando a nadadora Maria Lenk, foi a única representante feminina da delegação brasileira na ocasião.
E assim foi aumentando gradativamente nas edições seguintes dos jogos, apesar de alguns retrocessos quanto à participação feminina em algumas modalidades no Brasil, como a proibição da prática do futebol feminino pelas mulheres, durante o Governo do Presidente Getúlio Vargas, no ano de 1941, por meio do Decreto Lei número 3.199/41, que vigorou por mais de 4 décadas, sob justificativa de ser uma prática exclusiva para homens.
O Avanço do feminismo e o aumento da participação feminina nos últimos 40 anos
A partir da década de 1960 com o avanço da segunda onda do movimento feminista pelo mundo, e o crescimento da participação feminina nos Jogos fosse se expandindo cada vez mais.
Segundo levantamento divulgado pelo COI no Dia Internacional da Mulher, revelou que nas últimas quatro décadas o percentual de participação feminina em Olimpíadas, saltou de 23 % nos Jogos de Los Angeles nos Estados Unidos em 1984, para respectivamente 44% e 48%, atingido respectivamente nas edições de Londres 2012 e em Tóquio 2020, disputada em 2021, devido ao adiamento por conta da pandemia de COVID-19, até chegar a 50/50 em PARIS 2024.
O presidente do COI Thomas Bach festejou a conquista histórica, durante evento comemorativo pelo Dia Internacional da Mulher, na sede da entidade na Suíça em março deste ano, em entrevista ao site do Globo Esporte.
“[…] Estamos prestes a celebrar um dos momentos mais importantes da história das mulheres nos Jogos Olímpicos e no esporte em geral. […] Esperamos ansiosamente por Paris 2024 onde veremos os resultados dos enormes esforços feitos pelo Movimento Olímpico e pelas mulheres pioneiras”, disse Thomas Bach- Presidente do COI ao site Globo Esporte.
Esse avanço ao longo das últimas quatro décadas foi possível principalmente porque o COI no ano de 1991 determinou que a partir da edição da Olimpíada de Atlanta 1996 disputada nos Estados Unidos, todos os novos esportes incluídos no programa olímpico, deveriam obrigatoriamente contar com a presença de mulheres, conforme informou o site Surto Olímpico. Além disso, desde 2022 50% dos cargos de comissões dos atletas são ocupados por mulheres.
Os desafios enfrentados para a igualdade de gênero no esporte olímpico
Por outro lado apesar de o discurso dos organizadores bradar que Paris 2024 pela primeira vez contará com a mesma quantidade de homens e mulheres disputando as modalidades dos Jogos.
A prática acabou mostrando que o discurso não está alinhado com a realidade. Conforme levantamento divulgado pelo COI, ao todo foram oferecidas 5.250 vagas para homens e 5.250 vagas para mulheres, totalizando ao todo 10.500 vagas. A falta de regras mais claras para a distribuição das vagas pelas federações associadas fez com que muitas equipes não atingissem essa cota, assim como algumas modalidades exclusivamente masculinas
Como é o caso do hipismo. Antes do início dos jogos chamou a atenção o caso da delegação brasileira cuja a lista final foi composta somente por homens, e deixou de fora a amazona Luciana Diniz, que é uma das principais atletas da modalidade pelo país conforme trouxe o blog Dibradoras.
Portanto, apesar de Paris 2024 não ter atingido na prática essa marca, ainda assim deixará como legado a menor diferença na história entre homens e mulheres. Na última edição dos Jogos em Tóquio 2020, houve 501 homens a mais do que mulheres. Por outro lado, na delegação brasileira essa marca foi superada, entre os 276 classificados, 153 são mulheres, representando 55% do total das vagas ofertadas.