Por Luiza Ramalho, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

A presença de um esporte nas Olimpíadas significa muito mais do que apenas mais uma oportunidade de medalha para os países participantes; também representa a valorização da modalidade, mais diversidade esportiva, incentivo a novos atletas e até culturas.

Por isso, há uma preocupação do COI (Comitê Olímpico Internacional) e dos comitês organizadores em abranger novos esportes. Mas, para isso, eles devem cumprir alguns critérios.

O que é preciso para um esporte se tornar olímpico

A inclusão de um esporte nas Olimpíadas é uma decisão e responsabilidade do COI. O primeiro passo é o esporte ser reconhecido por essa instituição. O reconhecimento permite que a modalidade “entre no radar do COI”, mas não é suficiente. Alguns critérios devem ser cumpridos:

Governança Internacional: ter uma federação internacional bem estruturada, responsável pelas regras e organização dos eventos esportivos, e que não possua conflitos de interesse com o COI.

Popularidade: ser amplamente praticado em, no mínimo, 75 países e quatro continentes por homens, e em, no mínimo, 40 países e três continentes por mulheres.

Programa antidoping: o esporte deve ter adotado o código mundial antidopagem.

Valores Olímpicos: o esporte deve promover os valores olímpicos e estar em conformidade com a carta olímpica.

Além disso, desde Tóquio 2020, o COI permite que o Comitê Organizador sugira modalidades que sejam populares no país-sede e que tenham o potencial de atrair o interesse dos jovens para as Olimpíadas.

Uma vez olímpico, para sempre olímpico?

Apesar de alguns esportes possuírem grande tradição olímpica, existe um movimento de rotatividade em relação às modalidades presentes nas Olimpíadas. Novos esportes são incluídos para permitir mais diversidade e representatividade, abrangendo novas modalidades. Outro fator de alta relevância é atrair novos públicos para o movimento olímpico, principalmente devido à preocupação com o interesse das novas gerações pelos Jogos. Esse foi, por exemplo, um grande motivador para a adição do surfe, skate e escalada em Tóquio 2020.

Por outro lado, alguns esportes deixam o programa olímpico por falhas em preencher os pré-requisitos mencionados, falta de engajamento do público ou investimento de patrocinadores e mídia. Por isso, este é um esforço que cabe também às federações internacionais para manter seus esportes na competição.

Exemplos reais:

Beisebol: esteve presente nas edições de 1992 a 2008 e retornou pontualmente em 2020. A falta de popularidade em um cenário global e o fato de distribuir credenciais a muitos atletas para poucas medalhas foram fatores que contribuíram para a sua impermanência nos Jogos.

Polo: esteve presente em 5 Olimpíadas desde 1900, mas a complexa logística para transportar os cavalos e o número baixo de países competidores contribuíram para sua exclusão.

Boxe: este esporte ainda é olímpico, mas até o momento não está confirmado para LA 2028, devido a questões com sua governança, crises políticas e conformidade com os regulamentos do COI.

Alguns outros esportes famosos já foram olímpicos e hoje perderam essa classificação, como karatê e croquet. Também é o caso para alguns esportes mais incomuns, como subida em corda e tiro ao pombo. Esse último utilizava pombos vivos e, felizmente, durou uma única edição, em 1900.

Esportes olímpicos mais recentes

Foto: Reprodução/COI

Em Tóquio 2020, pudemos acompanhar cinco novos esportes: beisebol/softbol (que já participaram de outras Olimpíadas), karatê e escalada (que anteriormente estiveram presentes nos Jogos da Juventude), surfe e skate, que fizeram a sua estreia olímpica em Tóquio.

Nas modalidades estreantes, podemos dizer que o Brasil teve uma boa participação. Apesar de não ter representantes no karatê, escalada e beisebol/softbol (este último contou apenas com seis países na disputa), garantiu medalhas em duas das outras novidades: skate e surfe.

No skate, tivemos Rayssa Leal e Kelvin Hoefler conquistando a prata na modalidade street, e Pedro Barros também com a prata no skate park. Já no surfe, Italo Ferreira representou muito bem e garantiu o ouro para o Brasil.

Em Paris 2024, apenas o surfe, skate e escalada foram mantidos. Este último, porém, foi atualizado e agora conta com duas modalidades: o combinado boulder-lead e a escalada de velocidade.

Paris ainda adicionou duas novidades: o breaking e a canoagem slalom extremo. No breaking, o DJ escolhe uma música e os atletas, no improviso, se enfrentam através da dança. As disputas são individuais e, para cada música, o competidor tem 60 segundos para se apresentar.

Na canoagem slalom extremo, quatro atletas competem em barcos em um percurso de água limpa e artificial para chegar em primeiro lugar.

Já confirmado para LA 2028

Paris 2024 ainda nem acabou e já sabemos quais serão as grandes novidades esportivas na edição de LA 2028:

Beisebol/Softbol

Críquete

Flag football

Lacrosse

Squash

O beisebol e o softbol já foram esportes regulares nas Olimpíadas e retornam agora em um país com grande cultura no esporte.

O flag football, que faz sua estreia olímpica, é uma versão do futebol americano com menos contato físico. Ao invés de derrubar o adversário, o jogador deve retirar uma fita (flag) que está presa em sua cintura.

O críquete já teve uma participação em Olimpíadas, em 1900. Neste esporte, uma equipe bate a bola com um bastão para marcar corridas e outra arremessa para eliminar o adversário. Nas Olimpíadas, terá a variação de formato mais curto, conhecida como “twenty20 cricket”.

No lacrosse, o objetivo é marcar gols utilizando um taco com rede na ponta para manusear a bola. Em LA, o esporte terá uma versão reduzida, com apenas seis jogadores de cada lado (originalmente são 10). O lacrosse já esteve presente nas edições olímpicas de St. Louis 1904 e Londres 1908.

O squash também faz sua estreia olímpica em Los Angeles, após brigar por uma vaga por pelo menos 20 anos. Neste esporte, dois ou quatro jogadores competem com raquetes em uma quadra fechada, e o objetivo é bater na bola de forma que o adversário não consiga rebatê-la.

Além dos novos esportes, o pentatlo moderno terá uma grande atualização. A prova de hipismo e salto será substituída pela corrida de obstáculos. O levantamento de peso quase ficou de fora da próxima edição olímpica, mas foi mantido após se comprometer com o progresso ao doping na modalidade.

Esportes olímpicos que sentimos falta

São muitos os esportes com grande popularidade que sentimos falta nas Olimpíadas, como futebol americano, boliche, MMA, sinuca e até patins. Este último, principalmente pela entrada do skate nos jogos olímpicos e pelo fato de já ser um esporte pan-americano. Alguns outros se destacam devido à popularidade no Brasil:

Futsal

Hoje, um dos principais motivos para a ausência do futsal nas Olimpíadas é o conflito de interesses. A FIFA não abre mão de que a Copa do Mundo de Futsal, que ocorre no mesmo ano das Olimpíadas, seja realizada. Por isso, a federação não faz tantos esforços para incluir o esporte nos Jogos, e o COI também não demonstra grande interesse. Assim, as negociações não avançam.

Mas há esperança, já que, em 2018, o futsal fez parte das Olimpíadas da Juventude, utilizada como uma forma do COI testar um novo esporte para o programa olímpico.

Beach Tennis

A modalidade, que tem se popularizado cada vez mais em todo o Brasil, está no páreo para ingressar no programa olímpico nos Jogos de Brisbane, em 2032. O beach tennis já atende aos requisitos exigidos pelo COI e tem esperança de ser indicado pelo Comitê Olímpico Australiano.

Para o podcast Saque na Cinco, do Zero Hora, Jeferson Pinto, coordenador nacional de beach tennis da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), disse:

“A Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês) vem fazendo um trabalho muito forte na região da Oceania, onde o beach tênis vem crescendo muito. Esperamos que a Federação Australiana de Tênis e o Comitê Olímpico Australiano enxerguem este crescimento e indiquem o beach tênis para figurar nas Olimpíadas de Brisbane em 2032.”

Existe ainda o caso dos e-sports e dos chamados jogos mentais, como, por exemplo, o xadrez. Esses jogos ainda não estão no “radar olímpico”, mas possuem grandes competições mundiais próprias.