Por Karizia Marques, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Em diversos momentos na história vimos como o esporte sempre esteve ligado a temáticas políticas e sociais. Nos jogos já vimos alguns casos emblemáticos, por exemplo, em Berlim 1936, no auge da 2ª Guerra mundial, pretendiam usar Olimpíadas como propaganda nazista. Mas o velocista Jesse Owens, que é afro-americano, quebrou todas as expectativas e conquistou quatro medalhas de ouro, além de se negar a olhar para a tribuna de Hitler.

Atualmente, vemos avançar os extremistas políticos, genocídio, conflitos internacionais e por aí vai. Quando as Olimpíadas começam é o momento do mundo todo se reunir e assuntos como esses passam a ficar em evidência. Apesar da trégua olímpica (período de interrupção em conflitos internacionais dos países participantes) não tem como ignorar o tema. Durante o evento, é o momento de reunir diferentes culturas, mas fora dos jogos, algumas delegações estão em conflitos com outras e acabam tendo que dividir o mesmo ambiente, o que acaba abrindo espaço para discussões.

A própria França passava por um momento político delicado, que dividiu opiniões pouco antes das Olimpíadas. O país teve diversas movimentações políticas devido à antecipação das eleições parlamentares e a ameaça da extrema-direita no país. Com isso, somado a chegada das Olimpíadas com diversas questões internas entre as delegações participantes como Israel, Palestina e Ucrânia, mostra como esse pode ser um dos Jogos mais politizados dos últimos anos.

A exemplo, as eleições parlamentares francesas com grande ameaça do avanço da extrema-direita (que vem ganhando espaço nos últimos anos) geraram muitas preocupações com o futuro do país. O partido de extrema-direita, representado por Jordan Bardella, tem ideais radicais, principalmente em relação aos imigrantes, este ganhou o primeiro turno das eleições parlamentares e por pouco não venceu o segundo. Tudo isso aconteceu em menos de um mês do início dos Jogos, 7 de julho.

Todos esses acontecimentos fizeram alguns atletas franceses furar a bolha do esporte para se manifestar sobre o assunto.

O jogador de futebol, Kylian Mbappe (@k.mbappe), que é filho de imigrantes, fez um apelo em uma coletiva antes das quartas da Eurocopa incentivando a população a votar contra a extrema-direita na França. Outro atleta que também se posicionou foi o jogador da NBA que atualmente participa das olimpíadas, Victor Wembanyama (@Wemby), ele declarou a importância das pessoas votarem e se afastarem dos extremos políticos.

Um assunto que repercute desde a abertura dos Jogos de Paris, é a presença de Israel nas Olimpíadas. O país que atualmente está em conflito com a Palestina foi questionado pela sua presença, uma vez que existe um acordo proibindo países em conflitos de participarem. 

Os palestinos e o Irã solicitaram ao Comitê Olímpico Internacional (COI) a retirada de Israel dos jogos por violar a trégua olímpica devido o genocídio em Gaza. Em resposta, Thomas Bach, presidente do COI, afirma que:

“Temos dois comitês olímpicos nacionais, esta é a diferença em relação ao mundo da política. Ambos vivem em uma coexistência pacífica. Os Jogos Olímpicos não são uma competição entre países, mas sim uma competição entre atletas, designados pelos comitês olímpicos nacionais.” 

Vale lembrar que em 1972, 11 atletas e treinadores Israelenses foram assassinados por militantes durante os jogos de Munique. Desde então, a delegação recebe proteção especial, principalmente nesse ano, já que alguns atletas receberam ameaças antes dos Jogos. Na abertura, por exemplo, Israel ficou ausente por alguns momentos para evitar situações de repúdio pelo público.

Já observamos algumas manifestações entre os atletas: no início das Olimpíadas, tivemos o caso do judoca Messaoud Redouane Dris (@driss.messaoud.7),da Argélia, que se recusou a lutar contra o israelense Tohar Butbul. A resposta oficial da delegação foi a diferença de peso, pois Dris estava acima do indicado, mas acredita-se que foi uma forma de protesto contra Israel.

Já entre o público, também foram observadas algumas movimentações sobre esse caso. Como, por exemplo, a partida de futebol masculino entre Paraguai e Israel, onde o COI informou que na torcida havia uma faixa “com uma mensagem política exibida e gestos antissemitas foram feitos”.  Em registros fotografado por agências de notícias, na faixa estava escrito “Olimpíada do Genocídio” e alguns dos presentes seguravam bandeiras da Palestina.

Outro exemplo que retrata as tensões mundiais nas olimpíadas, é a não participação da Rússia e Bielorrússia nos jogos. Como mencionamos no início da matéria, existe a trégua olímpica, que basicamente é uma interrupção de conflitos por um período de 7 dias antes dos jogos até 7 após eles. Por não cumprir esses requisitos, a Rússia e Bielorrússia estão impedidos de competir, sendo retirado o direito dos países de exibir símbolos nacionais durante o evento olímpico, como bandeiras e hinos.

Apesar disso, os atletas podem competir, mas com o título de Atletas Neutros Individuais (AINs).

Atletas russas Andreeva e Shnaider com a prata do tênis feminino | Foto: Europa Press/Getty Images