Entenda porque o Comitê Olímpico Francês proíbe símbolos religiosos na competição
Atletas foram impedidos de expressar suas religiões nas Olimpíadas de Paris, como o uso do hijab e de crucifixos
Por Tainá Junqueira e Vitória Soriano, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Uma determinação do Comitê Olímpico Francês deste ano proibiu qualquer símbolo ou manifestação religiosa durante os jogos olímpicos. As principais afetadas foram atletas muçulmanas, proibidas de usar o hijab, véu religioso e item essencial usado pelas mulheres. A determinação gerou indignação de atletas e protestos durante as competições.
A justificativa utilizada pelo Comitê é devido o princípio da laicité ou laicidade do país, considerando a expressão de gestos e símbolos religiosos incompatíveis com a secularidade do país, a determinação também foi baseada em uma lei de 2004 que proíbe o uso de itens religiosos visíveis como hijab, cruzes cristãs e quipás judaicos.
As nações laicas ou seculares defendem o estado separado, imparcial e completamente independente das práticas religiosas, não se opondo ou defendendo nenhuma religião. Ou seja, não é um país ateu, sem a prática religiosa, mas que reconhece toda e qualquer religião, garantindo a liberdade religiosa. Diferentemente da determinação do governo.
A velocista francesa, Sounkamba Sylla, se posicionou em suas redes sociais (@sounkambaa) contra a determinação. Descendente da Guiné, país africano, a atleta é muçulmana e não pôde participar da cerimônia de abertura pela proibição do hijab. Em uma postagem ela escreveu: “Você foi selecionada para os Jogos Olímpicos, organizados em seu país, mas não pode participar da cerimônia de abertura porque está usando um lenço na cabeça”. Ela já participou de outras competições mundiais usando o hijab.
A jogadora de basquete francesa Diaba Konate, de 23 anos, que também é muçulmana,
expressou indignação pela determinação. Ela se recusou a tirar o hijab para participar das competições e não pode jogar nas olimpíadas. Em entrevista para a BBC, ela afirmou: “É muito hipócrita da parte da França se autodenominar o país da liberdade, dos direitos humanos, mas, ao mesmo tempo, não permitir que os muçulmanos ou seus cidadãos mostrem quem são”. Cerca de 6 milhões de muçulmanos vivem na França, o correspondente a quase 10% da população.
Além das atletas francesas, a skatista brasileira Rayssa Leal, durante a etapa classificatória de skate street feminino, no dia 28 de julho, aproveitou a transmissão televisiva das Olimpíadas de Paris para passar seu posicionamento em relação à decisão da COI de proibir símbolos religiosos durante os jogos.
A medalhista, usando LIBRAS, declarou a frase ‘’Jesus é a vida, a verdade e o caminho’’ em direção à câmera. O Comitê Olímpico Internacional (COI) chegou a se comunicar com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) sobre o posicionamento da atleta e uma possível advertência, mas voltou atrás. Rayssa, que é evangélica ainda levava uma cruz no colar durante suas competições.
A decisão de proibir símbolos religiosos nas Olimpíadas foi tomada no ano passado, pelo Ministério de Esportes da França, e impactou esportistas muçulmanas, que preferiram desistir de participar da competição por serem proibidas de usarem o Hijab.