Por Jennifer Camargos, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

A importância de haver representatividade no mundo do esporte, sobretudo nos Jogos Olímpicos, é indiscutível. Revisita o valor e a força da diversidade; incentiva as gerações futuras do esporte, e claro: incentiva o público a acompanhar cada vez mais as modalidades e os atletas. 

No quesito representatividade de pessoas com deficiência haverá um acontecimento histórico em Paris: a atleta paralímpica brasileira Bruna Alexandre, será a primeira a disputar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no mesmo ciclo.

No entanto, em se tratando de espectadores com deficiência, a representatividade não basta. É preciso haver acessibilidade. Do contrário, como alguém poderá se sentir representado sem ser de fato incluído na experiência incrível que é assistir a uma olimpíada? Sem conseguir entender o que se passa durante as competições? A representatividade dá lugar ao desânimo e à frustração em acompanhar o evento.

Para pessoas com deficiência que irão acompanhar as competições presencialmente, haverá audiodescrição e tablets com tela sensível ao toque em seis locais destinados a esportes com bola, mas será que existe o mínimo de recursos de acessibilidade nas transmissões brasileiras?

‘’Não tem legenda. Assisto tentando entender o máximo que consigo. Mas confesso que a falta de acessibilidade tira um pouco meu foco, aí para isso não acontecer, preciso ouvir a TV num volume extremo, mas eu não gosto de volumes altos. A melhor solução é ver pelo celular e conectar o Bluetooth. Porém, eu gosto de ver pela TV com a minha filha, mas como ela assiste sem som?” Disse Maiara Muniz (@uaimaiara), surda, ex atleta amadora de futebol e fã dos Jogos Olímpicos, em entrevista ao NEC. 

“Acompanhar as Olimpíadas é uma experiência de sentimentos conflitantes porque tem a emoção por você estar acompanhando um esporte que você gosta, mas também existe o sentimento de ‘ficar de fora’ por não entender jogadas ou detalhes importantes. As narrações são focadas em pessoas que enxergam e não é considerado que existe uma parte do público que é cega ou tem baixa visão”, afirmou a esta reportagem o paraibano Wellington Feliciano (@wellflc), cego, consultor de áudio, descrição e paratleta de Judô.

Ainda de acordo com Wellington, tornar as narrações das transmissões mais descritivas e utilizar a audiodescrição em vídeos publicados é uma maneira de melhorar a acessibilidade e tornar esse momento mais inclusivo.

O grupo Globo possui os direitos da transmissão da TV aberta e dos canais Sportv (assinatura); a transmissão online, através do YouTube e do Twitch, é de responsabilidade da Cazé TV. Apesar do Globoplay, streaming da TV Globo, contar com a opção de legendas ocultas (closed caption) e audiodescrição em conteúdos originais da plataforma, não possui nenhum dos dois recursos em transmissões ao vivo. A Cazé TV também não conta com recursos de acessibilidade nas suas transmissões.