Por: Jessika Kelly

A tradição histórica e simbólica conhecida como “Trégua Olímpica” ou “Ekecheiria”, em grego, remonta aos antigos Jogos Olímpicos na Grécia. A ideia é que durante o período dos Jogos, todas as guerras e conflitos devem cessar para permitir que atletas e espectadores possam participar e viajar em segurança. Essa tradição, porém, surgiu em uma época na qual os países participantes eram apenas as Cidades-Estado gregas, ou seja, um grupo muito menor do que temos hoje. Com efeitos da globalização, não somente novos esportes foram introduzidos nas Olimpíadas, mas também outras formas de administração para a construção e condução do evento. 

Segundo o Council on Foreign Relations, no ano de 2024, acontecem diversas guerras e conflitos em todo o mundo e não estão apenas nas ligações Rússia x Ucrânia ou Hamas x Israel. A organização aponta que as ações anti-imigração da fronteira dos EUA com o México também estão na lista de locais conflituosos, com forte presença de violência. A intensificação da pressão econômica e militar da China sobre Taiwan, especialmente em torno das eleições presidenciais de Taiwan deste ano, precipita uma grave crise entre os dois lados do estreito, envolvendo outros países da região, além dos Estados Unidos. Outro exemplo é o confronto militar entre Irã e Israel, desencadeado pelo apoio do Irã a grupos militantes na região e pelo desenvolvimento contínuo de armas nucleares. Não podemos esquecer do que foi categorizado como “crise de segurança” na Ásia, desencadeada pelo desenvolvimento e teste de armas nucleares e mísseis balísticos de longo alcance pela Coreia do Norte. Além disso, existem as guerras e conflitos presentes no norte da África, no Golfo Pérsico, na península arábica e no leste da Europa. Os países envolvidos disputam, além de territórios, o controle de reservas de petróleo, gás natural e minérios fundamentais para a indústria.

Mesmo com o apoio da Organização das Nações Unidas, hoje a “Trégua Olímpica” é vista como um sonho muito distante em um mundo multipolar. Por isso, o Comitê Olímpico Internacional (COI) pode aplicar sanções e proibições aos países e deve prover a segurança aos atletas que estão participando do evento.  O banimento das Olimpíadas de 2024 da Rússia e da Bielorussia. Assim como foi informado pelo próprio  Comitê Olímpico e seu site oficial no dia 12 de outubro de 2023.

O banimento da Rússia se deu devido “A decisão unilateral tomada pelo Comitê Olímpico Russo em 5 de outubro de 2023 de incluir, como seus membros, as organizações esportivas regionais que estão sob a autoridade do Comitê Olímpico Nacional (CON) da Ucrânia (ou seja, Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia) constitui uma violação da Carta Olímpica porque viola a integridade territorial do CON da Ucrânia, conforme reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) de acordo com a Carta Olímpica.” (COI, 2023)

O COI também criou a Equipe Olímpica de Refugiados, a qual representa 114 milhões de pessoas que estão em deslocamento forçado atualmente. A equipe é formada por 36 atletas de 11 países diferentes, acolhidos por 15 Comitês Olímpicos Nacionais (CONs) e competem em 12 modalidades diferentes. Com essas medidas realizadas pelo COI, o legado das Olimpíadas vai se transformando enquanto o mundo multipolar também muda.