Por Daniel Santana

A ginástica artística vem trazendo muitas alegrias ao povo brasileiro nesta edição de Jogos Olímpicos. Em Paris, a delegação brasileira já alcançou resultados históricos como a inédita medalha no feminino por equipes e com Rebeca Andrade se tornando a atleta com maior número de medalhas em olimpíadas pelo Brasil. 

Mas, com o alto engajamento criado pelos jogos, várias dúvidas surgem. Uma delas é como funciona a pontuação para cada atleta em uma apresentação. Você sabe como as notas são distribuídas para cada ginasta? 

Atualmente, a distribuição de notas é feita por grupos de juízes que avaliam dificuldade e execução e essa forma de análise passou a ser adotada a partir dos jogos de Pequim em 2008. Antes, as notas eram dadas de forma mais tradicional, sendo o dez, a nota máxima. 

A “perfeição” em uma apresentação, com o glorioso dez, aconteceu pela primeira vez na histórica atuação da romena Nadia Comaneci nos Jogos de Montreal em 1976. 

A partir do feito de Nádia, as notas dez passaram a ser distribuídas com maior frequência, o que gerava diversos questionamentos entre público e especialistas, se a apresentação realmente merecia tamanho reconhecimento dos juízes. 

Nadia Comaneci nos Jogos de Montreal em 1976. 

Mas as mudanças no sistema só vieram a acontecer quase trinta anos depois da nota de Comaneci. Após os jogos de Atenas, a Federação Internacional de Ginástica reformulou todo o formato de distribuição de notas em 2006. As alterações já passaram a valer em 2008 na Olimpíada de Pequim. 

Logo, as avaliações se dão por meio da análise de sete juízes em dois grupos: A e B. 

O grupo A é composto por dois juízes que distribuem a nota de acordo com os pontos de dificuldade do atleta. Já o B, com cinco juízes, dão as notas avaliando os pontos de execução na apresentação do atleta. 

Quais são as diferenças entre a nota de dificuldade e a de execução? 

Dificuldade: 

Nesse ponto, é avaliado o conteúdo técnico da série dos ginastas. Em outras palavras, o valor dos elementos apresentados. Cada um dos elementos possui uma pontuação já pré-estabelecida no código.

Os dois árbitros do grupo são responsáveis por registrar cada movimento realizado e distribuir a nota final. Ambos também devem conferir se o atleta cumpriu os exercícios obrigatórios de cada aparelho, o que pode garantir até 2,5 pontos. 

Foto: Naomi Baker/Getty Images

Nos elementos não obrigatórios, os juízes selecionam as oito acrobacias mais difíceis, na disputa feminina, e as dez, na masculina, que são avaliados em categorias indo de A a I, sendo A a de menor pontuação (0,1) e I a maior (0,9). 

Por isso que na final do individual feminino, mesmo com um passo largo para trás no fechamento, Simone Biles conseguiu uma nota bem alta no salto sobre a mesa, pois foi avaliada toda complexidade dos movimentos realizados pela estadunidense no aparelho.

Um detalhe importante é que, por ser um único elemento, o salto é o único aparelho que tem um valor já estabelecido.

Execução: 

Nessa avaliação, os árbitros observam a execução de cada elemento apresentado pelo atleta. Dessa forma, é avaliado se a realização dos movimentos condiz com os requisitos do código de pontuação. Ou seja, se o ginasta em questão realizou o elemento de forma correta ou não.

Logo, a avaliação é oposta a da nota de dificuldade, que sai de 0. A nota de execução parte de 10, da pontuação máxima e o ginasta vai perdendo pontuação conforme os erros cometidos. Certamente você ouviu essa informação várias e várias vezes nas transmissões dos jogos. 

Foto: Miriam Jeske/COB

Além disso, os competidores são penalizados com alguns pontos, em situações de pisada fora da linha demarcada no solo ou no salto, por exemplo, onde uma falha considerada leve reduz a pontuação em 0.1 e uma grave diminui a nota de execução em até em 1.0 ponto.

E depois de tudo isso? 

Para fechar a nota final, é necessário a soma das duas notas. Para exemplificar, vamos usar um exemplo, uma nota de Rebeca Andrade no Pan de Santiago em 2023. 

O salto Cheng, realizado pela brasileira, é considerado um dos mais difíceis pelo código de pontuação da Federação, valendo 5,6 na avaliação de dificuldade. Em sua apresentação, Rebeca obteve 9,733 de execução, uma grande nota. Ao somarmos, ela obteve o 15,333, considerada uma excelente pontuação na modalidade. 

Durante as eliminatórias, por exemplo, a nota final é utilizada em três classificações: individuais, por aparelhos e por equipes. 

No momento, estamos vivendo todas as emoções das finais da ginástica artística em Paris, que vem fazendo o coração do brasileiro bater mais forte. E agora que você já sabe como funciona a distribuição de notas, bora torcer ainda mais pelas nossas ginastas em busca de medalhas?