Por: Julia Pinheiro

A participação das mulheres no esporte tem avançado significativamente ao longo das décadas. Inicialmente confrontadas com barreiras culturais e sociais que limitavam seu acesso, muitas modalidades eram dominadas por homens. Avanços legais e mudanças sociais gradualmente abriram caminho para mais mulheres se envolverem em atividades esportivas. No entanto, persistem disparidades significativas em oportunidades, financiamento, visibilidade e apoio em comparação com atletas masculinos.

De acordo com Juliana Antero, responsável pelo programa Empow’her, que visa apoiar mulheres em todo o mundo e aborda questões relacionadas às desiguladades de gênero nos mais diferentes setores, apenas 9% dos estudos científicos sobre esportes publicados nos últimos cinco anos se concentraram em mulheres, enquanto para homens essa proporção foi de 71%. Assim, muitas questões femininas permanecem sem uma base científica satisfatória. Apesar dessa situação, conseguimos identificar esses problemas e algumas possíveis soluções.

Atletas femininas enfrentam desafios nutricionais complexos e distúrbios alimentares, especialmente em competições de alto nível como as Olimpíadas. A pressão por desempenho excepcional e por um corpo magro frequentemente leva a práticas alimentares restritivas e preocupações intensas com o peso. Estudos, como o “Pathogenic Weight-Control Behaviors of Female College Gymnasts” (1998), de Rosen e Hough, destacaram que muitos treinadores impõem medidas de controle de peso às suas atletas, apesar de terem conhecimento limitado sobre nutrição e seu impacto no desempenho, o que contribui para comportamentos prejudiciais entre ginastas.

Além disso, questões anatômicas específicas das mulheres, como a uretra mais curta em comparação aos homens, aumentam o risco de infecções do trato urinário durante períodos de treinamento intenso e competição. A atividade física intensa pode causar atrito e irritação na região genital, facilitando a entrada de bactérias, enquanto o uso prolongado de roupas esportivas ajustadas e úmidas pode criar um ambiente propício para o crescimento bacteriano.

A menstruação também é um fator que pode dificultar a vida das atletas. Além do desconforto físico, como cólicas e fadiga, variações no desempenho e risco aumentado de lesões podem ocorrer devido a mudanças hormonais e psicológicas. Estratégias para lidar com esses problemas incluem o planejamento do ciclo menstrual para ajustar treinamentos e competições; o uso de analgésicos para aliviar dores; a nutrição adequada; o suporte de profissionais de saúde especializados; a possibilidade de uso de contraceptivos hormonais e a educação sobre esses temas, visando minimizar impactos negativos e maximizar o desempenho atlético durante períodos menstruais.

Em matéria publicada no portal O Globo em 2024, a ginecologista Caroline Maitre fez um comentário sobre o assunto. “Não há necessidade de ficar envergonhado com o seu ciclo. Ele faz parte do desempenho, assim como a nutrição ou o treinamento”, diz a médica.

Um aspecto ainda envolto em preconceitos é a questão da gravidez e maternidade no esporte. Enquanto a maternidade é uma experiência pessoal transformadora, pode temporariamente afetar a participação competitiva das mulheres. A falta de políticas adequadas e apoio institucional pode resultar em penalidades ou discriminação, como rescisões de contratos ou falta de suporte durante e após a gravidez. Apesar desses desafios, exemplos como Cornelia Pfohl-Mölling, que competiu nos Jogos Olímpicos de 1976 no lançamento de dardo enquanto grávida de seis meses, Kristie Moore, a primeira atleta grávida a participar do curling em 2010, e mais recentemente, a atleta Na Hafez, que competiu na esgrima grávida de sete meses nas Olimpíadas de 2024, demonstram que a gravidez não deve necessariamente limitar a participação das mulheres no esporte.

Nos últimos anos, as Olimpíadas têm implementado diversas medidas para promover a saúde das atletas femininas. Estas incluem garantir acesso a serviços médicos e de saúde adequados, como cuidados ginecológicos e nutricionais especializados, além de programas educacionais sobre saúde menstrual e bem-estar. Também são oferecidos apoio psicológico e emocional para lidar com pressões competitivas e estressores emocionais.

Tathiana Parmigiano, ginecologista que atua nas Olimpíadas desde 2016, compartilhou ao portal R7 em 2021 sua experiência no evento: “A maioria das atletas do Time Brasil são minhas pacientes e foram acompanhadas durante o ciclo olímpico. Elas chegam aqui orientadas e cientes do que precisam fazer, preparadas para competir”, diz a médica. Ela ainda reforça que “está cada vez mais claro que o tratamento para mulher atleta não pode ser igual ao dos homens, que existem algumas particularidades que têm que ser respeitadas”.

A divisão igualitária de eventos esportivos por gênero nas competições olímpicas reforça a importância da representação equitativa e oferece oportunidades mais igualitárias para atletas masculinos e femininos, promovendo um ambiente mais inclusivo e justo no cenário esportivo global. Essas medidas não apenas incentivam a excelência esportiva, mas também contribuem para uma cultura esportiva que celebra a diversidade e a igualdade de oportunidades, inspirando futuras gerações de atletas a perseguir seus sonhos, independentemente do gênero.