Por Doiara Santos

A igualdade celebrada em número de atletas homens e mulheres (que nem chegou a se concretizar) nos Jogos de Paris 2024 não traz para a superfície as barreiras enfrentadas por mulheres da América Latina e do Caribe em suas oportunidades de pódio olímpico. Se por um lado houve lutas/avanços, por outro, notavelmente, conquistar medalhas, em geral, é raro para países e territórios da região (alguns ainda em configurações coloniais). 

As veias abertas das invasões coloniais, que incluem fatores econômicos, identitários, sociais e culturais, impactam a conquista de direitos sociais das mulheres nesta região, tais como educação e, também, o acesso e desenvolvimento do esporte. As mulheres de “Abya Yala” compartilham em sua origem e experiências as dificuldades de países e territórios assombrados pela “colonização forçada” e escravidão, que objetificaram e subalternizaram seus corpos, desumanizando-as em estruturas históricas de opressão peculiares. 

Abya Yala? Se perguntou? Pois bem, esta é a forma como povos originários da Colômbia e do Panamá nomearam a região. Ou seja, nome significado pelos povos daqui antes da “chegada” de Cristóvão Colombo e dos europeus.

O processo de “colonização” é um fato histórico que já teve o sentido de passividade desmistificado. A tal harmonia era audaciosa/perversa com os verdadeiros colonizadores da região (indígenas), desde o processo de aculturação (processo violento de grupo ou povos que passaram por modificações de sua cultura, costumes, hábitos, etc.), até os dias atuais. O significado desse corpo era deturpado, objetificado e, a história ainda carrega um forte contexto dessa colonização. As mulheres da América Latina e do Caribe, em especial, sofreram e vem sofrendo abalos nos jogos até hoje, tido como um ambiente patriarcal e masculinizados.   

Cuba e Brasil são os países que mais conquistaram medalhas na região, entre homens e mulheres, totalizando 385 medalhas até a edição de Tóquio. O Time Brasil, em Paris 2024, tem mais mulheres do que homens e registra em sua história a primeira participação épica de uma mulher sul-americana nos Jogos de Los Angeles de 1932, a brasileira Maria Lenk, que traz no sobrenome marcas de acesso ao esporte da filha de europeus.

Foto: Luis Novaes/Maria Lenk nos jogos de Olímpicos de Los Angeles 1932

A  primeira medalha de ouro que uma mulher da América Latina ganhou aconteceu em Moscou 1980, da cubana María Caridad Colón Rueñes-Salazar, no lançamento de dardo, de origem indígena e negra. 

Foto: Foto: telemundodeportes.com / Archivo

A primeira medalha de mulheres brasileiras ocorreu em 1996, nos Jogos de Atlanta, com Jaqueline e Sandra, no vôlei de praia, em dobradinha no pódio com o 2º lugar de Adriana e Mônica. Dentre elas, mulheres negras.

Foto: Pedro Valadares/Medium

Argentina e Porto Rico tiveram suas primeiras medalhas de ouro de mulheres nos Jogos do Rio 2016. Venezuela e Bermudas alcançaram este feito na última edição dos Jogos, em Tóquio. 

Enquanto falamos em “primeira vez” de conquistas de mulheres da região, pode-se constatar o quanto falta avançar nas políticas de esportes para a participação de mulheres e para o alto rendimento, políticas estas que possam atender a especificidade do ser enquanto mulher, em especial negras. 

Foto: AFP – COB/LANCE!