Por: Naiana Gaby

A meta é ousada: ser a edição mais sustentável de todos os Jogos Olímpicos. Mas, afinal, o que isso significa? Mais do que implementar medidas de mitigação ambiental, que são  muito importantes, dentro da sustentabilidade há espaço para mais. Eventos que buscam ser sustentáveis, como essa edição das Olimpíadas, procuram englobar três pilares essenciais: econômico, social e ambiental. E é nisso que o Comitê Olímpico Internacional (COI) está focado. 

O conceito de sustentabilidade vai além do que rapidamente imaginamos. O sustentável é, muitas vezes, associado somente ao meio ambiente, quando na verdade é um conceito que tem como objetivo assegurar posturas ambientais e sociais conscientes, responsáveis e regenerativas.  É uma ideia tão ampla que a Organização das Nações Unidas (ONU), criou um projeto para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Entre eles estão energia limpa e acessível, igualdade de gênero, trabalho decente e crescimento econômico e vida na água, todos previstos nos Jogos de Paris.

Foto: Equipe de País das Nações Unidas no Brasil

Iniciativas do COI e do Comitê Organizador Local visaram, desde o início, promover diversas ações sustentáveis durante as Olimpíadas. Para Jannsen Santana, pesquisador em consumo sustentável da Toulouse Business School de Paris, essa é de fato a primeira edição que consegue organizar o evento de maneira 360º. “Nessa edição todos os aspectos foram pensados, por exemplo, tivemos a igualdade de gênero. Sendo 50% dos atletas homens e 50% mulheres, isso também é sustentabilidade, mas a gente esquece”, pontua o pesquisador.

Foto: Getty Images

O engajamento dos fãs e espectadores do evento também se encaixa na pauta sustentável. A organização dos Jogos pensou em maneiras de trazer consciência e preocupação ecológica para o público que irá acompanhar as transmissões à distância, ou presencialmente, além de gerar mudanças mais abstratas. “São impactos mais subjetivos, por exemplo, vai gerar na pessoa a vontade de praticar atividade física e vai abrir uma janela de comunicação importantes dentro do conceito da sustentabilidade para que as pessoas comecem a conversar sobre esses assuntos, e esse sim já é um ganho muito grande”, avalia Jannsen.

A organização dos Jogos também se comprometeu em estimular a economia local e incentivou a oferta de alimentos de origem vegetal, originários de produções agrícolas locais. A cozinha do time Brasil é um exemplo. Em entrevista ao Mídia Ninja, Sarah Lima, chef responsável pelos pratos preparados para os atletas, conta que pelo menos 50% do cardápio é orgânico e provém de fazendas ao redor de Paris “Temos frutas, verduras, saladas e raízes que vem da fazenda. A gente evita fazer consumo de produtos que não são adequados dentro dessa lógica mais ecológica”, conta Sarah. 

Foto: João Victor Meirelles/ Divulgação
Foto: Rerodução Instagram

Todas essas ações trazem um olhar diferente do que é ser sustentável e todas são muito importantes para o bom desenvolvimento, menor e melhor impacto social em mega eventos, como os Jogos de Paris. 

Foto: Reprodução / Interim Evaluation Report on the Legacy & Sustainability Strategy of Paris 2024

Do ponto de vista econômico, podemos destacar a geração de emprego que o evento trouxe não só à Paris, mas também para outras regiões da França. A previsão é que ao todo sejam gerados mais de 70 mil empregos diretos ou indiretos, na teoria, isso ajuda a suavizar alguns problemas sociais e permite e efetivação dos direitos humanos fundamentais. 

Outras metas, essas já pensadas para reduzir o impacto ambiental, também foram divulgadas pelo COI. Emitir menos da metade dos gases de efeito estufa, comparado aos Jogos de Londres 2012, é uma das medidas mais audaciosas. Para isso a despoluição do Sena foi acelerada, bem como a plantação de árvores para diminuir o calor Europeu, instalar painéis solares para eliminar geradores a diesel e reutilizar estruturas de outros eventos, sem a necessidade de construção de novos prédios. 

Para o pesquisador Jannsen Santana, é difícil prever os impactos causados pela atividade humana dentro do maior evento esportivo do mundo. Esse comportamento humano é inerente ao que nós construímos enquanto sociedade, o que gera um pós consumo danoso ao meio ambiente. “É muito difícil transformar o comportamento das pessoas, mas quando você tem grandes eventos em que isso é pensado fica mais fácil. Por exemplo, a organização pensou em reduzir o uso de plásticos de um uso só para 50% do todo que estava previsto”, analisa. 

Futuro 

É incontestável que toda essa divulgação sobre ser uma Olimpíada sustentável em praticamente todas as ações, elevou a discussão sobre o assunto. Saber que existe um projeto, dessa magnitude, que se preocupou em trazer o tripé da sustentabilidade como uma das principais pautas, nos traz esperança que outros eventos futuros poderão seguir o mesmo exemplo. 

O otimismo é válido. “É importante lembrar que vamos poder estudar melhor como todas essas ações foram de fato desenvolvidas após a finalização do evento. Levamos um tempo para analisar os dados pós evento, mas é muito importante que esse assunto seja cada vez mais falado. De uma maneira ou de outra, já tivemos bons resultados”, afirma o pesquisador Janssen Santana.