Por: Tamara Finardi

As Yaras, como são conhecidas as jogadoras da seleção brasileira de rugby, levaram na mala para Paris uniformes que carregam um grande significado. O fardamento que as brasileiras irão vestir em busca de um título inédito, foi pensado e elaborado com design inspirado nos povos indígenas. 

São dois uniformes principais: o primeiro é o conjunto da camisa amarela e short verde, enquanto no segundo fardamento, as cores branca e verde predominam, com detalhes em amarelo. Ambos carregam grafismos indígenas e artes de animais da fauna brasileira, como boto, jiboia, mico-leão e lobo-guará.

O lançamento dos uniformes foi realizado no dia 11 de junho, no MCI (Museu das Culturas Indígenas) em São Paulo – SP, um espaço que carrega representatividade e muito conhecimento. Além de jogadoras e dirigentes da seleção, lideranças indígenas estiveram presentes, como a Secretária Nacional de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas, Juma Xipaia, e o Mestre dos Saberes do MCI, Cláudio Vera, o qual também foi responsável por mediar o evento. 

Há poucos dias da estreia das Yaras em Paris, Cláudio Vera relata que foi uma grande satisfação receber o convite para fazer parte do lançamento dos uniformes, evento que simboliza uma conexão entre o museu e o esporte. Ele, que foi presenteado com uma camiseta, compartilha a sua percepção sobre a proposta do uniforme: “o que mais marcou foi o uso do grafismo, que tem uma coisa muito profunda, faz parte do povo indígena. A presença de animais também representa os biomas.” 

Foto: Divulgação

“Os grafismos fazem parte da história da nossa resistência, espiritualidade, ancestralidade e culturalidade.”
 Cláudio Vera, Mestre dos Saberes do Museu das Culturas Indígenas, sobre a utilização destes elementos nos uniformes que as Yaras usam nesta edição dos Jogos Olímpicos.

A CEO da CBRu (Confederação Brasileira de Rugby), Mariana Miné, conta que em vários lugares do mundo o rugby tem a tradição de visualizar referências relacionadas aos povos originários. Ela destaca a importância da seleção brasileira expor a temática dos povos indígenas em eventos esportivos de grande visibilidade: “nossos uniformes, fazendo alusão às culturas indígenas, são uma forma de consolidarmos a proposta de prestarmos uma homenagem aos povos originários, que estão na matriz cultural brasileira. Os Jogos Olímpicos são o evento de maior visibilidade para o esporte, é uma plataforma privilegiada para prestarmos esse tributo.” 

Evento de lançamento dos uniformes no Museu das Culturas Indígenas promoveu integração entre atletas e conhecimentos ancestrais. Foto: Fotojump/Brasil Rugby

Yaras: identificação com o espírito guerreiro da mulher brasileira

Mariana Miné relata que, em 2012, a seleção masculina teve uma votação popular para a escolha de seu nome e foi escolhido “Tupis”. No entanto, as atletas da seleção feminina quiseram sua própria identidade e escolheram a Yara como símbolo. 

Na mitologia tupi-guarani, Yara é filha de Pajé e temida guerreira que, para escapar da morte, se refugiou nos rios amazônicos. A potência do nome Yaras reside no valor à coletividade, que é um traço comum entre a cultura dos povos indígenas e os princípios do rugby.

Próximos uniformes pretendem potencializar a representatividade

De forma inédita, as Yaras irão disputar a Copa do Mundo de Rugby XV Feminino em 2025 na Inglaterra. Após vencer a Colômbia na disputa classificatória, as brasileiras se consagraram como a 1ª seleção feminina da América do Sul a conquistar vaga direta para o mundial da categoria. Para este momento especial, um novo uniforme está sendo planejado, desta vez, elaborado por artistas indígenas, conforme explica Mariana Miné: “estamos iniciando um trabalho de escolha de artistas indígenas para desenharem o uniforme, com o Museu nos indicando alguns nomes. Queremos que seja um uniforme carregado de significados e ser desenhado por artistas indígenas o tornará muito especial”.

Desafios das Yaras em Paris

No Brasil, apenas a equipe feminina conquistou vaga para Paris 2024. Conforme o CBRu, a categoria feminina do Rugby Sevens conta com 12 seleções, divididas em três grupos. As duas primeiras colocadas de cada grupo e os dois melhores terceiros no geral, avançarão às quartas de final. Serão três dias de jogos femininos no Stade de France, o principal estádio parisiense. 

Grupo A: Canadá, China, Fiji e Nova Zelândia

Grupo B: África do Sul, Austrália, Grã-Bretanha e Irlanda

Grupo C: Brasil, França, Estados Unidos e Japão

Abaixo, jogos com horário de Brasília:

28/07 

12h Brasil x França | 15h Brasil x Estados Unidos

 29/07

10h Brasil x Japão | Quartas de final e Semifinais de 9º lugar, das 15h às 18h

30/07

Semifinais de 5º lugar, 09h30 a 10h30 e Semifinais de Ouro de 10h30 a 11h30 | 

11h30 11º lugar | 12h 9º lugar | 13h 7º lugar | 13h30 5º lugar | 14h Bronze | 14h45 Ouro

História do rugby nos Jogos Olímpicos

De acordo com o site oficial dos Jogos Olímpicos, uma competição da categoria union masculina foi incluída pela primeira vez nos Jogos de Paris em 1900, sendo disputada também nas edições de 1908, 1920 e 1924. No entanto, após Paris 1924, o esporte foi retirado do programa Olímpico.

Em outubro de 2009, o COI votou pela introdução da versão sevens do esporte nos Jogos Olímpicos Rio 2016, abrangendo as categorias masculina e feminina.

As atletas brasileiras Luiza Campos e Raquel Kochhann, foram convocadas em todas as Olimpíadas desde que o esporte possibilitou a participação de mulheres na competição. A jogadora Raquel, que também enfrentou uma luta recente contra o câncer de mama, foi escolhida como a porta-bandeira da delegação brasileira ao lado de Isaquias Queiroz.

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