Por Lívia Brandão de Souza

Após um desabamento na comunidade de Santa Marta no Rio de Janeiro, na década de 80, o acúmulo de lixo e sujeira tornou-se cotidiano na comunidade, ainda mais com o descaso do poder público. Crescendo com essa realidade e também com a oportunidade de educação e conscientização de alguns moradores, como os irmãos Mário e Mauro Martins – dois dos líderes do projeto, o Santa Horta nasceu.

O Santa Horta é uma iniciativa focada na promoção da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável. Ele envolve a criação de hortas comunitárias, em que os moradores cultivam alimentos de forma sustentável e orgânica, a fim de comercializá-los depois. Assim, o projeto ajuda na rentabilidade e empregabilidade da população, abrindo novos caminhos e oportunidades de vida. Também, aumenta a qualidade de vida no morro, com a disponibilidade de produtos orgânicos e saudáveis, reduzindo a insegurança alimentar.

Foto: Santa Horta

“O desafio começa quando se trata de uma comunidade”, essa foi a frase utilizada por Mário quando questionado sobre os principais desafios do Santa Horta. Isso reflete uma realidade árdua e sem amparo, enfrentada pelas comunidades do Rio de Janeiro. Santa Marta, localizada no bairro de Botafogo, é uma das favelas mais conhecidas da cidade. Fundada na década de 1930, a comunidade é lar para cerca de 6.000 pessoas que convivem com desafios diários como a falta de infraestrutura adequada e serviços públicos. Além disso, Mauro destacou que o projeto carece de visibilidade e doações, considerando também que não conseguiram oficializar um CNPJ ainda. Até chegar a fase atual, a iniciativa passou por muitos processos. 

O primeiro passo do projeto foi retirar o lixo de um terreno baldio presente na comunidade. Depois, começou a fase de plantio, o que expôs um grande problema da iniciativa: o financiamento. Os líderes do Santa Horta começaram doando os alimentos para os moradores do morro, mas isso não gerava renda para reinvestir no projeto. Assim, era preciso que eles investissem do próprio bolso para dar continuidade. Para resolver isso, procuraram alternativas para a problemática e decidiram, por fim, vender os produtos da horta.  

Foto: Santa Horta

Além disso, a iniciativa possui parceria com a Enactus UFRJ, “os pés que sustentam o Santa Horta” como definido por Mauro. A Enactus é uma organização internacional que incentiva estudantes universitários a desenvolver projetos de empreendedorismo social para melhorar a sociedade e promover a sustentabilidade. Assim, a instituição ajuda no gerenciamento da horta e financeiramente, trazendo novas oportunidades e positividade. Além disso, essa parceria promove uma maior atração de atores no projeto, como a Embrapa. 

Iniciativas como a Santa Horta são inspiradoras e devem ser reproduzidas, melhorando o ambiente e a vida das pessoas. Para Mário e Mauro, transformar Santa Marta em um local limpo é um grande sonho, mas, para além disso, eles querem levar essa semente a outras comunidades. Projetos como o Santa Horta precisam receber investimentos ou se tornar políticas públicas. O governo e sociedade devem cooperar, expandindo iniciativas que promovem sustentabilidade, educação ambiental e qualidade de vida. Incorporar essas ideias nas agendas políticas é essencial para garantir um impacto duradouro e construir um futuro mais justo e sustentável para todos.