Debate sobre o filme ‘Para Onde Voam as Feiticeiras’ ressalta a importância da união LGBTQIAPN+
Papo aconteceu durante a programação da SEDA SP
Por Monalisa Santana
No último domingo (7), Liliana Bernadi (Lili), que é atriz, diretora e crítica de cinema, mediou o primeiro debate da SEDA – Semana do Audiovisual após a exibição do documentário “Para Onde Voam As Feiticeiras”. Além de uma plateia engajada, estavam presentes os convidados Eliane Caffé, Beto Amaral, Thata Lopes e Ibirá Machado.
Eliane e Thatá trouxeram detalhes sobre como a ideia de fazer o filme surgiu
O debate iniciou com Lili citando a fala de Bethania Maia, que também participou da programação no SEDA: “As minorias são maiorias menorizadas”, e relaciona o filme com a importância de alianças com a frase do ator Mariano Mattos Martins na estreia: “Aliança não é sobre consenso, é sobre trabalho”. O filme uniu coletivos de trabalhadores sem teto, LGBTQIAPN+, negritude e indígena.
“A gente tinha terminado de fazer um outro filme que se chama “Era o hotel Cambridge” que foi feito dentro de uma ocupação, seguindo um pouco desse eco, a gente continuou no movimento de luta por moradia, a liderança decidiu ocupar outro espaço que hoje é a Nove de Julho do MSTC, e a gente foi junto e lá eu conheci um grupo, porque era a primeira vez que o movimento estava trazendo pra junto do ato de ocupar pessoas LGBTQIA+ e foi ai que conheci a Thata, a Fernanda , eles eram um grupo né”, responde Eliane Caffé.
Um processo descoberto junto e por todos, da criação à difusão
Thata comenta que o projeto começou entre 20 a 25 pessoas e Eliane complementa sobre a forte participação feminina no filme e o processo de desenvolvimento: “Surgiu a ideia de fazer esse filme, eu convidei o Beto, a Carla Caffé que não está aqui, a outra diretora, e a gente partiu pra fazer. O filme foi todo feito através de oficina também, muito parecido com a metodologia que a gente tinha feito no Cambridge né, então um filme que se escrevia no dia a dia, com a participação muito forte das manas na construção das cenas, então eu acho que ele é um filme polifônico”.
A palavra aliança foi frequente durante a conversa e mostrou que independente de para onde as feiticeiras voam, elas irão juntas. “Essa construção de alianças é exatamente o que acontece na construção do filme. A minha luta não caminha se a do outro não caminhar” diz Thata Lopes, lembrando de como iniciaram o projeto divididos por serem de grupos distintos e depois entenderam as diferentes necessidades e dificuldades sobre perspectivas individuais e coletivas. Beto recorda da frase da personagem Helena “A gente tem que se unir, se não a gente vai morrer”, contando que dialogar entre os diferentes grupos foi um desafio mas que concretizar o filme foi um grande prazer.
Lili aborda os dispositivos e linguagens utilizados e Beto relembra emocionado “Teve pessoas que interagiram cantando, foi bonito, mas o que mais me marcou foi o grau de preconceito contra corpos trans… No pior ponto foi quando a gente tentou interagir com o Pastor Henrique Vieira e os pastores evangélicos da praça da Sé, e ali, a violência que vocês viram na tela, ao vivo foi bem pior”, contando que avançaram com armas brancas contra o grupo.
Para Thata, foi marcante como o grupo de indígenas foram ignorados enquanto conversavam e cantavam “As pessoas passavam como se não tivesse ninguém ali.”, contando que isso mostra como a sociedade enxerga esse grupo.
Sobre a distribuição pela Descoloniza Filmes, Ibirá revelou que recebeu o filme em 2019 e que devido ao momento pandêmico e ao governo que não contribuía com políticas públicas para o audiovisual, só conseguiram lançar em 2023. Para ele o processo de distribuição com debates após as sessões e disponibilizar o filme em streamings viabiliza um pouco mais o acesso ao conteúdo pelo público que ainda enfrenta barreiras.
Uma questão que o público trouxe foi o tempo de preparo entre os atores, citando a sinergia dos mesmos, Thata responde citando nomes que já convivia há muitos anos antes do filme e pessoas que só conheceu durante. Beto conta que tiveram um ano com diversos encontros para conhecer “as manas” para desenvolver o roteiro e mecanismos de interação, três semanas de pré- produção onde eles definiram que deveriam gravar todo o processo a partir daquele momento pois queriam registrar o que chamou de “Energia vital e honesta”.
Beto conta como foi sua experiência pessoal das filmagens que ocorreram durante o auge da pandemia do COVID-19 em 2020
No encerramento, ao serem questionados sobre suas perspectivas para o futuro no audiovisual, Beto menciona sobre seu processo criativo durante a pandemia no filme exibido na SEDA e do filme “Diamantes” que dirigiu com Daniela Thomás e Sandra Corveloni. “Para mim foi uma maneira de resistir, criar imagens de resistência muito urgente”, Beto complementa afirmando querer paz para poder focar na escrita de sua ficção, fazendo menção a política do período em que iniciou os projetos.
Ibirá pensando em distribuição destaca a importância de políticas públicas para produções mais diversas pensando nas formação, acesso do público e dinâmicas de alcance de curtas e longas-metragens. Ele brinca e diz que se considera utópico mas que precisa acreditar em algum lugar para poder seguir. O debate termina com agradecimentos pelo espaço de fala que fomenta o cinema e o seu papel na sociedade brasileira.
Curtiu? Você pode assistir o debate completo no canal da Cine NINJA: